quinta-feira, 30 de agosto de 2012

JOSÉ DO VALE (Parte I)


Nasceu em 1880, mas não foi possível apurar concretamente onde, nem quem foram os seus progenitores.

Começou por ser empregado comercial até entrar na redacção do Pais, jornal diário republicano, dirigido por Alves Correia.

Foi militante socialista no Centro José Fontana, em Lisboa, de onde viria a ser expulso em 1899.

Manifestando algum à vontade e habilidade tornou-se jornalista, primeiro alinhando em publicações de pendor socialista, mais tarde anarquista e republicano. Para Rocha Martins, José do Vale era “um jornalista boémio, mergulhado no anarquismo e agasalhado pelos republicanos, redactor do Mundo e a quem todos os juízes de instrução prendiam ao menor tumulto. Ele ía, ficava no cárcere, com a sua luneta encavalada no nariz grosso, a face torrada, a cabeleira encaracolada e revolta, passava lá uns dias e regressava à mesma, à sua propaganda que se fazia entre o baixo povo, bebendo e convertendo” [Rocha Martins, D. Manuel II (Memórias para a História do seu reinado), vol. II, Sociedade Editora «José Bastos», Lisboa, s.d., p.190].

Em 1900, integrando o Círio Civil Heliodoro Salgado, participou de forma activa no Congresso Anticlerical que se realizou entre 29 e 31 de Julho de 1900, nas instalações da Associação dos Descarregadores de Mar e Terra, situada na rua Vinte e Quatro de Julho e organizado pela Federação dos Círios Civis. Na primeira sessão do congresso assumiram a presidência Cândido Moraes da Silva e como secretários Xavier Faia e Carlos Gonçalves. Logo nessa sessão existem registos da sua intervenção no congresso, devido à presença de 16 elementos da autoridade, que impediam o normal decurso dos trabalhos e os congressistas votaram contra essa falta de liberdade [“Congresso Anticlerical”, Vanguarda, Lisboa, 30-07-1900, Ano V (X), nº 1340 (3285), p. 1, col. 5].

Em Setembro de 1900, assina a mensagem endereçada ao Congresso Internacional do Livre Pensamento, realizado em Paris, a 17 de Setembro de 1900, onde o representante da Associação do Registo Civil de Lisboa foi Alves da Veiga.[César Nogueira, Notas para a História do Socialismo em Portugal (1871-1910), Col. Portugália, Portugália Editora, Lisboa, 1964, p. 253-254].

Tomou publicamente posição contra a Guerra dos Bóeres, participando na Conferência Contra a Guerra Sul-Africana, realizada em Lisboa, nos dias 27 e 28 de Março de 1902, na Associação Comercial dos Lojistas, numa organização conjunta entre a Federação Socialista Livre e o Círio Civil Estrela. Os participantes nesta conferência eram reconhecidamente republicanos entre destacavam-se Augusto José Vieira, José do Vale e Francisco Homem Cristo, entre outros.

José do Vale passa a colaborar regularmente com o jornal O Germinal, que se começou a publicar em Setúbal sob a direcção de Martins dos Santos, contando este periódico com a colaboração de variados autores republicanos, socialistas e anarquistas intervencionistas, como o biografado. Este semanário que se começou a publicar em 4 de Outubro de 1903, recebia colaborações de Bartolomeu Constantino, Fernão Boto Machado, Campos Lima, Carlos Rates, França Borges, Augusto José Vieira, Miguel Bombarda, Heliodoro Salgado, Teixeira de Pascoaes e Emílio Costa. Este jornal passou, em 1906, a fazer parte do Grupo de Instrução Germinal, divulgando as iniciativas do Teatro Livre, instituição que tinha sido fundada em 1902 e onde participava também José do Vale [António Ventura, “Um republicano heterodoxo: Fernão Boto-Machado”, Revista de História e Teoria das Ideias, vol. 27, Coimbra, 2006, p. 302].

[Nota: a fotografia de José do Vale, apesar de não ter a melhor qualidade, foi a possível. Retirada de Hermano Neves, Como Triunphou a Republica, Letra Livre, Lisboa, 2010, p. 73 (ed. fac-similada)]

A.A.B.M.
[Em continuação]

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