domingo, 16 de novembro de 2008

IN MEMORIAM JOÃO MARTINS PEREIRA (1932-2008)


João Martins Pereira (1932-2008)

"Como poderá um intelectual adoptar como critério a emancipação dos outros, se a sua própria inteligência não está emancipada?" [João Martins Pereira, No Reino dos Falsos Avestruzes. Um olhar sobre a política, A Regra do Jogo, 1983]

No passado dia 13 de Novembro faleceu João Martins Pereira, uma figura fascinante e uma "referência que não morre" [cf. Eduarda Dionísio, Público, 15/11/08] entre aqueles que o(s) discurso(s) de Abril (ou o seu imaginário espaço) soube apaixonar. Extraordinário pensador, sempre iluminado e empenhado na eterna "questão do poder" do estado e do seu jogo, interrogando e reflectindo à esquerda o rasto da "esquerda", a sua experiência, o seu repensar ou a sua incontornável "crise", João Martins Pereira – um "teimoso" utópico – não deixou, por isso mesmo, de pagar com o silêncio que sobre si se abateu, afinal o risco da sua profunda liberdade.

Engenheiro de profissão, professor no ISCEF, "engenheiro fabril e de projecto, ensaísta de fundo, governante efémero [secretário de estado do IV Governo provisório de Vasco Gonçalves em 1975, a convite de João Cravinho], jornalista acidental, estudioso da história do capitalismo português e de economia industrial, investigador desse mistério que é como pôr uma economia de inovação ao serviço de uma política de liberdade, fundador do Movimento de Esquerda Socialista (MES) e independente contumaz, marxista heterodoxo e não dogmático que nunca foi comunista nem católico, sartriano revolucionário e radical e conversador emérito" [José Vítor Malheiros, in P2, Jornal Público, 15/11/2008], João Martins Pereira, aliás João Bahuto Pereira da Silva, escreveu e colaborou na Seara Nova, O Tempo e o Modo, Vida Mundial, revista Abril, jornal Combate, e foi director-interino do semanário Gazeta da Semana [Ano I, nº1 (1 de Abril 1976) ao nº31 (3 Dezembro 1976), mais um nº especial a 15 Janeiro 1977] e director do jornal mensal Gazeta do Mês [nº1, Maio 1980 ao nº3, Julho 1980].

Obras: As instalações da aciaria da Siderurgia Nacional, Lisboa, 1963 / Portugal 75. Dependência externa e vias de desenvolvimento, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1975 / Pensar Portugal hoje, Lisboa, Dom Quixote, 1971 / O socialismo, a transição e o caso português, Bertrand, 1976 / Sistemas económicos e consciência social. Para uma teoria do socialismo como sistema global, Inst. Gulbenkian de Ciência, 1980 / Indústria, ideologia e quotidiano. Ensaio sobre o capitalismo em Portugal, Porto, Afrontamento, 1983 / No reino dos falsos avestruzes. Um olhar sobre a política, Lisboa, A Regra do Jogo, 1983 / O Dito e o Feito. Cadernos 1984-1987, Lisboa, Salamandra, 1989 / À esquerda do possível (textos de combate) [coord. c/ Francisco Louçã e João Paulo Cotrim, Lisboa, Colibri, 1993 / Indústria e Sociedade Portuguesa Hoje, Porto, Página a Página, 1995 / As PME industriais em números, IAPMEI, 1996 / Para a história da indústria em Portugal (1941-1965), Lisboa, ICS, 2005.

J.M.M.

Sem comentários: