sábado, 17 de abril de 2010
JOSÉ ANTÓNIO DOS REIS DÂMASO
Nasceu em Lagoa, Algarve, a 11 de Dezembro de 1850 e faleceu em Lisboa a 17 de Abril de 1895.
Aprendeu as primeiras letras com seu pai, que também lhe ensinou o latim. Continuou os seus estudos em Faro e em Lisboa. Seguiu a carreira das armas, assentando praça em artilharia, mas com pouca inclinação para a vida militar, conseguiu licença para frequentar o Curso Superior de Letras, o qual concluiu em 1887.
Colaborou literariamente na Gazeta de Setúbal, Liberdade, Distrito de Faro, Jornal dos Artistas e Correio do Meio Dia (Portimão).
Em 1883 foi nomeado conservador de primeira classe das bibliotecas da câmara municipal de Lisboa, onde alcançou bastantes simpatias.
Tomou parte no Congresso Pedagógico Hispano Português, que se reuniu em Madrid por ocasião das festas columbinas, tendo servido como secretário de uma das sessões. Nessa ocasião apresentou uma memória sobre João de Deus, que mais tarde refundiu e ampliou com a biografia respectiva. Encontrava-se já pronta para impressão com o título de João de Deus e a sua obra, quando faleceu.
Dirigiu os seguintes jornais:
Archivo Literário, Aurora Académica, Encyclopedia Republicana, de Lisboa; a Razão, de Belém.
Colaborou ainda nos seguintes periódicos:
Revolução de Setembro, Vanguarda, Lisboa, 1880; Crença Liberal, Democracia; Era Nova; Commercio de Portugal; Jornal do Commercio; Commercio de Lisboa; Galeria Republicana, Revista de Estudos Livres, Novidades, jornais publicados em Lisboa. Outras publicações: A Vitória da República. Almanaque Republicano (1895).
Colaborou ainda no Pantheon, Cancioneiro Português, Museu Ilustrado, Folha Nova, Discussão, Camões, A Semana, Revista do Norte, do Porto.
Na província colaborou:
Partido do Povo, Penafidelense, Commercio da Figueira; Povo Português, da Guarda; Emancipação, de Tomar; Defesa do Povo, de Silves; Serpense, onde publicou um conjunto de textos importantes sobre os modernos romancistas e o naturalismo, onde analisou os trabalhos de Júlio Diniz, que considerou como o precursor da escola naturalista.
Colaborou ainda com a imprensa estrangeira como:
Fígaro, de Espanha; Las Mujeres Españolas, portuguesas y americanas, de Madrid, Ecos de la Prensa Estranjera, Madrid; A Ilustration Iberica, Barcelona; em jornais italianos como: Revue Internacionale, de Florença; Cronaca Sibarita, Nápoles.
Estreou-se na Revolução de Setembro, publicando folhetins, como o Anjo da Caridade, que foi originalmente publicado em 1875 e mais tarde reunido em volume em 1877. Em 1882, publicou o livro de contos Scenographias (quadros naturalistas), e em 1887, escreveu dois estudos sobre João de Deus e o Dr. Teófilo Braga.
Recolheu as tradições e contos algarvios que forneceu ao Dr. Teófilo Braga, para os inserir na sua obra Contos Tradicionais Portugueses.
Colaborou ainda no Dicionário de Vida Prática, onde escreveu sobre os jogos infantis, acrescentando-lhe elementos sobre a tradição portuguesa.
Publicou textos nas publicações comemorativas dos centenários de Camões, Calderon e Pombal; no Álbum Literário, do Porto; Álbum Calderoniano, de Madrid; Homenagem a Pombal, do Rio de Janeiro, etc. Foi correspondente de alguns jornais estrangeiros como La Justicia e El Liberal e da revista Le Monde Poétique .
Responsável pela Biblioteca da Lapa em Lisboa.
