O Centenário do Marquês de
Pombal tem origem numa “reunião de estudantes das escolas superiores de Lisboa”
[cf. Inocêncio F. Silva, Dicionário Bibliográfico; encontram-se abundantes e
valiosas notas bibliográficas e documentais sobre o Centenário de Pombal no
Dicionário] e que, de imediato, teve a adesão da Academia de Coimbra, do Porto
e de muitas agremiações, grupos de cidadãos, governo e municípios.
No centenário da morte do
Marquês de Pombal [8 de Maio de 1882], pensou então um grupo de liberais [com
“a mocidade académica de Lisboa” à frente da iniciativa – cf. Occidente, Vol.V, nº 122] erigir um monumento à memória e glorificação do Marquês. A 26 de
Janeiro de 1882 a “Comissão Académica” constituída por estudantes das várias
escolas de Lisboa lança um Manifesto, “Aos Estudantes e à Colónia Portugueza do
Brazil” onde é afirmado que se trata de “consagrar para a imortalidade um homem
que, há cem anos, marcou no meio social português o vestígio indelével da sua
administração”.
No dia 27 de Abril de 1882
saiu um Diploma, assinado por D. Luís, onde se autoriza “o governo a conceder
dos arsenais do exército e da marinha o bronze que for necessário para um
monumento consagrado à memória de Sebastião ….” (in “O Marquês de Pombal e os
seus biógrafos, de Alfredo Duarte Rodrigues, 1947, p. 192)
► [Curiosamente
Duarte Rodrigues, na obra citada, atribui os esforços para o levantamento do
monumento a Pombal à maçonaria, que cita abundantemente. Na verdade, sabe-se
que o Conselho da Ordem do GOLU, sob o malhete de Miguel Baptista Maciel (que
sucedeu ao conde de Parati, 1º Grão-mestre do GOLU), através do Manifesto de
Junho de 1881 apela à adesão nas comemorações do centenário de Pombal e de
combate anti-jesuítico. Em Janeiro de 1882 a Comissão Académica de Lisboa
publica de igual modo um manifesto invocando a obra de Pombal e anunciando um
cortejo cívico, manifesto que rapidamente é editado pelo Boletim Oficial do
GOLU (1881-82). O próprio Conselho da Ordem, nesse mesmo Boletim, lança a ideia
de se erguer uma “estátua ao Marquês de Pombal”, sugerindo a formação de
comissões profanas para o efeito e mobilizando os obreiros. A homenagem ao
Marquês de Pombal foi, de facto, solenizada por todo o país: Porto, Lisboa,
Aveiro, Viseu, Setúbal, Oliveira de Azeméis, Tomar, Alcácer do Sal, … Na
véspera do dia do Centenário, José Pinheiro de Melo (Irmão Pelayo, grau 33º do
REAA, na época pertencente á Loja “União Independente”, da qual era Venerável,
antes de transitar para L. Simpatia e União, em 1899) profere uma curiosa conferência
na Associação de Lojistas de Lisboa em louvor de Pombal. Em Coimbra, na véspera
do dia da Celebração Pombalina tem lugar um comício anti-jesuítico, usando da
palavra Luís Magalhães, Feio [Terenas?], Silva Cordeiro, Alfredo Vieira e Trindade
Coelho. Ainda nesta cidade, a Associação Liberal de Coimbra imprime um
opúsculo, “As leis de Secularização em Portugal”, apresentando um curioso
Manifesto. De igual modo, a Comissão de Estudantes de Coimbra publica um
valioso jornal comemorativo do evento. Por sua vez, o Centro Republicano de
Coimbra editou uma litografia onde se lia: “Centro Eleitoral Democrático de
Coimbra – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – ao Grande Cidadão Sebastião
José de Carvalho e Melo”. No dia da celebração do Centenário, durante o
grandioso cortejo cívico de Lisboa e Porto, participou entusiasticamente a
corrente laicista e anticlerical, bem como os principais elementos do Grémio
Lusitano].
No dia seguinte [28 de Abril
1882] é nomeada a “primeira comissão, encarregada de abrir uma subscrição
nacional para angariar os fundos necessários à execução” do monumento [cf.
Coronel Oliveira Simões, Almanaque Humanidade, p.120 e ss]. Faziam parte dessa
primeira comissão 44 membros, presidida por António Rodrigues Sampaio e
secretariada por Luciano Cordeiro e por Francisco Augusto Florido da Mouta e Vasconcelos
[A. Humanidade, ibidem]. Porém a comissão pouco avançou no trabalho. De referir
que a 6 de Maio de 1882 a Câmara Municipal de Lisboa, reunida
extraordinariamente, deliberou, por proposta do vereador José Gregório da Rosa
Araújo, que se dê o nome “à grande rotunda próxima do Valle Pereiro, porque termina
a avenida da Liberdade, Praça Marquez de Pombal" [edital de 7 de Maio de 1882]
Nos dias 7, 8 e 9 de Maio de
1882 decorreram com grande entusiasmo os festejos Pombalinos, com total apoio
das forças liberais e republicanas, e em que o chefe do governo deliberadamente
se afastou. Enquanto tal se verificava, el-rei D. Fernando, “dando o braço a
sua esposa, sem aparato e sem comitiva, vai na noite das iluminações
misturar-se à multidão e tomar parte nas festas populares", pelo que foi
recebido com simpatia e entusiasmo pelo povo [sobre este assunto ver Occidente,vol. V, nº 123 e nº 124]. No dia 7 de Maio houve a inauguração da Exposição da
Escola Politécnica, em Lisboa. Á noite principiaram as “fantásticas iluminações
das ruas da baixa de Lisboa e os brilhantes festejos na cidade do Porto”. No
dia 8 de Maio, “ao meio-dia realizou-se na Avenida da Liberdade o lançamento da
primeira pedra do monumento à memória do marquês de Pombal” [ver Occidente, nº123],
festa oficial onde compareceu el-rei D. Fernando. Seguiu-se-lhe um cortejo
cívico majestoso “promovido pela mocidade académica” [de Lisboa, de Coimbra, da
Escola Militar e Médica] “briosa, trabalhadora e liberal” e de inúmeras outras
corporações, perante uma imensa multidão, uma “parada brilhante das nossas
forças sociais” [ibidem]. No dia 9 de Maio um cortejo fluvial e no fim os estudantes de Coimbra e outras escolas fizeram “uma marcha
aux flambeaux” pelas ruas da cidade de Lisboa [que deu lugar a prisões pela
polícia].
Na cidade do Porto os
festejos iniciaram-se no dia 6 de Maio de 1882, com a inauguração solene, no
Palácio de Cristal, da Sociedade Filantrópica-Académica do Porto a que se
seguiu um passeio fluvial [ver Occidente, nº 124]. No dia seguinte fez-se uma
imponente procissão cívica ao longo das ruas ornamentadas, com desfile de
diversas agremiações e carros alegóricos. Dos “espectadores saíam incessantes
saudações às Academias do Porto e de Coimbra, à Imprensa e à Liberdade”
[ibidem]
[CONTINUA]
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