quarta-feira, 18 de abril de 2012

18 DE ABRIL DE 1925


A revolta militar de 18 de Abril de 1925 é, geralmente considerada, como uma espécie de ensaio geral do que viria a ser o 28 de Maio um ano mais tarde. Com base no apoio da ditadura de Primo Rivera em Espanha, os revoltosos, onde destacavam Sinel de Cordes, Raul Esteves e Filomeno da Câmara, pretendiam “A reorganização e saneamento do Exército e da Marinha”, e “A rigorosa compressão das despesas do Estado pelo afastamento de funcionários em excesso”, e ainda "A justa actualização das receitas, de forma a conseguir_se o equilíbrio orçamental" onde se misturavam objetivos militares e políticos.

A conspiração que já vinha a ser preparada à algum tempo e onde pontificavam como autores da intentona algumas das figuras da “direita” em Portugal. O 18 de Abril foi, de facto, um golpe militar, com alguns civis à mistura. Tal como assinalou um dos envolvidos no movimento, Jorge Botelho Moniz, o líder da conspiração, o General Sinel de Cordes optou por centrar toda a conspiração no meio militar. A visão dominante naquele período, nos meios castrenses e conservadores, apontava como solução para o problema político de Portugal, uma intervenção redentora do Exército que poderia contribuir para solucionar a crise por que passava a pátria.

A ação do movimento constou no seguinte: os revoltosos ocuparam na madrugada de 18 de Abril de 1925 a Rotunda e, tal como acontecera com Machado dos Santos, catorze anos e meio antes, aí se entrincheiraram, cobrindo, desta feita, com as metralhadoras, as embocaduras das vias que irradiavam dessa posição. Para este golpe contavam com o apoio das seguintes unidades: 1.º Grupo de Metralhadoras, ao Grupo de Artilharia a Cavalo de Queluz, ao Batalhão de Telegrafistas, que, contudo, só às duas da tarde aderiu ao movimento, e ao Batalhão de Sapadores dos Caminhos-de-Ferro, uma unidade mítica para a direita conservadora, pois ajudara a esmagar as greves dos ferroviários dos anos de 1919 e 1920, assegurando a circulação das locomotivas e dos comboios.

Como sempre acontece nestes momentos, algumas das forças prometidas acabaram por não se revoltar, enfraquecendo de forma nítida a manobra delineada. Neste caso esteve o regimento de Infantaria 16 (instalado no Castelo de São Jorge), que deveria ocupar o Arsenal do Exército, o que acabou por não acontecer. Muitos dos oficiais de Cavalaria 2, que não apareceram com o seu regimento, de Infantaria 2, onde no dia aprazado, só estavam metade dos oficiais que se tinham comprometido com o movimento.

No total, organizaram-se na Rotunda cerca de 1000 homens, 50 metralhadoras e 8 peças de artilharia, que pertenciam ao Grupo de Artilharia a Cavalo de Queluz. Porém, Sinel de Cordes, envia como emissário dos revoltosos Vieira da Rocha, para negociar e para tentar impor o seu ultimato ao Presidente da República, Manuel Teixeira Gomes. O emissário demonstrou desde logo empatia para com os objectivos do movimento. Entretanto, no Quartel do Carmo, refugiaram-se o Presidente da República e o governo. Aí, Vieira da Rocha é demitido e Sinel de Cordes feito prisioneiro pelas tropas apoiantes do Governo. Este mobiliza as forças militares que dispõe, sobretudo quando se confronta com a inação dos militares da Rotunda, que mantêm uma ansiosa expectativa. Os militares revoltosos foram surpreendidos com a coragem e resolução por parte do Governo, nem contavam com tanta hesitação por parte da maioria dos seus camaradas que erravam na posição que deveriam tomar.

Ás quatro da tarde, garantidas algumas unidades da capital, como a do Castelo de São Jorge e com o apoio da Armada, o governo decide passar à ofensiva. Estrategicamente, a partir de Monsanto, Artilharia 3 ataca a Rotunda. Porém, porque descoberta, Artilharia 3 sofre pesadas baixas, por via da resposta das baterias da Rotunda. De Infantaria 16, vem mais fogo, com base nas tropas instaladas do Castelo de São Jorge. A situação dos sublevados torna-se cada vez mais fraca porque não conseguem descortinar se o fogo intenso a que estão expostos vem ou não do Castelo de São Jorge. A artilharia do Castelo era invisível para os revoltosos. Em simultâneo, os elementos da Armada com algumas colunas de marinheiros, uma companhia de Infantaria 16 e outra de Infantaria 11 investem pelo Largo do Rato, pela Avenida Braancamp e por Campolide atacando a Rotunda. O regimento de Infantaria 1 envolve-se nos confrontos e reforça as forças governamentais. Entretanto, outras forças como a Guarda Republicana, com forças de cavalaria e infantaria aproximavam-se também, pela Avenida Duque de Loulé e por Sete Rios.

