domingo, 6 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte II)



A sua adesão ao Partido Republicano em 1907 vai conduzi-lo à via revolucionária, dentro do partido. Adpotando esta postura, cria dentro do partido um clima de alguma tensão, porque alguns dos mais destacados membros deste grupo político defendiam uma posição eleitoralista dentro do partido e ambicionavam tomar o poder através da via democrática e com o apoio popular. Outros, pelo contrário, não acreditavam ser possível chegar a implantar a República em Portugal, porque o regime monárquico nunca deixaria de tentar manter o poder a todo o custo, mesmo que as eleições fossem muitas vezes resolvidas através da famosas "chapeladas" ou do "carneiro com batatas" bem regado, que tornava os eleitores, em muitas regiões do país, dóceis cordeirinhos nas mãos dos influentes caciques locais.

Estas duas correntes dentro do Partido Republicano confrontaram-se por várias vezes com intrigas e jogadas políticas que só a unidade face à necessidade de implantar um novo regime impedia as cisões entre os republicanos. José Relvas adopta, desde que assume publicamente a sua adesão ao Partido Republicano, a defesa da via revolucionária (desde Maio de 1907, que se realizavam reuniões de conspiradores, defensores da implantação da República, na Casa dos Patudos, em Alpiarça), enquanto outras personalidades como Teófilo Braga defendiam a via eleitoral para chegar ao poder.

Apesar de ser surpreendido com o desenrolar dos acontecimentos, em particular com a questão do regicídio em 1908, o que terá provocado algum atraso no movimento revolucionário, porque alguns republicanos defenderam nessa altura um período de tréguas com o regime monárquico. José Relvas chega a estabelecer contactos com figuras próximas da família real onde essa hipótese chega a ser aflorada, já que em reunião realizada em casa de Bernardino Machado foi formulado esse pedido de trégua por parte dos republicanos que deveriam passar a integrar também a plataforma liberal. Porém, esta proposta não avançou porque os monárquicos a recusaram. Esta proposta chegou a ser discutida no Congresso de Coimbra do Partido Republicano, tendo Afonso Costa por proponente.

A divergência de posições entre José Relvas e Bernardino Machado foi assumida, pelo menos desde 1909, porque o primeiro enveredou pela via revolucionária enquanto o segundo optou sempre pela eleitoral. No fundo, esboçavam-se já aqui dois dos três grandes grupos que iriam emergir após a implantação da República: de um lado, José Relvas próximo do grupo do jornal A Luta, dirigido por Brito Camacho e, por outro lado, Bernardino Machado e Afonso Costa próximos do jornal O Mundo e que, segundo Carlos Ferrão, nunca terão trabalhado para provocar a revolução que conduziu à implantação da República.

[em continuação]
A.A.B.M.

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