CARTA DE JOAQUIM DE CARVALHO A JOÃO DE BARROS
21-VI-931
Meu Exmo. e Prezado Amigo
Venho agradecer-lhe, com ânimo penhoradíssimo, a generosidade com que tratou o meu artigo de Hist.[ória] do Reg.[imen] Rep.[licano]. Foi escrito sob a ditadura, daí o encadeamento de factos e ideias num sentido beligerante, e uma ordenação diversa da que ditaria uma época de paz. Dissimulei a erudição, e afastei-me mesmo por vezes; em todo o caso, sem vaidade creio que trabalhei sobre o inédito, e cheguei a algumas conclusões que oxalá sejam directivas para investigações particulares. (...)
Chego a pensar que a queda da ditadura por uma revolução militar seria um crime nacional. Encadeava-nos, de novo, à farda, não havendo forças humanas que nos libertassem dessa coisa horrível que foi o pronunciamento militar - Sá da Bandeira, Saldanha, Machado Santos e os Liberatos Pintos, esteios da ditadura. A ditadura, levando este processo ao paroxismo, deve matá-lo com a sua queda e morte. Se não fossem as vítimas que pedem reparações e justiça, não deveria ser esta a nossa atitude? É admirável que este movimento de conjunção; mas confesso q[ue]me irritou ver tanto general e almirante na direcção suprema. É a reincidência no erro do século XIX e no erro da 1ª República que tivemos. Renovo os mais gratos e cordiais agradecimentos, e nunc et semper mande o seu amigo e ad.[mirador].
Joaquim de Carvalho
[excerptos de uma carta de Joaquim de Carvalho a João de Barros, publicado em Cartas Políticas a João de Barros, com pref. selecção e notas de Manuela de Azevedo, Col. Temas Portugueses, INCM, Lisboa, 1982 p. 398-399]
A.A.B.M.
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