terça-feira, 10 de junho de 2008
IN MEMORIAM DE FRANCISCO MARTINS RODRIGUES (1927-2008) - IV PARTE
In Memoriam de Francisco Martins Rodrigues – IV Parte
A FAP e o CMLP (1964), organizações nascidas de ruptura ideológica e política com o PCP [veja-se o doc. proclamação da FAP: "O caminho da insurreição anti-fascista e da liberdade, s.l, 1964" ou a Revolução Popular, Outubro 1964, nº1] e sem sólidas bases de apoio constituídas no "interior" do país, não tinham uma estrutura organizativa regular para o trabalho político que ambicionavam: reconstrução do PCP e ser guia da frente nacional anti-fascista. A entrada clandestina em Portugal dos três mais destacados militantes do CMLP (aqui, anteriormente, referidos), visava organizar e dotar a organização em Portugal dessa rede "revolucionária".
Como foi referido, João Pulido Valente, a 21 de Outubro de 1965, foi preso numa casa da Av. da República [por denúncia de Mário de Jesus da Silva Mateus, militante da organização e informador da PIDE], seguindo-se [segundo "Uma nota da PIDE", in jornal República, 24/02/1966, p. 15] a prisão de Sebastião Martins dos Santos [operacional da FAP na Margem Sul], João Evaristo de Jesus Martins [operário], Sebastião dos Santos Silva [estudante], Manuel Armando Jimenez Gonzalez Quirós (1939-1975) [Manuel Quirós, ex-PCP, militante do CMLP, foi professor do ensino técnico, foi preso político de 1965-69 (saiu da cadeia por doença), militou depois do 25 Abril no PCP(R). Dirigiu e traduziu diversas obras marxistas-leninistas (maoistas) para a editora Maria da Fonte e fundou a revista "Que Fazer?". Morre a 25 de Outubro de 1975], Victor Manuel Pinto Catanho da Silva e José Luís Machado Feronha [estudante].
No seguimento da "execução" do denunciante e "agente provocador" Mário Mateus [ocorrida no dia 26 de Novembro de 1965 - segundo o que é referido via Plenário da Boa Hora, in República, 13/05/1970, p. 16 - e não no princípio de Dezembro como dissemos, na "Quinta da Fronteirinha, próximo do Casal do Broco, Belas"], perante a debilidade organizativa do CMLP, Francisco Martins Rodrigues, a 30 de Janeiro de 1966, é preso "quando realizava um encontro conspirativo com Acácio Pinto Barata de Lima" [cf. "Nota da PIDE", jornal República, ibidem]. Seguiu-se a detenção do militante da FAP, João da Natividade Figueiredo, condutor do carro [cujo proprietário, Saúl Fernandes Nunes, posteriormente também é detido - idem, ibidem] que transportou para Belas os militantes do CMLP e a 14 de Fevereiro, é preso Rui d’Espiney. A tipografia da organização foi localizada a 19 de Fevereiro [é preso o seu "arrendatário" José Manuel P. de Carvalho Vilar] e a militante Rita G. G. d’Espiney [esposa de Rui d’Espiney] é, do mesmo modo, detida, tendo-lhe sido apreendido documentos e armamento variado [ibidem]. Fernanda Ferreira Alves Martins, o francês Jean Bernard Sanvoisin [presumido "correio da FAP"] e o advogado de FMR, Joaquim Monteiro Mathias são, do mesmo modo, presos [cf. Pimentel, Irene Flunser, "A História da PIDE", 2007, p. 183]. As fraquezas organizativas e conspirativas da organização, a "incapacidade de resistência dos seus militantes perante a polícia" [Correia, ob. cit.], a prisão dos seus elementos principais e intermédios, levam à decapitação do CMLP, "que apenas tinha conseguido atingir alguns sectores operários da margem sul e da cintura industrial de Lisboa" [cf. Costa, Ramiro da, "Elementos para a História do Movimento Operário em Portugal. 1820-1975", II vol, Assírio e Alvim, 1979, p. 201 – Nota: Ramiro da Costa era o pseudónimo de José Alexandre Magro, já falecido, que foi um importante militante da OCMLP e, depois, do PCP(R)], ficando no exterior [Paris e Bruxelas] um pequeno grupo ou dito "comité do exterior". Será via este comité que se publicará o Revolução Popular nº7 [Agosto de 1966], anteriormente referido.
O movimento marxista-leninista, mesmo com o reagrupamento de alguns dos militantes do CMLP [ao todo 13] na chamada I Conferência do CMLP, em Janeiro de 1967, [curiosamente dá-se nessa conferência o afastamento (ou cisão) de alguns dos seus militantes - de nomes clandestinos Álvaro, Gomes, Octávio, Pedro e Saraiva - que via um panfleto denominado "Uma Fraude” (datado de Janeiro de 1967), tecem vários considerandos sobre a "luta ideológica" a seguir, referindo que "sempre se tentou impedir a reestruturação da direcção no interior", e apresentando como principal instigador desse facto um "antigo membro do Comité do Exterior", dizendo que "tem de terminar a fraude representada pelo grupo direitista que falam no estrangeiro em nome do proletariado português"], será caracterizado por constantes fragmentações, divergências e crises permanentes, que nascem de intrigas, lutas pelo poder ou mera luta pessoal [Correia, ibidem], a par de uma "verborreia" ideológica tortuosa e por vezes caricata. Ter-se-á que esperar até aos anos 70 para que no interior do país e em resultado das eleições de 1969, da crise económica, de uma maior consciencialização político-social [em que o Maio 68 marca um lugar especial] e, principalmente, da guerra colonial, para ver surgir novas organizações que tentam reunificar a corrente marxista-leninista [falaremos em próximos posts dessas organizações]
Nota: a foto, acima, com os três milItantes da FAP/CMLP - Francisco Martins Rodrigues, João Pulido Valente e Ruy d'Espiney -, foi retirada, com a devida vénia, da Fundação Mário Soares.
[a continuar]
J.M.M.
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