domingo, 8 de março de 2009


A GUARDA - JORNAL CATÓLICO, SOCIAL E MONÁRQUICO (I)

O primitivo boletim quinzenal "A GUARDA" [nº1 (15 de Maio 1904), Guarda], "preferencialmente dirigido ao clero diocesano" [cf. Jesué Pinharanda Gomes, 100 Anos de A Guarda, 2004], aparece no início como "semanário católico e regionalista" [ibidem] para se tornar "a ponta de lança do Partido Nacionalista (católico, social e monárquico)". Pinharanda Gomes considera-o, mesmo, como servindo de "base à imprensa católica" de antanho

[refere a esse propósito, no opúsculo já citado, os seguintes periódicos católicos surgidos: União Nacional (Braga, 1904-06, Artur Bívar); Associação Operária (Lisboa, 1905-06, posteriormente integra-se no Grito do Povo, do Porto, periódico este que sob direcção do advogado Alberto Pinheiro Torres, presidente do Circulo Católico de Operários de Vila do Conde e único deputado eleito pelo Partido Nacionalista, tem lugar de destaque na imprensa católica; cf. Filhos de Ramires, de José Manuel Quintas, 2004); União (Santarém, 1907-08, Ernesto Teixeira Guedes, ex-fundador d’A Guarda); Alerta (Bragança, 1907-08); Estrela Polar (Lamego, 1907-08, periódico fundado por Artur Bívar, que tinha como divisa "Por Deus, pela Pátria e pela Família" e que era impresso na Guarda, curiosamente na tipografia Veritas); Jornal de Lousada (1907-09); Sul da Beira (Covilhã, 1908-10); Deus e Pátria (Barcelos, 1907-10); Avante (Póvoa do Varzim, 1909-10, Josué Trocado); O Arouquense (1912)],

imprensa católica já antes impulsionada, de algum modo, pelo Conde Samodães no I Congresso dos Escritores e Oradores Católicos (Porto, 1871 – cf. AQUI), ou na singular contenda no movimento social católico entre a "legitimista" A Nação (Lisboa, 1847) e a "cartista" A Palavra (1872-1913, surgido pela Associação Católica do Porto), pela fundação da União Católica Portuguesa (1882) e o efeito dos vários Congressos Católicos realizados, na criação do Centro Católico em 1894 (concretizado por acção do jornal Correio Nacional) e na fundação dos Círculos Católicos Operários (a partir de 1898, atingindo o expressivo numero de 15, em 1903), no lançamento do CADC (Coimbra, 1901), culminando na formação do Partido Nacionalista ("Partido Católico", 1903, sob liderança de Jacinto Cândido, Jerónimo Pimentel e o conde de Bertiandos). De referir que o primeiro projecto para a criação de um "partido católico" nasce precisamente no jornal A Palavra (23 de Novembro de 1878, em artigo do Pe. José Vitorino Pinto de Carvalho – cf. Manuel Braga da Cruz, Análise Social, 1980 - AQUI).

A implantação da República fez quebrar esse movimento periodista [os ataques populares contra as associações católicas e a sua imprensa atinge um ponto alto em 1911, desde logo pelo declarado propósito que tinham de combater as organizações operárias e as suas "nefastas" influência socialistas e revolucionárias, mas acentua-se na sequência da intervenção da Igreja contra a laicização do estado - cf. Marie-Christine Volovitch, Análise Social, 1982 – AQUI], movimento que abrangia em 1900, 6 diários, 21 semanários e 10 mensários (cf. Marie-Christine Volovitch, ibidem). Até lá, há lugar para a organização do I Congresso dos Jornalistas Católicos Portugueses (Lisboa, Abril de 1905), seguindo-se o II Congresso das Agremiações Católicas Populares de Portugal no Porto (Junho de 1907), depois o III Congresso (Covilhã, Outubro de 1908), depois em Braga (1909) e o de Lisboa (1910).

[a continuar]

J.M.M.

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