terça-feira, 7 de abril de 2009


JOÃO PAIS PINTO(conhecido Abade de S. Nicolau – Porto) - PARTE I

Deixamos aqui algumas notas biográficas sobre uma figura que conseguiu algum relevo dentro do Partido Republicano, em particular por conseguir conciliar algo que era muito difícil na época, a religião católica e o pensamento positivista dos republicanos.
Estas notas foram recolhidas há já alguns anos, resultam de um trabalho de pesquisa que nunca foi publicado. Aqui apresentamos um resumo dos dados biográficos recolhidos com base no referido texto.

Os primeiros elementos contraditórios surgem quanto ao seu local de nascimento. Para uns foi Silgueiros [Portugal: Dicionário Histórico, Corográfico, Biográfico, Bibliográfico, Heráldico, Numismático e Artístico, (dir.de Esteves Pereira; Guilherme Rodrigues), vol. V, Lisboa, João Romano Torres & Cª Editores, 1911, p. 369.], para outros foi em Cabanas de Viriato [ Luís Derouet, J. Ramos , Album Republicano, Vol. I, Lisboa, 1907-1910], sendo o primeiro que nos parece mais provável, sobretudo por aquilo que nos é transmitido pela certidão de idade emitida na época.

Nasceu a 1 de Janeiro de 1855 no lugar de Casal Juzão, na freguesia de Cabanas de Viriato que era uma das freguesias do concelho de Carregal do Sal, mas terá sido naturalizado em Silgueiros.
O nome do pai era José Maria Pinto e a mãe Maria Delfina, residentes em Casal Juzão. Recebeu o baptismo na freguesia de Silgueiros a 10 de Janeiro do mesmo ano e foram seus padrinhos António Dias de Figueiredo natural e morador em Casal Juzão, e Maria Cândida, casada e moradora em Silvares [ AUC - Livro de Certidões de Idade (1834-1900), Vol. LXII, (org. de João Narciso e João Xavier), fl. 24]. Em Viseu terá iniciado os seus estudos no Seminário e tido como seu professor o famoso bispo e político de Viseu D. António Alves Martins.

Mais tarde João Pais Pinto desloca-se para Coimbra onde frequentará primeiro a Faculdade de Teologia [ Esta informação foi recolhida na obra Portugal: Dicionário Histórico, Corográfico, Biográfico, Bibliográfico, Heráldico, Numismático e Artístico, (dir. de Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues), vol. V, Lisboa, João Romano Torres & Cª Editores, 1911, p. 369. No entanto, a consulta do Livro de Matrículas, na Faculdade de Teologia e no Arquivo da Universidade não faz referência a nenhuma outra matrícula da mesma pessoa noutro curso que não o de Direito de 1878 a 1883] e mais tarde a Faculdade de Direito (1878-1883). Aí vai contactar com personalidades e ideias avançadas para a época, donde vai retirar alguns ensinamentos. Estes vão-lhe permitir mais tarde tomar posições públicas favoráveis ao republicanismo e à democracia, distinguindo também o padre do cidadão.

Em 1877 toma as ordens de presbítero e dois anos depois é-lhe confiada a missão de dirigir espiritualmente o Convento de Santa Clara em Coimbra. Em 1878 [ Cf. Livro de Matrículas da Universidade de Coimbra, Livro 101 (1878-1879), fl. 35, nº 39. Neste é possível determinar quais os exames que tinha obtido aprovação e o que aprendiam os elementos do clero em Portugal. Aprendiam as disciplinas de Português, tradução de Francês, Latim, Latinidade, Filosofia Racional e Moral, Oratória, História, Geografia e Cronologia, Geometria e Introdução à História Natural dos Três Reinos.] matricula-se na Faculdade de Direito. Nessa altura constava no seu acto de matrícula, efectuada em 2 de Outubro de 1878, uma Certidão de Idade e outra dos Exames que tinha efectuado às diferentes disciplinas que compunham o seu estudo.

Inicialmente ele possuía a categoria de capelão adjunto e só obtém a confirmação de capelão efectivo por Despacho de 28 de Janeiro de 1879. Sendo portanto a partir daí que ele se instala no Convento de Santa Clara. Esta circunstância permite-lhe dedicar-se aos estudos e às actividades pastorais. Dirige então algumas associações de beneficência e de auxílio aos pobres, especialmente a Conferência de S. Vicente de Paulo.

A Conferência de S. Vicente de Paulo foi fundada em Coimbra nos finais de 1880, impulsionada pelo Padre Senna Freitas e dirigida por Paes Pinto até 1882. Tinha como sede o antigo convento dos Grilos que pertencia a António de Forjaz. [Cf. Anónimo, “Missa e Sermão”, A Ordem, Coimbra, 14-06-1882, Ano IV, nº 396, p.4, col. 3. Cf. também Anónimo, “Festa de S. Vicente de Paulo”, A Ordem, Coimbra, 07-12-1882, Ano V, nº 420, p. 2, col. 4. Cf. também Pe. Senna Freitas, Ao veio do tempo (Ideias, Homens e Factos), Lisboa, Parceria António Maria Pereira Livraria Editora, 1908, p. 267-282. Curiosamente nunca chega a mencionar o nome de Pais Pinto que era referenciado pela imprensa da época como tendo sido o primeiro presidente da Conferência de S. Vicente de Paulo em Coimbra]. Promove também uma peregrinação de estudantes de Coimbra ao Santuário do Sameiro a 23 e 24 de Agosto de 1882.

A Peregrinação Académica ao Sameiro foi realizada com grande intervenção de Pais Pinto que dos 60 peregrinos que conseguiu arrastar, 30 eram congregados académicos de Maria em Coimbra reunidos por Pais Pinto. Apesar de os peregrinos serem em número relativamente reduzido, teve bastante impacto na população, que, segundo as notícias que A Ordem transmitiu, teria a cerca de 5000 pessoas a esperá-los em Braga. [Cf. Anónimo, “A Peregrinação Académica de Coimbra”, A Ordem, Coimbra, 26-08-1882, Ano, IV, nº 390, p. 3. col. 1]. Tendo durante este período de estudante vivido, primeiro no Bairro de S. José e posteriormente no Convento de Santa Clara.

Entre os seus colegas no curso de Direito figuram nomes Luiz Osório da Cunha Pereira de Castro, Manuel da Silva Gaio, António de Almeida, José Maria Pereira Forjaz de Sampaio, António Joaquim de Castro Feijó, entre muitos outros. Encontram-se aqui alguns nomes que se tornarão conhecidos como poetas, escritores e jornalistas.

[Em continuação]

A.A.B.M.

1 comentário:

beijokense disse...

Nasceu realmente em Casal Jusão, que é freguesia de Silgueiros. Foi baptizado na sede da freguesia onde nasceu.