sábado, 27 de agosto de 2011

ANSELMO XAVIER (Parte II)


António Pinto Leão de Oliveira, Sebastião de Magalhães Lima, João de Almeida Pinto, Joaquim Trigueiros de Martel e Anselmo Xavier, foram os fundadores do jornal O Século.

Este jornal, tornou-se no mais popular jornal em Portugal, nas duas últimas décadas do século XIX. O primeiro número é de 4-1-1881, embora tenha sido publicado um número-programa em 15 de Dezembro de 1880, que conseguiu despertar grande interesse junto da população. Nos primeiros tempos, este jornal teve como redactor principal Magalhães Lima e como gerente Anselmo Xavier. Este último manteve-se ligado ao jornal até 1896, quando José Joaquim da Silva Graça comprou a maior parte das quotas nas mãos dos sócios iniciais, em particular Magalhães Lima, mas também Anselmo Xavier e Leão de Oliveira.

Em 1882, encontramos Anselmo Xavier no Centro Republicano de Lisboa, presidido por Oliveira Marreca e onde participavam também Latino Coelho entre outras personalidades.
No ano seguinte é uma das personalidades eleitas no Congresso do Partido Republicano realizado entre 18 e 21 de Junho de 1883, em Lisboa, onde integrava o denominado corpo consultivo do partido. Encontramo-lo a participar de forma activa nas actividades de propaganda entretanto desencadeadas.

As visitas de propaganda política foram um mecanismo utilizado de forma recorrente pelos republicanos, em especial Sebastião de Magalhães Lima e outros líderes do partido desdobraram-se em viagens pelo País propagando o ideal republicano em muitas terras. Um dos seus acompanhantes habituais era Anselmo Xavier. Por exemplo encontramo-los em Maio de 1883, em Évora, acompanhados por José Jacinto Nunes, onde realizaram um comício juntamente com o operário eborense António Maria de Miranda e Brito, que foi o fundador do primeiro centro republicano em Évora, com a denominação de Biblioteca Democrática Eborense. Em Novembro de 1884, acompanhado pelas mesmas personalidades percorreu o Algarve, realizando comícios e conferências e organizando o Partido Republicano na região.

Em 3 de Fevereiro de 1907, realiza-se na Praça de Touros, da então vila de Abrantes, um grande comício, a que terão assistido alguns milhares de pessoas e onde discursaram algumas das figuras mais destacadas do republicanismo português: Bernardino Machado, António José de Almeida, Brito Camacho, José Maria Pereira e Anselmo Xavier. Tudo indica que nesse comício Bernardino Machado terá feito a promessa que uma vez implantada a República, Abrantes seria elevada à categoria de cidade. Assinale-se também que nesse mesmo dia, António José de Almeida e Anselmo Xavier estiveram também na freguesia das Mouriscas, onde a sua presença desencadeou enorme entusiasmo junto da população.

Durante alguns anos viveu na sua terra, exercendo as funções de presidente da Câmara Municipal, cargo para que foi eleito em sucessivas ocasiões, continuando a defender as suas ideias republicanas, mas sem grande envolvimento na vida pública nacional. Ocupou estas funções durante mais de vinte anos.

Em 1907, Anselmo Xavier era o presidente da comissão municipal republicana de Benavente.

No dia 8 de Março de 1908, foi eleita a Comissão Distrital Republicana de Santarém que integrava os nomes de José Relvas, Dr. Anselmo Xavier, Dr. Guilherme Nunes Godinho, Dr. Ramiro Guedes e Dr. José Montez.

Em 25 de Março de 1910, realizou-se um comício em Vila Nova de Ourém, onde discursaram José Relvas, João Chagas e Anselmo Xavier. Presidiu a este comício Manuel António das Neves, natural em Alburitel, que foi um activo republicano em Ourém e mais tarde em Santarém. Os republicanos deste concelho, não sendo numerosos, desenvolveram algumas iniciativas como a criação uma escola mista gratuita e uma Liga Republicana.

Com a implantação da República, Anselmo Xavier foi nomeado Governador Civil de Santarém, cargo que ocupou por curto espaço de tempo. Foi depois deputado à Assembleia Nacional Constituinte de 1911, pelo círculo de Santarém, passando depois para o Senado.

Na Assembleia Constituinte de 1911, Anselmo Xavier propôs na sessão de 4 de Julho de 1911, alguns aditamentos a um dos artigos da Constituição sobre o funcionamento das comissões parlamentares, para que os prazos fossem cumpridos na República, ao contrário do que acontecia na Monarquia.

Enquanto senador teve uma intervenção muito centrada nos temas da educação e do poder municipal, dedicando algumas intervenções aos problemas da sua terra, Benavente, como na sessão de 8 de Dezembro de 1911, em que pede esclarecimentos sobre a situação em que se encontrava a câmara municipal que tão bem conhecia. Foi também ele que fez o elogio fúnebre de Eduardo de Abreu no Senado da República, na sessão de cinco de Fevereiro de 1912. Foram dezenas de intervenções sobre os mais variados temas que seria importante fazer um levantamento das mesmas para se compreender melhor o seu pensamento.

Com a cisão do Partido Republicano, acompanhou Brito Camacho, em 1912, na criação da União Republicana.

Foi depois nomeado comissário do Governo junto da Companhia do Niassa. Foi também o responsável pela instalação do registo civil em Santarém, tendo ainda sido colocado nessa função, mas rapidamente pediu a exoneração. Após a implantação da República existia um centro com o seu nome em Alcanena.

Anselmo Xavier foi também um forte combatente do regime monárquico através da escrita. Não só no jornal O Século de que já se falou mas também através de outros jornais como a Vanguarda e mais tarde a Luta. Mas colaborou ainda no Diário da Tarde, Porto, onde fez a sua estreia literária e no Diário da Manhã, na Galeria Republicana e em outros periódicos da época. Manifestou sempre gosto e interesse pelas letras publicando ainda poesia e deixou também uma peça de teatro O Reino de Pantana, tendo também desempenhado actividade como empresário teatral.

Surge também arrolado como uma das testemunhas de defesa de António de Albuquerque, o autor do famoso Marquês da Bacalhoa que foi julgado no tribunal de Santa Clara, em Lisboa, tendo sido defendido por Gomes Mota, qe indicou ainda como outrs testemnhas Machado Santos, João Gonçalves, Leão Azedo e Alfredo Leal, depois de ter sido acusado de participar nos acontecimentos de 27 de Abril de 1913, mas acabou por ser absolvido das acusações.

Deixou várias publicações escritas, revistas, canções ligeiras, peças de teatro. Era conhecido o seu sentido de humor, escrevia habitualmente a gazetilha política do jornal A Luta, com as suas situações humorísticas, tarefa que cumpriu quase até ao fim dos seus dias.

Pertenceu à Maçonaria, embora tenho sido iniciado em data e loja desconhecida. Pertenceu à loja Companheiros do Segredo, nº 273, de Benavente, de que foi venerável, que contava com 7 maçons em actividade em 1912.

Apreciadíssimo pela sua bondade, referem-se-lhe os mais extraordinários elogios, em especial durante os acontecimentos que sucederam ao terramoto de 1908 e que provocou avultados prejuízos na sua região, mas onde Anselmo Augusto da Costa Xavier demonstrou, através das suas acções, que constituem por certo a melhor parcela da sua existência e da sua razão de ser republicano.

Faleceu em 23 de Maio de 1915.

A.A.B.M.

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