Reis Dâmaso, na Revista de Estudos Livres vai-se insurgir contra a publicação de O Mandarim acusando Eça de ter atraiçoado o movimento. Estas acusações não eram infundadas porque de fato Eça já estava a descolar de um realismo ortodoxo para o seu estilo mais pessoal onde o seu humor e a sua fantasia se aliam num estilo único.
Desde a implantação do Realismo com a adesão de Eça que o movimento logrou um núcleo de apoiantes que se desmultiplicaram em explicar e defender o seu credo estético. Esse núcleo resvalou, regra geral, para uma posição mais extrema do Realismo, o Naturalismo, tornando-se ortodoxos e dogmáticos. Os defensores desta posição foram José António dos Reis Dâmaso (1850-1895) e Júlio Lourenço Pinto (1842-1907) autor da Estética Naturalista que pretendia ser um evangelho do Naturalismo.
Este autor é considerado uma figura secundária do ponto de vista literário e quase totalmente esquecida na actualidade.
Ao seu funeral presidiram Bernardino Machado e Teixeira Bastos, tendo discursado junto à sua sepultura Teixeira Bastos e Guilherme Santa Rita. Assinalam-se também as presenças de Brito Aranha, Cecílio de Sousa, Feio Terenas, Xavier da Silva e Alves Correia, entre muitos outros.
Reis Dâmaso tinha estabelecido ao longo da sua vida literária contactos com várias personalidades da vida cultural do seu tempo, não só em Portugal, mas sobretudo no estrangeiro. Trocou correspondência com personalidades como: Angelo de Gubernatis, Vittorio Pica, D. Rafael Altamira, Conde de Tolstoi (Leão Tolstoi), Carmen Sylvia (rainha da Roménia), entre muitos outros.
NOTAS BIOBIBLIOGRÁFICAS: [Sempre que possível, por ordem cronológica]
- Anjo da Caridade, romance, 1871;
- “A senhora Ratazzi e o sr. Camilo”, Commercio da Figueira, Figueira da Foz, 04-02-1880.
- “Os críticos de Madame Ratazzi”, Commercio da Figueira, Figueira da Foz, 22-02-1880.
- “Os críticos de Madame Ratazzi [???]”, Commercio da Figueira, Figueira da Foz, 27-02-1880.
- “No templo”, Museu Ilustrado, Porto, vol. II, 1880, p. 35-36;
- “No dia do noivado”, Museu Ilustrado, Porto, vol. II, 1880, p. 79-82;
- “Um cão”, Museu Ilustrado, Porto, vol. II, 1880, p. 149;
- “A Viúva”, Museu Ilustrado, Porto, vol. II, 1880, p. 190-193;
- “No camarim da actriz”, Museu Ilustrado, Porto, vol. II, 1880, p. 215-216;
- “No dia do Baptisado”, Museu Ilustrado, Porto, vol. II, 1880, p. 223-228;
- “Tradições poéticas no Algarve”, A Vanguarda, nº 47, 1881;
- “As manifestações democráticas”, Almanach do Século para 1882, Dir. Gomes Leal, Lisboa, Kiosque do Rocio, 1881, p. 68-71;
- Cenografias, contos, 1882;
- “O prato d’El-Rei”, Folha Nova, Porto, 20-02-1882.
- Anuário para o Estudos da Tradições Populares Portuguesas, Dir. Leite de Vasconcelos, Porto, Livraria Portuense de Clavel, 1882.
- “Tradições Populares (Colecção do Algarve): Romances” in Encyclopedia Republicana, Lisboa, Nova Minerva, 1882, pp. 154-156, 171-173, 184, prossegue com o título “Tradições Populares do Algarve: Romances”, ibidem, pp. 201-204, 215-216 e 232-237.
- “La mujer del Algarve”, Las Mujeres Españolas, Portuguesas y Americanas, Madrid, tomo III, p. 233-244.
- “El Nido (cuento de ninos)”[Trad. Blas Quito], Ilustracion Ibérica, Barcelona, 27-09-1884, Ano II, nº 91, p. 622-623.
- “Uma estátua a Saraiva de Carvalho (Estudo crítico)", Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1884, nº 1, p. 28-34.