Apesar do fogo intenso de parte a parte, as baixas mortais são poucas. Entre os revoltosos alguns ainda pensavam que o prolongamento da resistência poderia ser-lhes favorável. No entanto, na manhã de dia 19 de Abril, o governo controlava já a situação. As forças governamentais dispunham de maior poder de fogo e de mais forças. Pior, os revoltosos estão cercados e à beira de ficarem isolados. Perante esta situação pouco favorável só resta aos sublevados a capitulação, assim o fazem, na manhã de 19 de Abril de 1925.


Entretanto, a participação do operariado no combate ao movimento militar de 18 de Abril de 1925 tinha tido como resultado a deportação de numerosos militantes tanto comunistas como anarquistas para África. No entanto, a sua acção foi decisiva para conter a rebelião militar, e por outro lado, deu alento ao governo para actuar em defesa da República. Embora os militares se recusassem a entregar armas aos civis, o comportamento popular na rua conduziu ao recuo das forças militares que previamente tinham garantido a sua adesão ao movimento das direitas. Alguns dias depois, centenas de sindicalistas e de anarquistas são presos. As prisões de sindicalistas começaram logo a 18 de Abril. A 20 de Maio de 1925, na sequência do atentado a Ferreira do Amaral, houve uma segunda leva de deportados sem julgamento.

Curiosamente, em Setembro desse mesmo ano, serão levados a julgamento os oficiais implicados no golpe, tendo o promotor da Justiça, General Óscar Fragoso Carmona, declarado: «A Pátria doente manda acusar e julgar neste tribunal os seus filhos mais dilectos».
O resultado final desse julgamento é que todos os implicados foram absolvidos.

Passados poucos meses, a 19 de Julho de 1925, a revolta vem da Marinha e é seu protagonista o capitão de fragata Mendes Cabeçadas (republicano conservador). Nessa revolta as intenções expressas eram "restabelecer a ordem e a disciplina" e "libertar o País dos maus políticos e suas clientelas".

Menos de um ano depois, a 28 de Maio de 1926, o mesmo programa estará de novo na rua. Dessa vez com mais forças, e novas chefias militares: Óscar Fragoso Carmona, que absolvera os incriminados do 18 de Abril; Gomes da Costa que era general com folha de serviços recheada, herói da Índia, da África e da Flandres, passara pelo sidonismo e pela Cruzada Nun'Alvares e Mendes Cabeçadas que fora um dos heróis do 5 de Outubro de 1910, mas que ambicionava uma República diferente daquela que existia em 1925/26.

Esta não foi de facto uma revolta qualquer. A liderar o movimento de revoltosos estão alguns dos homens que farão, um ano depois, o 28 de Maio de 1926 e terão um papel destacado na ditadura militar e do aparecimento do Estado Novo.

A.A.B.M.

2 comentários:

Manuel Paula disse...

Não entendi um aspeto central da narrativa:refiro-me ao apoio popular que é dado ao Governo e consequentemente contribui decisivamente para ao seu lado, derrotar as forças conspiradoras militares e de direita civil(pré-fascista), que o pretendiam derrubar...não entendo que depois, muitos populares que apoiaram o governo, tenham sidos presos e deportados? O governo de então, não terá mordido a mão ao povo?

Obrigado! Muito obrigado e um abraço
Manuel Paula

Carlos Pinheiro disse...

O meu pai era soldado no Grupo de Baterias de Artilharia a Cavalo de Queluz e participou nesta revolução. Como perderem, foram todos levados para o Castelo de S. Jorge onde ficaram presos alguns dias. Lá de cima viram o Vasco da Gama a fazer manobras no Tejo e correu o boato que iam todos para áfrica. Afinal foram só de barco para o Barreiro a caminho de Vendas Novas onde juraram bandeira outra vez. Voltaram a Queluz e no 28 de Maio de 1926 tudo se voltou a repetir. Desta vez o Comandante era contra o Gomes da Costa e por isso perderam e voltaram para o Castelo de S. Jorge, presos de novo e lá foram para Vendas Novas onde voltaram a jurar bandeira mais uma vez. Pasado algum tempo voltaram a Queluz mas não entraram em mais nenhuma revolução digna desse nome. Era assim naquele tempo.