terça-feira, 28 de agosto de 2012

JUDITH TEIXEIRA



JUDITH TEIXEIRA, “Castelo de Sombras”, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva [ed. Autora], 1923;

JUDITH TEIXEIRA, “Nua. Poemas de Bizâncio” [capa de Guilherme Filipe], Lisboa, Livraria J. Rodrigues & C.ª, 1926, 3ª ed. [1ª ed. mesmo ano].

► “Depois de uma interessante estreia na revista Contemporânea (n.º 2, Junho de 1922; e n.º 6, Dezembro de 1922), ‘nos idos de Março de 1923 o Governador Civil de Lisboa, providencialmente sobressaltado pela alta brida de uns quantos Estudantes Católicos sedentos de mão pesada contra a Literatura Dissolvente que inundava escaparates e assim corroía os Santíssimos Costumes da Pátria Lusitana (ao tempo Republicana e Laica e Democrática), açula a polícia e faz apreender, para depois cremar, exemplares das Canções, de António Botto, de Sodoma Divinizada, de Raúl Leal, e de Decadência, duma tal Judith Teixeira – esta com direito a adjectivo personalizado: ‘desavergonhada’. (…)’ (Assim abre o editor Vitor Silva Tavares o seu prólogo à reedição & etc, em 1996, da obra integral de Judith Teixeira.

E prossegue, assim: ‘A dita cuja, não obstante o escarcéu e em rescaldo de incêndio, talvez para despistar dá à estampa um nem por isso inócuo novo livro de poemas – Castelo de Sombras – e, em Dezembro do mesmíssimo ano – ah! leoa! –, reedita o famigerado. Sublinha, pois, o desplante. Aguarde-se 1926 e teremos nas livrarias NVA, Poemas de Bizâncio: ela a dar-lhe. (…)

Dá que pensar. Porque a Kultura de Bombeiros & Clérigos – selectiva como convém neste País de milionários que é também o mais pobre e analfabeto da Europa – regista a polémica da “Literatura de Sodoma”, Botto, Leal, Pessoa, e omite, discrimina, branqueia, aquela que viu igualmente um livro seu em labareda e foi afinal a mais perseguida e enxovalhada de quantos. (…)

Nem rasto de memória de uma mulher que em 1925 funda, dirige e edita uma revista – Europa – de alto gabarito cosmopolita e eclético 'modernismo'. Vilipendiada pela moral vigente (que não era só, não senhor, a dos jovens prosélitos do fascismo lusitano; afinava pelo mesmo diapasão uma Lisboa de chapéu-de-côco republicano, possidónia e reaccionária no ideário pequeno-burguês como nos hábitos e costumes sexuais), viu-se, em 1927, sentenciada de morte artística pelo grão-sacerdote José Régio. Assim: “Todos os livros de Judith Teixeira não valem uma canção escolhida de António Botto” (…)

Núa surgira em 1926, no decurso do golpe militar ditatorial do 28 de Maio, e serviu aos fascistas como bombo de festa no patriótico Revolução Nacional, periódico que será coadjuvado na alarvidade tanto por Amarelhe n’O Sempre Fixe como por Marcello Caetano na Ordem Nova, definindo-o este último – obviamente com a sabedoria inquisitorial dos traumas higienistas da vontade de poder – como ‘papelada imunda, que empestava a cidade’.
" [via Livraria FRENESI]

SOBRE JUDITE TEIXEIRA: Judite Teixeira [Wikipédia] | Judith Teixeira [Biografia] | EVROPA [curioso Blog sobre Judith Teixeira, escrito por Martim de Gouveia e Sousa] | A poesia sáfica de Judith Teixeira | O lirismo Homoerótico de Judith Teixeira

J.M.M.

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