segunda-feira, 30 de novembro de 2009

FRANCISCO GOMES DA SILVA



Assinala-se hoje o centenário da morte de um dos republicanos históricos mais esquecidos e abandonados da historiografia da propaganda da República em Portugal.

Nasceu em 26 de Janeiro de 1853. Frequentou algumas disciplinas do liceu, tendo como um dos professores António Filipe da Silva (1841-?), e algumas do Curso Superior de Letras. Trabalhou como guarda-livros numa firma de Lisboa e depois ingressou, como funcionário da repartição da fazenda, na Câmara Municipal de Lisboa, quando esta era presidida por Fernando Palha. Exercia as funções de director geral do serviço de Fazenda Municipal quando a doença que sofria [diabetes], se foi agravando e conduziu à sua morte.
Faleceu a 30 Novembro de 1909, Francisco Gomes da Silva, na sua residência, Rua do Livramento, em Alcântara, nº 31.
Francisco Gomes da Silva pertenceu ao grupo dos fundadores do Partido Republicano, afecto à facção liderada por Elias Garcia. Começou cedo a colaborar no jornal Democracia, dirigido por Elias Garcia, aí assumiu o pseudónimo de Justus, assinando uma coluna parlamentar intitulada “Nas Galerias”. Gomes da Silva acompanhou a publicação do jornal Democracia até ao final em 1890.

No ano seguinte, dirigiu um jornal republicano de curta duração intitulado O Tempo. A partir de 1894, António Enes convidou-o para dirigir o jornal O Dia, tendo assegurado a sua direcção durante algum tempo. Com a morte de Cecílio de Sousa, Gomes da Silva assegurou a direcção da Folha do Povo. Colaborou ainda na Vanguarda.

Pertenceu à comissão da imprensa que preparou a comemoração do tricentenário de Camões (1880), enquanto membro do Centro Republicano Democrático.

Durante o Congresso Republicano, de Dezembro de 1887, passou a integrar a Câmara Consultiva do partido. Nessa ocasião, apoiou a proposta de unir o Partido Republicano à Esquerda Dinástica, dirigida de Barjona de Freitas, que foi apresentada por José Elias Garcia. Como a proposta de Elias Garcia foi derrotada e a personalidade em causa estava no ocaso da sua vida política, Gomes da Silva no congresso de Janeiro de 1891 lidera uma cisão no Partido Republicano. Com os acontecimentos desse ano (31 de Janeiro), alguns dirigentes republicanos são presos, outros exilados. Estes factos fizeram Francisco Gomes da Silva regressar à vida política activa. Preconizou uma aproximação ao Partido Progressista, conseguindo por isso a eleição para o Parlamento em 1894.

Na sequência do decreto de abstenção eleitoral dos republicanos a partir de 1895, envolveu-se numa grande polémica com Francisco Manuel Homem Cristo, que no jornal O Povo de Aveiro o acusava de manobras irregulares na Câmara Municipal de Lisboa. O processo avanço para tribunal e Gomes da Silva conseguiu a condenação do jornal republicano de Aveiro.

Foi jornalista e orador em vários comícios ao serviço do Partido Republicano. Segundo algumas notas biográficas o autor iniciou como orador num comício no antigo Teatro Price, Lisboa, onde discursou acerca da importância do registo civil. Ao longo da sua vida participou em vários comícios e conferências onde se afirmou como bom tribuno, conseguindo por isso afirmar-se rapidamente quando foi eleito como deputado ao parlamento, em 1894. Nessa ocasião, interpelou o Governo monárquico português por ter ordenado a expulsão de Nicolau Salmeron, do país.

Em 1896, volta a ser eleito deputado pelos círculos eleitorais de Lisboa, em representação das minorias.

Foi um dos participantes na conferência/banquete republicano de Badajoz, realizado em 23 e 24 de Junho de 1893,[ Ver Almanaque Republicano AQUI]
Integrou o Directório do partido juntamente com Eduardo de Abreu, Horácio Ferrari e Leão de Oliveira.

A partir de 1897, Francisco Gomes da Silva, no congresso realizado em Coimbra em começa a perder a influência que até aí dispunha no Partido Republicano. Não consegue a eleição para o Directório do partido e, em 1899, durante novo congresso, consegue ocupar uma posição como suplente do Directório.

