quinta-feira, 17 de julho de 2008

JOSÉ RELVAS (Parte IV)


JOSÉ RELVAS (Parte IV)

Quando estava na viagem por alguns países da Europa [França e Inglaterra], para garantir o apoio à causa republicana que preparava a revolução, enviou uma missiva ao seu amigo João Chagas onde explicava algumas das acções que desenvolveu juntamente com Magalhães Lima. Assim, escreveu José Relvas:

Não foi sem grande dificuldade que eu resolvi anuir à publicação duma nota oficial, e por duas razões: a primeira porque a orientação da junta consultiva se tinha pronunciado no sentido de uma simples missão de contacto, embora por último tivesse inclinado para nos deixar árbitros do que mais conviesse fazer; segundo porque, não sendo eu na realidade um político receei colaborar num documento em que pudesse ver-se a intenção de depreciar por qualquer forma o País.

A nota foi muito cuidada e revista por vários modos. Por último pedi a Jean Bernard que a lesse e verificasse bem se haveria nesse documento uma afirmação, ou qualquer palavra, que se prestasse a uma desagradável interpretação. Afirmou-me terminantemente que não via outra coisa que não fosse um alto sentimento patriótico. Então, e, visto que sem essa nota, muito pouco se faria, resolvi anuir à publicação, pensando ainda que só comprometia a responsabilidade do partido republicano, afirmando o seu propósito de manter todos os compromissos internacionais, legalmente tomados por Portugal.

Não sei como o partido vai receber essa resolução; se a não aprovar, que ao menos nos conceda que procedemos com a melhor intenção.
[...] [Correspondência Literária e Política com João Chagas, vol. I, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1957, p. 156-157]

Nota-se nestas afirmações a necessidade de justificação dos actos de uma missão que procurava garantir o apoio que o País iria necessitar após a implantação da República. Para tal, os emissários do partido republicano pareciam estar hesitantes quanto às acções a tomar, porque tinham indicações iniciais para um determinado tipo de tarefa, mas que com o evoluir dos acontecimentos internamente conduziu à tomada de um conjunto de decisões que podiam ultrapassar a missão para a qual tinham sido mandatados.

Outro dos aspectos relevantes, nesta carta, é que permite ver a preocupação sincera deste republicano. Por um lado, a preocupação em não fazar nada que pudesse prejudicar o País, porque externamente para garantir o reconhecimento era necessário assumir a manutenção de todos os compromissos já estabelecidos por Portugal. Por outro lado, afirmava claramente a sua condição de não político, embora momentaneamente envolvido activamente na arte de tentar governar um país.
Nas suas Memórias Políticas, vol. I, Relvas afirma que havia três pontos fundamentais na acção desta missão: evitar contactos com sectores especualtivos da economia que podiam assumir propósitos sectaristas; manter afastados os partidos avançados da Espanha; finalmente, procurar conseguir o apoio da opinião pública moderada em França e Inglaterra, objectivos que parecem ter sido alcançados com a publicação da "Nota Oficiosa", elaborada pelos emissários republicanos, em vários jornais diários da França, Bélgica, Itália, Brasil, Estados Unidos da América e Inglaterra.

No regresso a Portugal, em 17 de Julho de 1910 [??], intensificam-se as actividades secretas conducentes à preparação da revolução de Outubro de 1910. Houve múltiplas movimentações e mesmo tentativas malogradas de implantar a República. Concomitantemente, as reuniões preparatórias sucediam-se no consultório de Eusébio Leão e as divergências entre as personalidades republicanas acentuavam-se. Porém, exteriormente essas divisões não tinham visibilidade porque as eleições gerais, realizadas em Agosto de 1910, obrigavam a cerrar fileiras para garantir credibilidade junto da opinião pública portuguesa.

[em continuação]
A.A.B.M.

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