terça-feira, 3 de novembro de 2009

VEM AÍ A REPÚBLICA:1906-1910


Foi hoje apresentado, na Livraria Almedina/Estádio, em Coimbra, o novo livro do Professor Doutor Joaquim Romero Magalhães.

Cerca das 18 horas, juntaram-se no espaço supra referido algumas dezenas de colegas, amigos, familiares para assistir à apresentação pública de um novo título da historiografia sobre os tempos que antecederam e culminaram na implantação da República.

Joaquim Romero Magalhães, historiador reputado do período dos Descobrimentos enveredou desta vez, e ainda bem, permita-se-nos a opinião, por estudar um tema que já tinha tocado, mais ou menos aprofundadamente, noutras ocasiões. Nesta obra, que o professor de História Económica, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, começa por reconhecer logo nas palavras prévias que esta foi uma obra planeada, começada e abandonada várias vezes (p. 13). O autor reconhece que sentia uma necessidade interior porque sendo republicano e educado em meio republicano, conheço razoavelmente as vicissitudes do regime e quanto foi desacreditado por adversários e mesmo por seguidores. (...) A centralidade da cidadania é o grande contributo do novo regime. Que nunca pode ser minimizado(p. 14).

Coube ao Professor Doutor Fernando Catroga realizar a apresentação da obra. Durante cerca de trinta minutos, este especialista no período em causa, realçou, entre outros aspectos, a qualidade do texto e as perspectivas de análise que o autor procurou aprofundar. Assim, começando por analisar a obra produzida pelo autor noutros domínios historiográficos, trilhando e desbravando caminhos iniciados por Vitorino Magalhães Godinho, acaba por tocar aquela área que enformou a sua personalidade através das vivências e memórias de familiares.

Este estudo, constituído por quinze capítulos, quase todos breves, onde cada capítulo funciona de forma autónoma, mas integrado numa trama mais longa. Este período, em análise é profundamente marcado pela crescente tensão, não só entre monárquicos e republicanos, mas também entre republicanos que vão acabar por conduzir à desagregação que se conhece após a implantação da República. Por outro lado, nota-se também uma profunda tensão entre monárquicos. Eles estavam cada vez mais divididos e o rei tornou-se cada vez mais uma personalidade sem carisma para tentar rejuvenescer o regime. Mesmo as tentativas que ensaiou, em particular com João Franco, acabaram por acelerar cada vez mais a queda do regime.

Outro dos aspectos destacados na apresentação de Vem aí a República: 1906-1910 foi o facto de muitos republicanos considerarem, em particular na fase final da Monarquia, que a implantação da República era uma inevitabilidade, ou por exemplo Teófilo Braga que considerava, com base no seu sistema filosófico positivista, que a implantação da República estava inscrita na ordem da Natureza. Muitos republicanos, apesar de estarem de acordo em alguns pontos, manifestavam diferentes perspectivas sobre o regime, que depois vão estar na base dos problemas que se conheceram durante a República.

Como referiu o autor da obra, o período final da Monarquia foi um bambúrrio, em que os republicanos aproveitaram os erros e problemas gerados pelos monárquicos. Os escândalos políticos e financeiros, as constantes mudanças de governo e a falta de uma ideia que unisse os monárquicos, acabou por conduzir tanto D. Carlos como D. Manuel II para um crescente isolamento. Eram cada vez mais reis sem monárquicos que os defendessem, que os apoiassem ou os sustentassem. Essa situação, como observou Romero Magalhães e confirmou Fernando Catroga, foi notória durante o regicídio ou durante os acontecimentos de 4 e 5 de Outubro de 1910.

Uma obra que recomendamos aos nossos ledores pela actualidade e pela qualidade do texto. Muitos capítulos lêem-se rapidamente. Observa-se também a utilização segura das obras clássicas e de bibliografia mais recente, cruzando com a consulta da imprensa da época, onde se recolhem dados muito interessantes que permitem tecer um discurso interpretativo e narrativo dos acontecimentos com grande qualidade.

A não perder pelos curiosos e estudiosos da época.

A.A.B.M.

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