domingo, 18 de maio de 2008
O ENSINO E EDUCAÇÃO NOS NOSSOS DIAS
Temos acompanhado, por dever profissional, as transformações que têm vindo a acontecer ao nível do ensino. Nas poucas vezes que dedicamos atenção à nossa actualidade, verificamos com tristeza e desagrado, as alterações de forma e conteúdo, que a reforma imposta no ensino tem vindo a causar entre os docentes do ensino básico e secundário, assistindo, por outro lado, de forma quase incrédula, à forma impávida e serena com que as instituições de ensino superior têm sido postas em causa pela equipa do actual Ministério da Educação.
Numa reflexão que nos vem acompanhando há alguns dias, decidimos colocá-la à discussão de outros interessados nestes assuntos. As dúvidas assaltam-nos logo quando se colocou a questão de saber porque razão os professores em início de carreira têm que realizar uma prova de ingresso. Só é possível concluir uma coisa: as instituições de ensino superior que formam os professores não são credíveis para o nosso Ministério da Educação. Nós sabemos que os titulares da equipa do Ministério da Educação, são professores do ensino superior, mas não sabemos se têm ou tiveram a seu cargo a formação de professores. Provavelmente não. Mas há universidades e faculdades que há muito tempo o fazem. Sentir-se-ão confortáveis com a desconfiança que sobre eles recai na formação que ministram aos futuros professores?
Curiosamente, sobre esta questão ouvimos poucas reflexões de importância aos docentes unversitários, excepto a opinião do Prof. Doutor Reis Torgal, a que já fizemos referência aqui, e mais recentemente, o Prof. Doutor Amadeu Carvalho Homem no seu blog pessoal colocou alguns problemas com que nos identificamos e levantou todo um conjunto de questões importantes que ainda não encontraram resposta por parte das entidades que (des)cuidam do nosso ensino, quando afirma, a propósito da entrevista da actual Ministra da Educação, Doutora Maria de Lurdes Rodrigues, na RTP:
"[...] a governante afirmou, para quem a quis ouvir, que iria consagrar o melhor do seu esforço para que fossem evitadas as retenções, ou seja, as reprovações, no sistema de ensino sob a sua tutela. A entrevistadora perguntou-lhe, logo de seguida, se isso iria significar o fim do processo das avaliações. A conspícua Senhora fez uma pausa, em esforço, e acabou por responder qualquer coisa de parecido como “depois se vê”, ou como “ainda não sei, mas…”. Para que não sobrassem dúvidas a ninguém, informou que a sua filosofia de escola é “inclusiva”, procurando distingui-la da escola “do passado” (???), que referiu como “selectiva”.
Salvo o devido respeito, com a Educação de um Povo não se brinca. Nem esse mesmo Povo pode ser submetido a certa casta de “experimentalismos”, no sistema de ensino, denunciador de mentalidades especiosas, ainda que as mesmas se autoproclamem como assaz “vanguardistas”, “modernas” e “deveras inteligentes”."
"O carácter “inclusivo” a que se reporta a detentora da pasta da Educação seria eventualmente defensável ( e, mesmo assim, com grandes reservas! ) para aquilo que se decretasse ser uma escolaridade obrigatória, precedendo esta, em alguns anos, a frequência de uma formação de acesso a títulos profissionais ou a cursos superiores. Dito assim, com esta ligeireza e nonchalance, com este sentido de generalidade, com esta latitude de “inclusão”, soa-nos a um truísmo, digno de Sancho Pança ou do Anão dos Assobios. E mesmo que tal se pensasse, aconselharia a prudência mais elementar que esse pensamento, vindo de quem vem, não fosse levado à Praça Pública com tamanho desplante. O estudo constitui um esforço. A aprendizagem significou desde sempre (e irá continuar a significar) – por muito que isto custe à pedagogia do facilitismo e da festarola – uma disciplina, uma exigência de concentração, uma mobilização de energia mental e psíquica. Daí que o estudante comum, entregue a si mesmo e ao simples império do seu hedonismo, sinta a tentação de evitar ou iludir a tarefa de aquisição de saber que sobre ele impende. Vir uma governante declarar, com tamanho impudor, perante toda uma colectividade nacional, que a sua filosofia “inclusivista” aborrece os processos de avaliação e sonha com a sua supressão é o mesmo que empurrar esse estudante para a inércia, para o desprezo pela Escola e para a desqualificação do conhecimento. Foi como se a Drª Maria de Lurdes tivesse incitado muitos dos discentes do ensino sob a sua tutela a remeterem-se à pior das cabulices, que é aquela que se assume sem vergonha."
"Mas existe uma outra importantíssima implicação. É que, prescindir tão “generosamente”, tão militantemente, de processos verdadeiramente selectivos de avaliação dos conhecimentos é conduzir ao patamar dos Institutos Politécnicos, das Universidades, das Escolas de Formação Profissional, de todas as Instituições terminais dos processos de ensino e de aprendizagem, é conduzir aí, com um arzinho de troça ou de cinismo, uma coorte de castrados mentais, de inaptos intelectuais, de madraços habituais e de irresponsáveis contumazes. Se a Senhora Ministra conhecesse verdadeiramente o país onde governa (???), saberia que a massa de estudantes que desagua em tais Escolas já é, neste preciso momento, suficientemente romba e ignorante para dispensar mais este empurrão da sua lavra. Há candidatos que chegam aos cursos técnicos, científicos ou literários num calamitoso, deplorável e gravíssimo estado de impreparação. Há toda uma Colectividade a saber que assim é – talvez exceptuando a prestimosa Ministra …
Se vencerem os seus desejos, teremos amanhã electricistas que não serão capazes de unir dois fios sem fazerem um feérico curto-circuito, canalizadores que deixarão todas as torneiras prontas para o espectáculo da inundação, engenheiros que planearão casas prontas a cair, médicos que darão garantias de certidões de óbito aos doentes, literatos que não saberão interpretar, sequer, as instruções das cabines dos elevadores, etc., etc."
Um conjunto de reflexões com que nos identificamos e que só lamentamos que não encontrem mais adeptos ao nível do ensino superior, até porque, não tenhamos quaisquer ilusões, a realidade das transições automáticas já não anda muito longe de nós, mas, mesmo assim, o português continua entretido, na espuma dos dias, a procurar antes saber se o Primeiro-Ministro fumou durante a sua viagem de avião à Venezuela. Pobres de nós e da nossa comunicação social que (se) alimenta estes fait-divers!!!
O primeiro é que é verdadeiramente um problema para a sociedade portuguesa se pronunciar alto e bom som. Até porque os senhores professores do ensino superior que formam futuros docentes vão começar a sentir, também eles, os problemas de enfrentar alunos que até ali nunca viram limitado o seu percurso escolar e, como serão já adultos, não aceitarão de ânimo leve que naquele momento lhes imponham um travão às ambições mais ou menos realistas que sempre lhes foram permitidas.
Será que a "Lei das Rolhas" ainda continua em vigor? Ou pior ainda, será que ninguém está preocupado com o futuro da escola e do ensino em Portugal?
A.A.B.M.
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