domingo, 21 de abril de 2013

SÉRGIO JOAQUIM PRÍNCIPE

 


FOTO: Sergio Principe, “Ecos de um Atentado Bolchevista”, Elvas, Tip. Progresso (Rua de Manuel Gomes Estela, 2 B), 1923, 271 págs.

Este é um livro raro e simultaneamente curioso, impresso em Elvas na célebre Tipografia Progresso, de António José Torres de Carvalho. O seu autor, Sérgio Joaquim Príncipe (Elvas, 25-1-1880), foi funcionário dos Caminhos de Ferro Portugueses, começando em 1913 a militar do seu sindicato” [via António Ventura Facebook]

[BIOGRAFIA de SÉRGIO JOAQUIM PRÍNCIPE retirada integralmente do livro de António Ventura, “A Maçonaria no Distrito de Portalegre (1903-1925)”, com a devida vénia]

«Sérgio Príncipe, nasceu em Elvas, freguesia de Assunção, a 25 de Janeiro de 1880, filho de José Joaquim Príncipe, comerciante, e de mãe incógnita [António Ventura, ibidem]. O pai era um destacado republicano local e comerciante estabelecido desde 1878.

Foi maçon, iniciado em 2 de Junho de 1910 na Loja Fraternidade nº 290, do REAA, de Óbidos, com o nome simbólico de “Murillo”.

Empregou-se nos Caminhos-de-Ferro Portugueses, começando em 1913 a militar no seu sindicato. Quando residia em Caldas da Rainha pertenceu ao Centro Democrático local, mas logo abandonou o PRP [foi colaborador do periódico local do PRP, “O Defensor]. Foi eleito, na assembleia magna da classe de 6 de Janeiro daquele ano, para integrar a comissão que procurou resolver o problema da Caixa de Reformas e Pensões, desempenhando um papel destacado na organização e direcção da greve ferroviária de Janeiro de 1914, durante a qual foi preso, deixando então a empresa no meio de acesa polémica com antigos companheiros, granjeando fama de revolucionário e de perfilhar ideias avançadas. Mesmo durante a época em que foi ferroviário, dedicou-se ao comércio de caça, frutas, conservas e artigos de novidades em Elvas, Caldas da Rainha, Queluz, Coruche, Leiria e Portalegre. Depois da morte do pai, constituiu a firma Príncipe & Companhia, Filhos Sucessores de José J. Príncipe. Em 1916 tomou de trespasse uma loja na Rua de Santo António da Sé nº 14 e 16, em Lisboa, e abriu um armazém de mercearia e papelaria, que teve de trespassar em 1917.  

Atraído, como tantos sindicalistas, pelo sidonismo [cf. António Ventura Facebook] depois do golpe de Sidónio Pais, desempenhou o cargo de adjunto do Diretor-geral dos Transportes Terrestres, Cunha Leal, a convite de Machado Santos, pedindo a demissão a 8 de Junho de 1918. Neste ano foi eleito 1º Secretário da Associação Comercial dos Lojistas de Lisboa, fazendo eco das reivindicações da sua classe e sendo preso duas vezes: em Julho e em Outubro.

Em 2 de Novembro daquele ano fundou a empresa Príncipe & Companhia, com António Joaquim Príncipe, para comércio de mercearias e outros artigos, a qual será dissolvida em 1923. Estava situada em Elvas e era distinta da Príncipe & Companhia, de Lisboa, instalada na Calçada do Correio Velho.

Em Novembro de 1919 foi um dos organizadores do congresso das associações comerciais e industriais, da qual nasceu a proposta da constituição de uma federação. Os estatutos da Confederação Patronal foram aprovados em Maio de 1921, sendo Sérgio Príncipe eleito Presidente do Conselho Superior da agremiação.

Entre 1920 e 1922, lançou as bases de uma organização secreta, a Grande Ordem dos Cavaleiros do Patronato, com uma clara inspiração maçónica. A 8 de Setembro de 1922, quando passava na Rua de Santo António da Sé, foi atacado por dois indivíduos, um dos quais o apunhalou [nas costas e ventre] e o outro disparou contra ele dois tiros
 
 
 

[no jornal “A Capital”, do dia 9, é dito que foi encontrado no punhal que o vitimou, um papel justificando o ataque, em nome da Legião Vermelha, por ter contribuído para o insucesso de várias greves; mais refere que não foi atingido por tiros; no dia 12, o jornal tem na sua 1ª pág. o artigo, “Os Últimos Atentados e a Legião Vermelha”, onde refere o caso dos ataques feitos a Sérgio Príncipe e ao operário José Gomes Pereira, conhecido por o “A’vante”, por terem sido considerados “traidores à classe operária”; consultar, ainda, “A Vanguarda” e o “Diário de Lisboa”, dos dias 9 e segs].

Gravemente ferido, Sérgio Príncipe foi conduzido ao Hospital de São José e submetido a intervenção cirúrgica. Sobreviveu e regressou a Elvas, demitindo-se do cargo que detinha na Confederação Patronal.

Escreveu então um livro sobre a sua experiencia recente: “Ecos de um Atentado Bolchevista” (Elvas, Tipografia Progresso, 1923), anunciando que ia abandonar o pais com destino a África. – “Vou partir. Terras longínquas me servirão de nova Pátria”.

Fixou-se em Angola, em Sá da Bandeira, onde geriu o “Huíla Planalto Hotel”, que promoveu através de uma curiosa brochura na qual propagandeava a região e a especialidade do Hotel, os “pastéis da Huíla”.

Fundou e dirigiu o jornal Ecos do Sul (Sá da Bandeira, 1933, 4 números) e publicou diversos trabalhos sobre Historia e Etnografia, com destaque para o romance “Diamantes que falam” (Lobito – aliás Penafiel –, Tip. Germana, 1966) e “O Regime Municipalista em Angola” (Lobito – aliás Penafiel – Tip. Germana, 1966) [ainda, “Palavras de Desafronta (Ecos das últimas greves ferroviárias), Lisboa, Tip. F. Monteiro & Cardoso, 1916, 95 pags; “Rectificação histórica à memória do Infante D. Henrique, Lobito, 1961, 199 pags.]

Casou em 1947 em Lisboa, e uma segunda vez em 1954.

Morreu em 25 de Janeiro de 1971»  [António Ventura, ibidem]

J.M.M.

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