quinta-feira, 19 de junho de 2014

IN MEMORIAM DE MANUEL AZAÑA (1880-1940) - PRESIDENTE DA II REPÚBLICA ESPANHOLA (PARTE I)


La libertad no hace a los hombres felices, los hace sencillamente hombres” [Manuel Azaña]

Nuestro norte es una entidad que tiene dos nombres República y España. Para mi es lo mismo. La República es la expresión jurídica de mi patria, y España es el nombre histórico de la República” [ibidem]
Manuel Azaña Diaz [1880-1940], “alcalaíno como Cervantes” [ver AQUI], foi um intelectual e político notável, um orador radioso e temível, um dos apóstolos da II República de Espanha [e seu emérito Presidente], sendo considerado uma das personalidades mais marcantes do século XX espanhol.

Nascido a 10 de Janeiro de 1880 em Alcalá de Henares, foi desde sempre um aluno brilhante e uma personalidade invulgar. Formado em direito [1898 pela Universidade de Saragoça; mais tarde doutor pela Univ. Central de Madrid], advogado, tradutor (traduziu as “Memorias de Voltaire”), ensaísta e jornalista [começa, em 1897, na revista “Brisas del Henares”, sob o pseudónimo de Salvador Rodrigo; em 1901, colabora na revista “Gente Vieja”; correspondente do jornal “Figaro” (Outubro de 1919 a Abril de 1920, durante o tempo em que residiu em França); é fundador da revista “La Pluma” (Junho de 1920; nasce a revista já quando M. Azaña sai do Ateneu de Madrid e se demite de secretário); dirige a revista “España" (1923; a revista foi encerrada pela censura em 1924), etc…], amador de livros [começou a ler na copiosa biblioteca do avô e do seu pai], membro (1900) do selecto grupo do Ateneu de Madrid [onde foi secretário], escritor galardoado com o prémio Nacional de Literatura (1926 – “La vida de don Juan Valera”) e com obra memorialista importante.  
Manuel Azaña inicialmente milita (1912-23) no Partido Reformista (de Melquiades Álvarez), que abandona face á posição tomada relativamente a Primo de Rivera, que considera de traição, rompendo com o regime monárquico. Teve ocasião de participar na Liga de Educação Política (1913; onde estão figuras notáveis como Ortega y Gasset) e incentivou (1918) a constituição da secção espanhola da Sociedade das Nações [que adopta o nome de “União Democrática Espanhola”] que curiosamente não o apoia na questão da guerra civil. Adere ao republicanismo com o golpe de estado do ditador Primo de Rivera, que vai combater, declarando-se republicano, identificando a Democracia com a República, pelo que procura a união de todos os republicanos.
Na I Guerra Mundial toma posição ao lado dos Aliados, desenvolvendo uma activa participação intelectual nesse apoio, publicando no semanário “España” um manifesto a favor do Aliados [“Manifiesto de adhesión a las Naciones Aliadas”, de Julho de 1915], o que o leva por diversas vezes a França, a Itália [em 1917, com Unamuno, na frente de guerra], e a que se seguiu uma concorrida conferência no Ateneu de Madrid [“Los motivos de la germanofilia"], em que manifesta admiração pelas virtudes do patriotismo francês, revelando os horrores da guerra, bem como inicia um ciclo de conferências no “Ateneu de Madrid” sobre “La política militar de la República francesa”. Disso dá conta em obra posterior, reflectindo sobre o Estado, a nação e a Guerra, assumindo o inalienável direito de defesa do indivíduo perante o Estado.
Manuel Azaña funda o Grupo de Acção Republicana (1925) que actua clandestinamente até 1930 [cf. José Peña González], até à retirada de Primo de Rivera, integrando-se depois (Fevereiro de 1930) na Aliança Republicana [como curiosidade diga-se que M. Azaña, aborda o problema da Catalunha, assumindo que, embora não o desejasse, que se a Catalunha fazia intenção de separar-se de Espanha, tinha esse direito] e, posteriormente, na Esquerda Republicana (1934).
Ministro da Guerra no Governo provisório da II República (14 de Abril de 1931), foi nomeado Presidente desse governo, levando a cabo reformas importantes [refira-se que Azaña esteve por quatro vezes na cadeira presidencial]. Porém, não conseguindo conjugar forças necessárias para lutar contra a Igreja [veja-se, por exemplo, o modo como a questão do projecto da lei de Confissões e Congregações Religiosas se desenrolou e as consequências havidas, anos mais tarde] e a oligarquia instalada, o seu projecto liberal e socialista [para Azaña a República não podia ser um prolongamento da monarquia sem os Bourbons] sai fracassado e com ele o próprio regime republicano.

[em continuação]

J.M.M.

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