FOTO: Sergio Principe, “Ecos de um Atentado Bolchevista”, Elvas, Tip. Progresso (Rua de Manuel Gomes Estela, 2 B), 1923, 271 págs.
“Este
é um livro raro e simultaneamente curioso, impresso em Elvas na célebre Tipografia
Progresso, de António José Torres de Carvalho. O seu autor, Sérgio
Joaquim Príncipe (Elvas, 25-1-1880), foi funcionário dos Caminhos de Ferro
Portugueses, começando em 1913 a militar do seu sindicato” [via António Ventura Facebook]
[BIOGRAFIA
de SÉRGIO JOAQUIM PRÍNCIPE retirada integralmente do
livro de António Ventura, “A Maçonaria no Distrito de Portalegre
(1903-1925)”, com a devida vénia]
«Sérgio
Príncipe, nasceu em Elvas, freguesia de Assunção, a 25 de Janeiro de 1880,
filho de José Joaquim Príncipe, comerciante, e de mãe incógnita [António
Ventura, ibidem]. O pai era um destacado republicano local e
comerciante estabelecido desde 1878.
Foi maçon, iniciado em 2 de Junho de 1910 na Loja
Fraternidade nº 290, do REAA, de Óbidos, com o nome simbólico de “Murillo”.
Empregou-se nos Caminhos-de-Ferro Portugueses,
começando em 1913 a militar no seu sindicato. Quando residia em Caldas da
Rainha pertenceu ao Centro Democrático local, mas logo abandonou o PRP
[foi colaborador do periódico local do PRP, “O Defensor”]. Foi
eleito, na assembleia magna da classe de 6 de Janeiro daquele ano, para
integrar a comissão que procurou resolver o problema da Caixa de Reformas e
Pensões, desempenhando um papel destacado na organização e direcção
da greve ferroviária de Janeiro de 1914, durante a qual foi
preso, deixando então a empresa no meio de acesa polémica com antigos
companheiros, granjeando fama de revolucionário e de perfilhar ideias
avançadas. Mesmo durante a época em que foi ferroviário, dedicou-se ao comércio
de caça, frutas, conservas e artigos de novidades em Elvas, Caldas da Rainha,
Queluz, Coruche, Leiria e Portalegre. Depois da morte do pai, constituiu a
firma Príncipe & Companhia, Filhos Sucessores de José J. Príncipe. Em 1916
tomou de trespasse uma loja na Rua de Santo António da Sé nº 14 e 16, em
Lisboa, e abriu um armazém de mercearia e papelaria, que teve de trespassar em 1917.
Atraído, como tantos sindicalistas, pelo sidonismo
[cf. António Ventura Facebook] depois do
golpe de Sidónio Pais, desempenhou o cargo de adjunto do Diretor-geral
dos Transportes Terrestres, Cunha Leal, a convite de Machado
Santos, pedindo a demissão a 8 de Junho de 1918. Neste ano foi eleito 1º
Secretário da Associação Comercial dos Lojistas de Lisboa, fazendo eco
das reivindicações da sua classe e sendo preso duas vezes: em Julho e em
Outubro.
Em 2 de Novembro daquele ano fundou a empresa
Príncipe & Companhia, com António Joaquim Príncipe, para comércio de
mercearias e outros artigos, a qual será dissolvida em 1923. Estava situada em
Elvas e era distinta da Príncipe & Companhia, de Lisboa, instalada na
Calçada do Correio Velho.
Em Novembro de 1919 foi um dos organizadores do
congresso das associações comerciais e industriais, da qual nasceu a proposta
da constituição de uma federação. Os estatutos da Confederação Patronal
foram aprovados em Maio de 1921, sendo Sérgio Príncipe eleito Presidente
do Conselho Superior da agremiação.
Entre 1920 e 1922, lançou as bases de uma
organização secreta, a Grande Ordem dos Cavaleiros do Patronato,
com uma clara inspiração maçónica. A 8 de Setembro de 1922,
quando passava na Rua de Santo António da Sé, foi atacado por dois indivíduos,
um dos quais o apunhalou [nas costas e ventre] e o outro disparou contra
ele dois tiros
[no jornal “A Capital”, do dia 9, é dito
que foi encontrado no punhal que o vitimou, um papel justificando o ataque, em
nome da Legião Vermelha, por ter contribuído para o insucesso de várias
greves; mais refere que não foi atingido por tiros; no dia 12, o jornal tem na
sua 1ª pág. o artigo, “Os Últimos Atentados e a Legião Vermelha”, onde
refere o caso dos ataques feitos a Sérgio Príncipe e ao operário José
Gomes Pereira, conhecido por o “A’vante”, por terem sido
considerados “traidores à classe operária”; consultar, ainda, “A Vanguarda”
e o “Diário de Lisboa”, dos dias 9 e segs].
Gravemente ferido, Sérgio Príncipe foi
conduzido ao Hospital de São José e submetido a intervenção cirúrgica. Sobreviveu
e regressou a Elvas, demitindo-se do cargo que detinha na Confederação
Patronal.
Escreveu então um livro sobre a sua experiencia
recente: “Ecos de um Atentado Bolchevista” (Elvas, Tipografia
Progresso, 1923), anunciando que ia abandonar o pais com destino a África. – “Vou
partir. Terras longínquas me servirão de nova Pátria”.
Fixou-se em Angola, em Sá da Bandeira, onde
geriu o “Huíla Planalto Hotel”, que promoveu através de uma curiosa brochura na
qual propagandeava a região e a especialidade do Hotel, os “pastéis da Huíla”.
Fundou e dirigiu o jornal Ecos do Sul
(Sá da Bandeira, 1933, 4 números) e publicou diversos trabalhos sobre Historia
e Etnografia, com destaque para o romance “Diamantes que falam”
(Lobito – aliás Penafiel –, Tip. Germana, 1966) e “O Regime Municipalista
em Angola” (Lobito – aliás Penafiel – Tip. Germana, 1966) [ainda, “Palavras
de Desafronta (Ecos das últimas greves ferroviárias), Lisboa, Tip. F.
Monteiro & Cardoso, 1916, 95 pags; “Rectificação histórica à memória do
Infante D. Henrique, Lobito, 1961, 199 pags.]
Casou em 1947 em Lisboa, e uma segunda vez em 1954.
Morreu em 25 de Janeiro de
1971» [António Ventura, ibidem]
J.M.M.
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