quarta-feira, 4 de setembro de 2013

SOBRE A INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO AO MARQUÊS DE POMBAL – PARTE I


[Breve anotação a propósito do post sobre “a inauguração do monumento ao Marquês de Pombal” a 13 de Maio de 1934, via António Ventura Facebook]

O Centenário do Marquês de Pombal tem origem numa “reunião de estudantes das escolas superiores de Lisboa” [cf. Inocêncio F. Silva, Dicionário Bibliográfico; encontram-se abundantes e valiosas notas bibliográficas e documentais sobre o Centenário de Pombal no Dicionário] e que, de imediato, teve a adesão da Academia de Coimbra, do Porto e de muitas agremiações, grupos de cidadãos, governo e municípios.

No centenário da morte do Marquês de Pombal [8 de Maio de 1882], pensou então um grupo de liberais [com “a mocidade académica de Lisboa” à frente da iniciativa – cf. Occidente, Vol.V, nº 122] erigir um monumento à memória e glorificação do Marquês. A 26 de Janeiro de 1882 a “Comissão Académica” constituída por estudantes das várias escolas de Lisboa lança um Manifesto, “Aos Estudantes e à Colónia Portugueza do Brazil” onde é afirmado que se trata de “consagrar para a imortalidade um homem que, há cem anos, marcou no meio social português o vestígio indelével da sua administração”.  

No dia 27 de Abril de 1882 saiu um Diploma, assinado por D. Luís, onde se autoriza “o governo a conceder dos arsenais do exército e da marinha o bronze que for necessário para um monumento consagrado à memória de Sebastião ….” (inO Marquês de Pombal e os seus biógrafos, de Alfredo Duarte Rodrigues, 1947, p. 192)

[Curiosamente Duarte Rodrigues, na obra citada, atribui os esforços para o levantamento do monumento a Pombal à maçonaria, que cita abundantemente. Na verdade, sabe-se que o Conselho da Ordem do GOLU, sob o malhete de Miguel Baptista Maciel (que sucedeu ao conde de Parati, 1º Grão-mestre do GOLU), através do Manifesto de Junho de 1881 apela à adesão nas comemorações do centenário de Pombal e de combate anti-jesuítico. Em Janeiro de 1882 a Comissão Académica de Lisboa publica de igual modo um manifesto invocando a obra de Pombal e anunciando um cortejo cívico, manifesto que rapidamente é editado pelo Boletim Oficial do GOLU (1881-82). O próprio Conselho da Ordem, nesse mesmo Boletim, lança a ideia de se erguer uma “estátua ao Marquês de Pombal”, sugerindo a formação de comissões profanas para o efeito e mobilizando os obreiros. A homenagem ao Marquês de Pombal foi, de facto, solenizada por todo o país: Porto, Lisboa, Aveiro, Viseu, Setúbal, Oliveira de Azeméis, Tomar, Alcácer do Sal, … Na véspera do dia do Centenário, José Pinheiro de Melo (Irmão Pelayo, grau 33º do REAA, na época pertencente á Loja “União Independente”, da qual era Venerável, antes de transitar para L. Simpatia e União, em 1899) profere uma curiosa conferência na Associação de Lojistas de Lisboa em louvor de Pombal. Em Coimbra, na véspera do dia da Celebração Pombalina tem lugar um comício anti-jesuítico, usando da palavra Luís Magalhães, Feio [Terenas?], Silva Cordeiro, Alfredo Vieira e Trindade Coelho. Ainda nesta cidade, a Associação Liberal de Coimbra imprime um opúsculo, “As leis de Secularização em Portugal”, apresentando um curioso Manifesto. De igual modo, a Comissão de Estudantes de Coimbra publica um valioso jornal comemorativo do evento. Por sua vez, o Centro Republicano de Coimbra editou uma litografia onde se lia: “Centro Eleitoral Democrático de Coimbra – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – ao Grande Cidadão Sebastião José de Carvalho e Melo”. No dia da celebração do Centenário, durante o grandioso cortejo cívico de Lisboa e Porto, participou entusiasticamente a corrente laicista e anticlerical, bem como os principais elementos do Grémio Lusitano].

No dia seguinte [28 de Abril 1882] é nomeada a “primeira comissão, encarregada de abrir uma subscrição nacional para angariar os fundos necessários à execução” do monumento [cf. Coronel Oliveira Simões, Almanaque Humanidade, p.120 e ss]. Faziam parte dessa primeira comissão 44 membros, presidida por António Rodrigues Sampaio e secretariada por Luciano Cordeiro e por Francisco Augusto Florido da Mouta e Vasconcelos [A. Humanidade, ibidem]. Porém a comissão pouco avançou no trabalho. De referir que a 6 de Maio de 1882 a Câmara Municipal de Lisboa, reunida extraordinariamente, deliberou, por proposta do vereador José Gregório da Rosa Araújo, que se dê o nome “à grande rotunda próxima do Valle Pereiro, porque termina a avenida da Liberdade, Praça Marquez de Pombal" [edital de 7 de Maio de 1882]
 
 
 
Nos dias 7, 8 e 9 de Maio de 1882 decorreram com grande entusiasmo os festejos Pombalinos, com total apoio das forças liberais e republicanas, e em que o chefe do governo deliberadamente se afastou. Enquanto tal se verificava, el-rei D. Fernando, “dando o braço a sua esposa, sem aparato e sem comitiva, vai na noite das iluminações misturar-se à multidão e tomar parte nas festas populares", pelo que foi recebido com simpatia e entusiasmo pelo povo [sobre este assunto ver Occidente,vol. V, nº 123 e nº 124]. No dia 7 de Maio houve a inauguração da Exposição da Escola Politécnica, em Lisboa. Á noite principiaram as “fantásticas iluminações das ruas da baixa de Lisboa e os brilhantes festejos na cidade do Porto”. No dia 8 de Maio, “ao meio-dia realizou-se na Avenida da Liberdade o lançamento da primeira pedra do monumento à memória do marquês de Pombal” [ver Occidente, nº123], festa oficial onde compareceu el-rei D. Fernando. Seguiu-se-lhe um cortejo cívico majestoso “promovido pela mocidade académica” [de Lisboa, de Coimbra, da Escola Militar e Médica] “briosa, trabalhadora e liberal” e de inúmeras outras corporações, perante uma imensa multidão, uma “parada brilhante das nossas forças sociais” [ibidem]. No dia 9 de Maio um cortejo fluvial e no fim os estudantes de Coimbra e outras escolas fizeram “uma marcha aux flambeaux” pelas ruas da cidade de Lisboa [que deu lugar a prisões pela polícia].

Na cidade do Porto os festejos iniciaram-se no dia 6 de Maio de 1882, com a inauguração solene, no Palácio de Cristal, da Sociedade Filantrópica-Académica do Porto a que se seguiu um passeio fluvial [ver Occidente, nº 124]. No dia seguinte fez-se uma imponente procissão cívica ao longo das ruas ornamentadas, com desfile de diversas agremiações e carros alegóricos. Dos “espectadores saíam incessantes saudações às Academias do Porto e de Coimbra, à Imprensa e à Liberdade” [ibidem]

[CONTINUA]

J.M.M.

Sem comentários: