quinta-feira, 5 de setembro de 2013

SOBRE A INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO AO MARQUÊS DE POMBAL – PARTE II


No dia 1 de Abril de 1901, um grupo de 15 confrades da Sociedade de Geografia, à frente do qual se encontrava José Pinheiro de Melo, propôs, em sessão da Sociedade, que se “obtivesse do governo” a reorganização da comissão para “urgente cumprimento da missão que lhe incumbia”. Mas só a 9 de Março de 1905 [sob nomeação do ministro do reino, Pereira de Miranda] foi constituída essa comissão executiva, ficando na sua presidência, Veiga Beirão e na vice-presidência, Ferreira do Amaral. Foi, então, aberta uma subscrição pública a 6 de Maio desse ano, a que se seguiu mais reforços em 1908.

A 19 de Março de 1911 foi aberto concurso para a “elaboração do projecto a adoptar na sua execução”, aparecendo um único concorrente [Raul Lino], que foi rejeitado pelo júri [ibidem; refira-se que presidiu ao júri Alfredo da Cunha como representante da comissão – cf. Duarte Rodrigues, ibidem]. Nomeado novo júri, a 26 de Maio de 1911, o novo concurso [Decreto de 29 de Maio de 1911], distinguiu e estabeleceu os seguintes prémios: , “Glória progressus – delenda reatio” [assinado pelos arquitectos Adães Bermudes (Ir. Afonso Domingues) e António do Couto e pelo escultor Francisco dos Santos]; , “Cuidar dos Vivos” [Alves de Sousa e Marques da Silva]; , “Pró memória” [Maximiano Alves e Eduardo Tavares]. Após várias peripécias, com protestos e pedidos de exoneração de membros da comissão, por portaria de 16 de Agosto de 1913, uma nova comissão executiva foi constituída: na presidência, Sebastião Magalhães Lima e na vice-presidência, Luís Filipe da Mata [Ir. Marius da L. Tolerância, de Lisboa, mais tarde presidente do Conselho da Ordem em vários ocasiões]. 

Sob reclamação do 2º classificado, “Cuidar do Vivos”, que “não se conformava com a decisão do júri”, e tendo tido parecer favorável do Ministério da Instrução Pública e Procuradoria Geral da República, foi dado provimento à reclamação, a 4 de Setembro de 1914 [ibidem]. Foi então nomeado novo júri [16 de Setembro 1914], ao qual foi feita suspeição pelos “reclamantes” anteriores, pelo que foi reformulado o júri, que ficou definitivo a 18 de Novembro de 1914. Em reunião, o júri atribui ex aequo como vencedores os projectos que, anteriormente, ficaram nas duas primeiras posições. Novas reclamações se lhe seguiram, novas explicações pelo júri foram feitas [no principal, a questão do elevado custo da execução do 2º projecto, “Cuidar do Vivos”, foi apontada como determinante para o seu afastamento], e foi considerado vencedor o projecto “Glória progressus – delenda reatio”.  

Não acabaria aqui a controvérsia em torno dos projectos a concurso [sobre o debate, veja-se a posição de António Arroyo, “O caso do monumento ao Marquez de Pombal, Lisboa, 1914“; ou também a posição tomada por Guerra Junqueiro, Manuel Sousa Pinto, Joaquim Costa], seguindo-se-lhe novas reclamações, suspeições, inúmeras questiúnculas e “calorosas polémicas entre artistas nacionais, na imprensa e em folhetos”, que fizeram com que o governo não homologasse a decisão. Só a 21 de Janeiro de 1917, o Ministro da Instrução [Pedro Martins] mandou reunir o júri para votação de acordo com novas premissas, pelo que a 7 de Junho de 1917 foi atribuído definitivamente o 1º prémio aos autores do projecto “Glória progressus – delenda reatio” [Oliveira Simões, ibidem]. Da memória descritiva do monumento o arquitecto Adães Bermudes faz o seguinte relato:

"Erecto no seu pedestal de glória que as águas triunfalmente elevam ao fastígio do monumento, o Marquês de Pombal procurando sacudir do vil letargo secular a alma generosa e forte da nação, simbolizada por um leão que se levanta rugindo, e esmaga reacção teocrática e a reacção feudal que a traziam subjugada. Do seu alto posto, o genial reformador dirige e domina a grande obra de transformação mental, económica e social que se realizou sob o influxo da sua clarividência, do seu saber e da sua indómita energia.

Ele traça a dinâmica da nação decadente, desnorteada e exausta a nova rota da sua natural evolução histórica: - "O Trabalho" que devia resgatar-nos da escravidão económica e valorizar o nosso vasto Império; e o "Estado" a que devia redimir a mentalidade da nação dos preconceitos, fanatismos e ignominiosa ignorância que a sequestravam à civilização. O nosso projecto de monumento visa a representar o Marquês de Pombal na sua complexa figura de genial estadista, de reformador audaciosíssimo, de emancipador da consciência e vontade nacionais, de assombroso precursor da moderna civilização …” [ler MAIS AQUI]

Passados cinco anos, os trabalhos de execução do monumento pouco tinham avançado, a Comissão tinha deixado de reunir e o Governo, sob presidência de António Maria da Silva, nomeou nova comissão [pela portaria de 2 de Junho de 1923], sob presidência de Sebastião Magalhães Lima, na vice-presidência o general Ernesto Maria Vieira da Rocha, como 1º secretario, José Pedro Moreira, 2º secretario, dr. Custódio José Vieira, na qualidade de tesoureiro, o dr. José de Pádua e entre os vogais, registe-se a presença de Joaquim Maria de Oliveira Simões, dr. António Augusto da Veiga e Sousa, capitão José Bernardo Ferreira, Alexandre Ferreira, almirante Ernesto de Vasconcelos [exonerado, depois, a seu pedido], dr. Germano Lopes Martins, brigadeiro João Estêvão Águas, José Pinheiro de Melo, Fernão Botto Machado. Pelo falecimento de Magalhães Lima, José de Pádua e alguns dos vogais, a Comissão foi posteriormente reconstituída, servindo de Presidente o general Vieira da Rocha, vice-presidente, Filipe da Mata, e tesoureiro, Oliveira Simões.   

[CONTINUA]

J.M.M

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