quinta-feira, 27 de novembro de 2008

LITORAIS. REVISTA DE ESTUDOS FIGUEIRENSES



A Associação Doutor Joaquim de Carvalho, da Figueira da Foz, lançou no passado dia 20 de Novembro, no decorrer da II Tertúlia Joaquim de Carvalho, o nº 9 da Litorais. Neste número do segundo semestre de 2008, podem encontrar-se os seguintes artigos:

- Paulo Archer de Carvalho, A escola nova que Joaquim de Carvalho frequentou o Collegio Lyceu Figueirense (1902-11); p. 7-30;

- Miguel Real, Joaquim de Carvalho (1892-1952) - Um liberal heterodoxo; p. 33-64;

- Cândida Ferreira, O Tempo da Saudade; p. 65-80;

- Artur Barracosa Mendonça e José Manuel Martins, Notas políticas sobre Joaquim de Carvalho; p. 81-88.

No primeiro artigo, Paulo Archer acompanha o movimento da Escola Nova e a influência que este movimento exerceu na Figueira da Foz através do Colégio Liceu Figueirense, instituição onde Joaquim de Carvalho fez a sua formação escolar. Constata-se que era "uma escola elitista e dispendiosa"(p. 11), que "atrai cada vez mais meninos ricos de longe" (p. 12), mas "com a República, o Collegio Lyceu Figueirense, entra em colapso"(p. 19). Entre 1911 e 1914, o Colégio Liceu vive em "itinerância", porque o seu director José Luís Mendes Pinheiro se vê compelido a mudar com frequência de local de residência, acabando por retornar à Figueira da Foz em 1914, porque entretanto se assiste ao eclodir da guerra na Europa central. O Colégio transforma-se por decisão da diocese de Coimbra, a partir de 1935, num seminário menor.

Paulo Archer conclui de forma lapidar "A formação filosófica de Carvalho e o desenvolvimento metódico duma obra pioneira não arrancaram na Figueira. Mas da escola nova terá nascido e se terá consolidado o amor pela liberdade a um dos poucos filósofos que por ela verdadeiramente se bateu na primeira metade do século XX". Um contributo significativo para se compreender melhor a formação de Joaquim de Carvalho e o papel que nele desempenhou a corrente educativa da Escola Nova.

Por seu lado, Miguel Real apresenta-nos um texto sobre o pensamento liberal de Joaquim de Carvalho. Considerando-o herdeiro dos movimentos racionalistas, Miguel Real, enquadra-o nas ambiguidades que um conjunto de autores da mesma época viveram, mas sempre numa linha comum de combate "contra o conservadorismo nacionalista e o espiritualismo filosófico, seja monárquico constitucional, seja integralista, seja católico tradicionalista" (p. 34). Teria sido a "alma burguesa" de Joaquim de Carvalho que o conduziu à retirada da vida pública "resguardando-se assim de borrascas, exílios e desempregos, sofridos por todos os seus amigos racionalistas" (p. 34). Reconhece também a dificuldade em sistematizar o pensamento de Joaquim de Carvalho, embora destaque, seguindo Pina Martins, a tendência para "os grandes vultos reformadores do espírito filosófico da época moderna, bem como a galeria de pensadores heterodoxos de origem portuguesa" (p. 41).

Segundo Miguel Real, Joaquim de Carvalho evoluiu do jacobinismo inicial para um liberalismo, republicanismo e agnosticismo crescentes. Analisando a sua intervenção política, considera que o filósofo reconheceu a "total contradição com a oligarquia dirigente do Estado - era inevitável o confronto, que só poderia acabar com o esmagamento do elo mais fraco" (p. 53) - ou seja o próprio Joaquim de Carvalho. Conclui lamentando o desprezo a que tem sido votada esta figura desde os anos oitenta, embora saliente o seu "racionalismo rigoroso e escrupuloso, herdeiro da escola racionalista cientificista" (p. 60) que fica como "exemplo de um dos maiores cidadãos portugueses do século XX" (p. 60).

[em continuação]

A.A.B.M.

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