"Evocando Domingos da Cruz, figura de relevo de "A Voz do Operário"
“A Voz do Operário”, notável associação fundada por operários tabaqueiros, comemora amanhã 130 anos de vida. É uma instituição que marcou profundamente a nossa História, proclamando a instrução, a solidariedade e os princípios democráticos.
Exemplo ímpar de cidadania, “A Voz do Operário” foi feita por sucessivas gerações de homens e mulheres que nela se empenharam desinteressadamente. Um dos seus mais notáveis dirigentes foi Domingos da Cruz (1880 - 1932), 2º tenente do Serviço de Saúde da Armada. Esteve muitos anos no Hospital da Marinha, onde foi bibliotecário e arquivista, leccionando instrução primária a grupos de marinheiros. Era Oficial da Ordem Militar de Cristo (1922).
Republicano desde muito novo, foi deputado pelo círculo de Gaia em 1915 – 1917 e 1919 – 1921. Entre 1917 e 1923 foi chefe de gabinete de vários ministros do Trabalho, das Colónias e do Comércio.
Como jornalista, trabalhou em O Século, O Mundo e A Pátria, e dirigiu A Província de Angola, em 1925 e 1926.
Mas foi no campo do associativismo que Domingos da Cruz deixou uma marca mais profunda. Fundou a Cooperativa dos Sargentos da Marinha, participou nos congressos mutualistas de 1917 e 1935 e dirigiu a Federação das Associações de Socorros Mútuos entre 1915 e 1930.
Publicou diversos livros e opúsculos sobre temas ultramarinos, mutualistas, de instrução e questões económicas e sociais. Foi um sócio destacado da Sociedade 'A Voz do Operário', para onde entrou em 19 de Agosto de 1911. Ali desempenhou os cargos de secretário dos Serviços de Instrução (1924), membro da Subcomissão de Instrução, Educação e Arte (1928-1930, 1934-1936), membro da Comissão Revisora dos Estatutos (1929-1930) e Presidente da Comissão Administrativa (1949-1953). Teve um papel determinante no desenvolvimento da associação, com a melhoria dos serviços de instrução, a criação de uma cantina escolar, uma caixa de previdência dos alunos, etc.
Pela sua actividade contra a Ditadura Militar foi preso em 17 de Julho de 1930 no forte de São Julião da Barra e depois deportado para os Açores, com residência fixa na Horta, onde chegou a 27 de Agosto daquele ano, só regressando à Metrópole a 30 de Abril de 1932.
Iniciado na Maçonaria em 1 de Outubro de 1915 na Loja Paz nº 296, de Lisboa, com o nome simbólico de 'Plebeu', exerceu os cargos de Orador (1929), representante à Grande Dieta (1930) e de Venerável (1935), quando a Maçonaria foi proibida"
J.M.M.
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