- “Bibliografia: «O Salústio Nogueira», de Teixeira de Queirós”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1884, p. 229-234.
- “Júlio Dinis e o Naturalismo”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, Dezembro de 1884, Tomo I, p. 511-519.
- “Romancistas Naturalistas: Eça de Queirós”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1884, Tomo II, p. 73-80.
- “Romancistas Naturalistas: Eça de Queirós (conclusão)”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1885, Tomo II, p. 229-234.
- “Bibliografia: Rachilde –Francis Talman «Monsieur Vénus», Bruxelas, 1885 e Albert Savine, «Le Commandadeur Mendoza (costumes andaluces), Paris, 1885”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, p. 45-47.
- “Últimos Românticos: Camilo Castelo Branco”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1885, p. 553-558.
- “Romancistas Naturalistas: Júlio Lourenço Pinto”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1885, p. 598-606.
- “Revista das Revistas”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, p.49-52.
- “Revista das Revistas - Froebel”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, p. 103.
- “Romancistas Naturalistas: José Augusto Vieira”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, 278-288.
- “Romancistas Naturalistas: Fialho de Almeida, C. Castelo Branco, Gervásio Lobato, Alberto Braga, Lino de Macedo, Artur Lobo d’Ávila”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, p. 457-461.
- “Bibliografia: L. Tikomirev, «La Russie, Politique et social», Paris, 1886”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, p. 524.
- “Bibliografia: Edouard Dujardin, «Les Hantises», Paris, 1886”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, p. 524-524.
- “Bibliografia: Amédée Pigeon, «La Confission de Madame de Weyre”, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, p. 525-526.
- “Bibliografia: Guilherme Gama, «Prosas Simples: Impressões e Paisagens», Lisboa, 1887, Revista de Estudos Livres, Lisboa, 1887, p. 526-527.
- “La Vida Estranjera. Lisboa”, El Liberal, Madrid, 13-01-1890, Ano XII, nº 3884, p. 1, col. 4 e 5.
- “La Vida Estranjera. En Lisboa”, El Liberal, Madrid, 01-03-1890, Ano XII, nº 3911, p. 2, col. 2 e 3.
- “La Prensa Portuguesa”, El Liberal, Madrid, 26-02-1892, Ano XIV, nº 4633, p. 1, col. 3 a 5.
- “Lisboa”, El Liberal, Madrid, 06-09-1892, Ano XIV, nº 4825, p. 1, col. 5-6.
- “La miséria en Lisboa”, El Liberal, Madrid, 30-12-1892, Ano XIV, nº 4939, p. 1, col. 2.
- “Prison del Sr. Salmeron. En Lisboa”, El Liberal, Madrid, 08-10-1894, Ano XVI, nº 5464, p. 1, col. 2.
- “Republicanos Portugueses: Magalhães Lima (perfil)”, Las Dominicales del Libre Pensamiento, 16-06-1893, Ano XI, nº 562, p. 2, col. 3.
- Nova Alvorada, Vila Nova de Famalicão, 01-03-1894, nº 12, [número especial dedicado ao 5º Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique].
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
- “Dâmaso, José António dos Reis”, Portugal. Dicionário Histórico, Corográfico, Biográfico, Bibliográfico, Heráldico, Numismático e Artístico, Dir. Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, vol. III (D-K), Lisboa, João Romano Torres Editores, 1907, p. 11-12
- VIEIRA, Célia Sousa , A superação do modelo narrativo zoliano: lugares de intersecção e estratégias paródicas
- “José António dos Reis Dâmaso”,Vanguarda, Lisboa, 19-04-1895, Ano 5, nº 1377, p. 1, col. 5;
- “José António dos Reis Dâmaso”,Vanguarda, Lisboa, 20-04-1895, Ano 5, nº 1378, p. 2, col. 3.
- "José António Reis Damaso", O Ocidente, Lisboa, 05-05-1895, Ano XVIII, nº 589, p. 104.
A.A.B.M.
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