sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

CARLOS CANDIDO DOS REIS (Parte II)


Na tarde do dia 3 de Outubro de 1910, ao saber-se que o então chefe do governo, Teixeira de Sousa, tinha sido avisado do golpe republicano e pusera de prevenção as tropas leais à causa monárquica, a maioria dos chefes republicanos propôs um adiamento do golpe, ao que se opôs o Almirante Cândido dos Reis. Dado que era o chefe militar e principal dinamizador da revolta, a sua posição levou a que esta ocorresse. Antes dos primeiros momentos da revolta, a 3 de Outubro de 1910, o Dr. Miguel Bombarda, um dos chefes civis do golpe e senhor de muitos dos seus segredos, é atingido a tiro por um doente mental do Hospital de Rilhafoles. Com receio da descoberta da conspiração a maioria das unidades militares comprometidas no movimento não chegou a revoltar-se e muitos oficiais do exército, julgando tudo perdido, haviam abandonado o entrincheiramento da Rotunda. Cândido dos Reis, pensando estar o golpe frustrado, não quis seguir para bordo de um dos navios que estava implicado no movimento. Libertou os camaradas de armas dos compromissos assumidos e dirigiu-se ao local onde estava instalado o quartel-general da revolução. Terá procurado saber informações acerca do decurso da revolta, mas a falta de notícias concretas e a desorganização instalada terão provocado mais desespero e descrença no sucesso de mais esta tentativa de revolta dos republicanos.

Despediu-se dos oficiais da Marinha mais próximos e horas depois, cerca das 6 horas da manhã era encontrado morto na Azinhaga das Freiras, tendo-se suicidado em consequência não só dos factos, mas também do seu temperamento hipocondríaco que lhe proporcionava crises de entusiasmo e de depressão frequentes.

Pertencia à Carbonária e horas antes de ser dado início ao movimento revolucionário, apesar de parte dos conspiradores defender o seu adiamento com receio do seu malogro, bateu-se energicamente pela execução do plano tal como este havia sido delineado sem alterações ou adiamentos, tendo conseguido vingar a sua opinião.

Na madrugada de dia 4 de Outubro, embora a revolução estivesse já na rua, convence-se que tudo está perdido e suicida-se. O golpe acabou afinal por triunfar e poucas horas depois é proclamada solenemente a República do alto da varanda da Câmara Municipal de Lisboa.

A República prestou-lhe sentida homenagem. Considerado um dos mártires da revolução de 5 de Outubro, a vereação da Câmara Municipal de Lisboa, atribuiu o seu nome à antiga Rua D. Amélia em 13 de Outubro de 1910 [Cf. Maria Calado, Lisboa. Roteiros Republicanos, CNCCR, Quidnovi, Matosinhos, 2010, p. 85]

Era tido como uma pessoa prudente, mas corajosa e sobretudo com muito mérito na sua área de actividade, tendo por isso recebido vários louvores e condecorações. Apesar de ter sido agraciado com o grau de oficial da Ordem de Avis e a de Cavaleiro da Torre e Espada pelos seus feitos na marinha, foi desde muito novo um adepto republicano de firmes convicções, tendo participado activamente na luta antimonárquica.

O nome do Almirante Carlos Cândido dos Reis foi utilizado não só em ruas e avenidas, mas também para substituir o nome de "D. Carlos I"[2] no principal cruzador da esquadra portuguesa. Sobre os funerais de Cândido dos Reis e de Miguel Bombarda mereceram a publicação de um decreto, de 13 de Outubro de 1910, que procurava plebiscitar a República recentemente implantada. Os seus funerais, organizados civilmente “foram os primeiros a merecerem honras nacionais. O novo poder apoderou-se dos corpos para os homenagear, e o povo republicano da capital deu ao acontecimento uma amplitude inusitada” e acrescenta que se procurava “consagrar civilmente dois heróis póstumos de uma revolução que ali mesmo buscava o seu reconhecimento popular” [Fernando Catroga, O Céu da Memória. Cemitério Romântico e Culto Cívico dos Mortos, Minerva, Coimbra, 1999, p. 167].

O cortejo fúnebre foi longo e carregado de simbologia. Tudo foi pensado na lógica do novo regime, mostrando todo um conjunto complexo de relações e leituras ideológicas e políticas. A organização do préstito e a disposição dos vários grupos de republicanos criando uma hierarquia de valores, estabelecendo uma parada de vitória, com o desfile simbólico das forças sociais e políticas que tinham assumido o poder em Portugal. A cerimónia visava, com toda a encenação que foi preparada, procurar legitimar o poder republicano [Fernando Catroga, idem, p. 319].

Uma personalidade fundamental a história da implantação da Republica, que o Almanaque Republicano homenageia, com este pequeno tributo, na semana em que se assinala o seu nascimento, a uma personalidade que desempenhou um papel fundamental na preparação da revolta de 5 de Outubro de 1910.

A.A.B.M.

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