sábado, 30 de maio de 2009

ABÍLIO ROQUE DE SÁ BARRETO (PARTE II)


Em 2 de Março de 1864, Abílio Roque de Sá Barreto foi novamente eleito para a Alta Venda da Carbonária Lusitana. Um dos principais objectivos desta sociedade era criar uma tipografia para o jornal Comércio de Coimbra, porque não era na altura possível continuar a utilizar a oficina tipográfica da Imprensa da Universidade. [Francisco Augusto Martins de Carvalho, Algumas Horas na Minha Livraria, Coimbra, Imprensa Académica, 1910, p. 105]. Estabeleceu-se a tipografia para enfrentar o governo do Partido Histórico, porque os proponentes desta nova tipografia eram membros do Partido Regenerador e o jornal supra referido era o órgão do partido na cidade dos estudantes.

Na década de setenta do século XIX, Abílio Roque de Sá Barreto lidera a fundação do Centro Eleitoral Republicano Democrático de Coimbra (8 de Março de 1878), acompanhando Manuel Emídio Garcia e José Falcão, professores na Universidade de Coimbra, para além Miguel Arcanjo Marques Lobo ou Feio Terenas [Lopes de Oliveira, História da República Portuguesa, Editorial Inquérito, Lisboa, 1946, p. 35]. Nessa época, os republicanos dependiam muitos dos notáveis locais que funcionavam como aglutinadores de vontades e mobilizadores de meios económicos e financeiros que também eram fundamentais. Surge então, naturalmente, como um dos primeiros candidatos a deputados pelo Partido Republicano [Fernando Catroga, O Republicanismo em Portugal. Da Formação ao 5 de Outubro de 1910, FLUC, Coimbra, 1991].

Na sua vida profissional, digamos assim, foi um dos fundadores da Companhia Edificadora e Industrial de Coimbra, em 28 de Janeiro de 1876. Esta empresa tinha por base uma deliberação da Loja Perseverança que tinha por objectivo a construção de casas para operários e propunha-se: “adquiri terrenos e prédios em bom ou mau estado existentes d’entro da área do Concelho de Coimbra ou na d’outro Concelho se assim lhe convier”; “edificar ou reedificar prédios urbanos, isolados ou em grupos, de diversos tipos e modestas dimensões, escolhendo locaes que satisfaçam a todas as condições de hygiene e de salubridade, adoptando os melhores modelos que se recomendam pela sua regularidade, beleza e conforto, e satisfação às conveniências domésticas, para as administrar por sua conta e dar d’arrendamento às classes laboriosas, ou aos indivíduos que vêm frequentar os estudos n’esta cidade”; “manter machinas, pelo motor d’agua, ou de vapor, aplicando-se à moagem de cereais, à serragem de madeiras, ao fabrico de tijolo e telha ou a outros mesteres” [AUC. Tabelião Simão Maria de Almeida. Livro de Notas nº 22 apud Fernando Catroga, “Mações, Liberais e Republicanos em Coimbra (Década de 70 do século XIX)”, Arquivo Coimbrão. Boletim da Biblioteca Municipal de Coimbra, vol. XXXI-XXXII, Coimbra, 1988-89, p. 274-275]. Esta empresa acabou por não desfrutar de grande prosperidade nem durabilidade, pois, em 1881, iniciou o processo de liquidação que só foi terminado em 1884.

Por iniciativa desta empresa foi realizada a Exposição Distrital de Coimbra em 1884, conforme refere Amadeu Carvalho Homem. A Associação dos Artista de Coimbra, liderada por Olímpio Nicolau Rui Fernandes, impulsionou a realização da primeira exposição industrial em Coimbra em 1869, que obteve um “assinalável sucesso” [Amadeu Carvalho Homem, “Ideologia e Indústria. A Exposição Distrital de Coimbra de 1884”, Revista de História das Ideias, vol. V, 1984, p. 400].

Abílio Roque de Sá Barreto foi também um dos responsáveis pela fundação da Associação Liberal em Coimbra acompanhado por Manuel Emídio Garcia, Zeferino Cândido, Correia Barata em 1874. Esta associação reflecte sobretudo o espírito anticlerical e anticongreganista que começou a desenvolver-se pela Europa, e também em Portugal, na segunda metade do século XIX. Segundo Fernando Catroga, a raiz desta associação encontra-se num conjunto de pressupostos: “tenha por fim radicar no espírito público as ideias liberais, promover a educação religiosa e liberal do povo, combater o fanatismo e o ultramontanismo”[Fernando Catroga, “Mações, Liberais e Republicanos em Coimbra (Década de 70 do século XIX)”, idem, p. 278].

A Associação Liberal de Coimbra foi apresentada em 6 de Maio de 1875, os estatutos foram aprovados em 16 de Dezembro de 1875 e a sua legalização pelo Governador Civil de Coimbra só foi conseguida em 21 de Março de 1876 e a sua instalação definitiva só foi feita em 8 de Maio de 1878. Abílio Roque desempenhou a função de procurador na comissão executiva desta associação.

Colaborou em diferentes periódicos de Coimbra, Lisboa e outras localidades e fundou, entre outros, O Partido do Povo (1878) com Feio Terenas, Emídio Garcia e Rodrigues de Sousa.

Sendo eleito para a vereação da Câmara Municipal de Coimbra em 1887, pelo Partido Republicano, juntamente com António Augusto Gonçalves e Manuel Augusto Rodrigues da Silva.

Em 1896, voltou a ligar-se ao Grande Oriente Lusitano Unido com a sua loja.

Pertenceu ao Rito Francês, mas acabou por receber já em 1898 os graus 18º e 33º do Rito Escocês Antigo e Aceite.

Faleceu em Condeixa-a-Nova a 29 de Maio de 1898.

Foto: medalha da Carbonária, retirada, com a devida vénia, do República 100 Anos

A.A.B.M.

1 comentário:

Surrealista disse...

Meus Caros amigos republicanos:
Quanto maior for a divulgação, melhor.
Por mim, podem reproduzir à vontade.
Serão sempre benvindos.
Chamo, contudo, a atenção de terem publicado o reverso.
O anverso é que é a verdadeira medalha da Carbonária.
Saúde e Fraternidade.