sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

CARLOS CANDIDO DOS REIS (Parte I)


Na semana em que se assinalou o nascimento daquele que foi um dos mártires republicanos da rvolução de 5 de Outubro de 1910, lembramos o Almirante Cândido dos Reis, que a toponímia republicana se encarregou de espalhar pelo País com grande prodigalidade, porque muitas são as terras onde o seu nome surge e muitas vezes poucos sabem sequer quem foi.

Carlos Cândido dos Reis nasceu em Lisboa a 16 de Janeiro de 1852, entrando como voluntário para a Armada aos 17 anos. Em 1 de Outubro de 1870 é guarda marinha. Promovido a capitão-tenente em Dezembro de 1892 e a capitão-de-mar-e-guerra em Dezembro de 1901. Em 9 de Julho de 1909 requereu a aposentação com o posto de vice-almirante. Durante a sua longa carreira na Marinha foi comandante das canhoneiras Bengo e Quanza. Comandou a Escola de Alunos Marinheiros do Porto, a Escola de Torpedos Fixos e foi comandante da 2ª e da 4ª divisão do corpo de marinheiros. Foi ainda instrutor da Escola Prática de Artilharia Naval e instrutor da aula profissional na dita escola. Foi ainda nomeado vogal das comissões de aperfeiçoamento de artilharia naval.

Apesar de uma carreira brilhante, quer no comando de vasos de guerra, quer na direcção de estabelecimentos escolares navais, é passado à reforma, no posto de vice-almirante, em 9 de Julho de 1909.

Convictamente republicano, toma parte activa na luta antimonárquica, sendo membro destacado da Junta Liberal, proferindo conferências de cariz anticlerical na Associação dos Lojistas. É o autor dos planos para a malograda 'intentona do elevador da Biblioteca', em 1908. Dessa tentativa nos dá conta Brito Camacho:

aí pela meia-noite, lívido, com um ligeiro tremor na voz, aparece-nos Cândido dos Reis, a perguntar o que se devia fazer. Respondemos-lhe que nada havia a fazer senão esperar. Mas ele era de outra opinião e francamente no-la expôs com a firmeza e decisão que punha sempre nas suas palavras.

- Não, alguma coisa há a fazer. Vou ao corpo de marinheiros e senão me estoirarem logo à entrada, venho com eles para a rua. Depois será o que for.

Respondemos-lhe simplesmente – Isso seria apenas uma loucura, se não fosse também um crime, porque toda essa gente seria fuzilada pela municipal e os regimentos continuariam aferrolhados nos quartéis.

Cândido dos Reis ficou por instantes calado numa concentração de espírito que tinha alguma coisa de terrível, porque era toda a sua alma elaborando um pensamento trágico.

- Bem nesse caso vou fazer saltar os miolos.” [Cf. Brito Camacho, “Dr. Miguel Bombarda e almirante Cândido dos Reis”, Almanaque d’A Luta, Lisboa, 1911, p. 143]


O fracasso de 1908 fez aumentar o empenho de Cândido dos Reis “na sua actividade contra a Monarquia; para ter os movimentos mais livres, e porque se tornara altamente suspeito às autoridades, passou à reforma” [Cf. David Ferreira, “Carlos Cândido dos Reis”, Dicionário de História de Portugal, vol. V, Dir. Joel Serrão, Livraria Figueirinhas, Porto, 1992, p. 266-267].

Pertencia à Maçonaria tendo sido iniciado com o nome simbólico de Pêro de Alenquer, em 1909, pelo Grão-Mestre Sebastião de Magalhães Lima e integrou a Loja José Estêvão, de Lisboa. Em 1910 atingiu o grau de Mestre [Cf. A. H. Oliveira Marques, Dicionário da Maçonaria Portuguesa, vol. II, Editorial Delta, Lisboa, 1986, p. 1217-1218.].

Após o fracasso da tentativa de 28 de Janeiro de 1908, retoma a sua actividade como conspirador, integrando a Carbonária, com o nome simbólico de Marceau. Conhecem-se as suas estreitas relações de amizade com José de Castro, o ilustre advogado que presidia à Comissão de Resistência da Maçonaria. A revolução que se preparava devia ter como chefe o próprio Cândido dos Reis.

Desde Outubro de 1909 que existem notícias do avanço da organização revolucionária militar que conduziria ao 5 de Outubro de 1910. Nela encontramos desde o início as referências a Cândido dos Reis e aos membros da Carbonária que dinamizaram as reuniões preparatórias em casa de Magalhães Lima e onde participavam António Maria da Silva, Machado Santos. Neste círculo restrito participavam João Augusto Fontes Pereira de Melo, o coronel Ramos da Costa, Afonso Palla, Amaro de Azevedo Gomes, Aníbal Sousa Dias, Carvalho Araújo, Duarte de Almeida e Castro Morais entre outros oficiais [Cf. João Augusto Fontes Pereira de Melo, A Revolução de 4 de Outubro (Subsídios para a História). A Comissão Militar Revolucionária, Guimarães Editores, Lisboa, 1912 ou ainda a agenda detalhada de João Chagas que Carlos Olavo publica em Homens, Fantasmas e Bonecos, Portugália Editora, Lisboa, 1950 ?, p. 34 e ss]

Eleito deputado pelo círculo de Lisboa, na lista republicana, em Setembro de 1910, não chegou, devido à queda do regime monárquico, a tomar assento nas Cortes. Participa activamente nos preparativos do movimento revolucionário do 5 de Outubro de 1910, sendo o responsável pela sua componente militar. Na tarde desse dia 3 de Outubro, Cândido dos Reis participou com Brito Camacho numa festa de propaganda republicana efectuada no Centro Pátria, em Algés [Cf. Brito Camacho, “Dr. Miguel Bombarda e almirante Cândido dos Reis”, Almanaque d’A Luta, Lisboa, 1911, p. 144].

[Em continuação]

A.A.B.M.

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