A partir de 1906, a doença agrava-se e acaba por falecer “quase esquecido, quase sem honras de marechal do Partido Republicano”, como afirmou Feio Terenas no discurso que proferiu durante o seu funeral.

Publicou diversas obras, com destaque para Os Mistérios da Inquisição, inicialmente editado em fascículos no jornal Vanguarda e posteriormente compilado em obra única. Esta obra era muito apreciada pelos meio anticlericais e foi ilustrada com trabalhos de Manuel Macedo e Roque Gameiro.

Foi iniciado na Maçonaria, na loja lisboeta Cavaleiros de Hyram, em 1882, com o nome simbólico de Lamartine. No ano seguinte, transitou para a loja Cavaleiros da Paz e da Concórdia, também de Lisboa, onde atingiu em 1902, o grau 33, do REAA. Em 1904, torna-se membro efectivo do Supremo Conselho e exerce as funções de Grão-Mestre Adjunto (1900-1909). Entre 1906 e 1907, exerce as funções de Soberano Grande Comendador.

O seu funeral realizou-se, sendo o corpo depositado no jazigo da família de António José Moreira, no cemitério dos Prazeres. Usaram da palavra Feio Terenas, Sebastião de Magalhães Lima e Constâncio de Oliveira.

Conhecem-se ainda colaborações nos seguintes jornais:
- Pimpão, Lisboa, dir. Rafael Bordalo Pinheiro;
- António Maria, Lisboa, Dir. Rafael Bordalo Pinheiro;
- Domingo, Lisboa, dir. Manuel Pinheiro Chagas
- Revolução de Setembro, Lisboa, onde utilizou o pseudónimo Prudêncio
- Diário da Tarde, Porto [correspondente em Lisboa];
- Dez de Março, Porto [correspondente em Lisboa];
- Folha Nova, Porto [correspondente em Lisboa];
- José Estevão. Numero único comemorativo da inauguração do monumento em Aveiro. Publicação do Clube Escolar José Estêvão, Lisboa, Typ. da Companhia Nacional Editora, 1889;
- Correio da Manhã. Fundador Manuel Pinheiro Chagas. Suplemento ao n.º 3.283, de 8 de Maio de 1895, Typ. da Companhia Nacional Editora, Lisboa. 12 pag. ;
- Homenagem prestada a Theophilo Braga, Numero único, publicado pela Associação Escolar de Ensino Livre, Lisboa, 3 de Dezembro de 1899, Minerva Peninsular, 8 pag. Com o retrato do dr. Teófilo Braga.
- Maior (A) dôr humana, Coroa de saudades, oferecida a Teófilo Braga e sua esposa para a sepultura de seus filhos, Dada á estampa pela amizade de Anselmo de Moraes. 1889. Porto, Imp. Portuguesa, 172 pag.
- 14 de julho, 1789 1889 Numero único. Porto, Typ. Gutemberg, 1889, 4 pag.
- Consagração, Número único, dirigido por Fernão Botto Machado e Gonçalves Neves e dedicado ao Dr. Sebastião de Magalhães Lima, 28 pag. Com o retrato de Magalhães Lima e nas pag. 1, 12, e 17 trechos de musica litografados.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
- MARQUES, A. H. de Oliveira, Dicionário de Maçonaria Portuguesa, vol. II, Editorial Delta, Lisboa, 1986, col. 1344-1345.
- O Ocidente, Lisboa, 20-12-1909, Ano XXXII, nº 1115, p. 279.
- RAMOS, Rui, “Francisco Gomes da Silva”, Dicionário Biográfico Parlamentar, Coord. Maria Filomena Mónica, vol. 3, Imprensa de Ciências Sociais/Assembleia da República, Lisboa, 2006, p. 681-684.
- SILVA, Inocêncio Francisco da, Dicionário Bibliográfico Português.

A.A.B.M.

3 comentários:

JCapelo disse...

Excelente blog. Parabéns.

Anónimo disse...

onde encontro nome dos pais dele, irmãos e esposa?

Anónimo disse...

Foi Presidente da Comissão Directiva de O Vintém das Escolas (Missão Elias Garcia). V. António Ventura, Uma História da Maçonaria em Portugal, 1727-1986, Lisboa, Círculo de Leitores, 2013, p. 386.