domingo, 24 de fevereiro de 2013

A ORGIA – GOMES LEAL


A ORGIA – Publicação mensal: política, litteratura, costumes, por Gomes Leal, Lisboa, Typographia Popular [ed. Autor], 26 de Fevereiro de 1882, 98-II pags.

Primeiro (e único) número: Carta a El-Rei de Hespanha Sobre a União Ibérica

Na sequência do Tricentenário Camoniano, que impulsionou as ideias republicanas em Portugal [cf. Gomes Leal Sua Vida e sua Obra, de Álvaro Neves e Henrique Marques Júnior, Editorial Enciclopédia, Lda, Lisboa, 1948], foram abertos Centros Republicanos, publicam-se periódicos [O Século sai a 4 de Janeiro de 1881, com o poeta-panfletista fazendo parte da sua redacção], fazem-se conferências e comícios. Gomes Leal acompanha todo esse movimento de propaganda republicana.

Escreve “A Fomes de Camões” [1880], publica o “Bisturi”, é orador em comícios promovidos pel’O Século, publica o folheto (hoje raríssimo) “A Traição”, que tem de imediato o apoio entusiástico de “um grupo de operários” [ibidem], sendo preso “pelos crimes injúrias por escrito dirigidas ao rei pública e directamente tendo por fins excitar o ódio contra a sua pessoa e autoridade, e excitar o povo á guerra civil e à revolta” [in “Última Hora", artigo do jornal “O Século de 5 de Julho de 1881 – aliás Gomes Leal …, ibidem, pp 62-63]. A agitação dos Centos Republicanos não se fez esperar, protestando contra a sua prisão. O “António Maria”, pela pena de Bordalo Pinheiro, consagra-lhe o seu nº7 [Julho].   
  
Gomes Leal está, portanto, no Limoeiro. Entra altivo, aristocrata, de “fraque, flor petulante na lapela, fumando o predilecto charuto, de chapéu declinado sobre o lado direito” [ibidem]. Escreve uma curiosa Carta aos “correligionários” e publicada n’O Século. Os republicanos, em sua homenagem, respondem com a abertura do Centro Republicano Gomes Leal [Rua das Farinhas, nº1].

Gomes Leal “prevarica” novamente, para irritação dos “burgueses” e “irritação” ministerial. Escreve (1881) o opúsculo “O Herege. Carta dirigida a D. Maria Pia de Sabóia acerca da queda dos Thronos e dos Altares”, seguido do folheto satírico (1881) “O Renegado. A António Rodrigues Sampaio. Carta ao velho pamphletario sobre a perseguição da imprensa”. Quando sai da prisão é de novo preso pelo Arrobas [governador-civil] por um soneto onde o poeta faz dela chacota pública e satiriza. Ganha o recurso em tribunal, para regozijo dos admiradores e amigos. 

A 23 de Janeiro de 1882 na Sessão Solene do I Aniversário do Club Henriques Nogueira, o poeta Gomes Leal é um dos participantes. Logo no dia 2 de Fevereiro usa da palavra num Comício em Alcântara, contra o Tratado do Comércio.

No dia 26 de Fevereiro sai a público a publicação “A Orgia”, panfleto revolucionário de Gomes Leal [ibidem] do qual só saiu o 1º número, dedicando uma Carta a El-Rei de Espanha sobre a União Ibérica. 
 
Depois disso …. bem, depois disso, temos um Gomes Leal que [citando Bordalo Pinheiro, no “António Maria”] “tanto o apodaram de satânico, que Gomes Leal, sentindo-se um dia muito madalena, pôs o gibão de fogo e os calções de tarlatana e as asinhas de jaspe dos querubins, fez-se alado às regiões místicas (…)” e “virou a casaca”.

FOTO via FRENESI

J.M.M.

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