segunda-feira, 23 de junho de 2008

ESTATÍSTICA DA INSTRUÇÃO PRIMÁRIA (1864)



Neste inquérito, trazido a público em 1864, foram também avaliados os professores envolvidos. Assim, dos 1687 professores avaliados "segundo o zelo demonstrado pelo ensino" observava-se o seguinte modelo:

- 172 professores demonstravam muito zelo;
- 1141 professores manifestavam zelo suficiente;
- 264 professores eram tidos como pouco zeloso;
- 110 professores tinham uma situação desconhecida.

Analisando, percentualmente, verificava-se que 10% dos docentes eram considerados profissionais muitos zelosos da sua função. Cerca de 67% alcançaram um patamar suficiente e, pelo menos 16% dos docentes, eram considerados profissionais pouco zelosos. Existiam ainda quase 7% dos docentes que não obtiveram avaliação por razões que não foi possível apurar.

Seria este sistema que, em certa medida, inspiraria o actual Ministério da Educação a realizar este novo modelo de avaliação da classe docente? Provavelmente, muitos dos actuais mentores deste projecto nem sequer tinham conhecimento da existência deste modelo. Outra questão importa ser clarificada, quase século e meio depois, ainda haverá quem acredite que esta avaliação trouxe resultados significativos ao sistema de avaliação existente nos finais do séc. XIX? Ele foi estudado em pormenor para se poder retirar todas as conclusões que permitam maximizar as melhorias a introduzir no sistema, ou tudo deve ser, como parece agora regra, para tentar mostrar resultados de qualquer forma, nem que para isso seja necessário garantir as transições de forma quase automática.

Estas e outras explicações vamos encontrar daqui a alguns anos, quando a geração que agora experimenta esta "sensação de absorção" por parte dos docentes, chegar aos patamares mais elevados do nosso sistema de ensino e alguns dos proponentes forem confrontados com a dura realidade da ignorância, facilitismo e laxismo que andaram a estimular entre muitos estudantes.

O sistema de ensino tem sido e será num futuro próximo um sistema piramidal. Os problemas que se causam agora nas bases do sistema vão fazer-se sentir anos depois no topo da pirâmide. Os educadores republicanos, que defendiam uma educação nova para formar uma geração civicamente activa e democrática, devem estar muito desiludidos com rumo da educação em Portugal, porque o problema da cidadania apesar de ser conteúdo curricular não deixa de ser uma miragem, num sistema que permite sempre a transição ao longo do percurso escolar.

Foto: Sala de desenho, Casa Pia, 1900 - por Alberto Carlos Lima, in Arquivo Fotográfico

A.A.B.M.

1 comentário:

Anónimo disse...

gostei muito desta investigação. passei em tempos por aqui para recolher elementos sobre a maçonaria.
a minha simpatia vai sobretudo para Manuel Brito Camacho.otro alentejano, Eusébio Leão, era irmão do Ramiro que tinha loja de tecidos no Chiado.
hoje já não sou republicano. não suporto um sistema de incapazes que deixa morrer de fome os seus contribuintes e apaga 8 séculos de história
"que a terra lhe seja leve"
PQP