Assim,
em Fevereiro de 1936 a Frente Popular vence as eleições e Manuel Azaña é
convidado a formar governo, tornando-se depois Presidente da República (Maio de
1936, substituindo Alcalá-Zamora). Porém a desunião e ruptura entre as
diferentes forças da aliança republicana no governo [veja-se as posições que
tomam o socialista Prieto e o republicano Alejandro Lerroux], o ódio que a
direita [e em especial de Delgado Barreto] lhe manifestava vendo nele um
obstáculo para os seus propósitos de tomada do poder, as conspirações e intentonas
golpistas verificadas, os inflamados pregões antigovernamentais da imprensa
católica e de direita [veja-se a influência da organização de Gil Robles nessas
campanhas] e, por fim, a sublevação do exército e o reconhecimento do governo
do ditador Franco pela Inglaterra e França, ditou o seu exílio em França
(Fevereiro de 1939), onde veio a falecer.
Manuel
Azaña é iniciado na maçonaria [segundo o seu cunhado, na Loja
“Hispanoamericana” nº2; segundo outros na Loja “La Matritense”, de Madrid, sob Obediência
do Grande Oriente Espanhol] já quando era Presidente do Governo [e ao mesmo
tempo Ministro de Guerra; diga-se que do primeiro governo da República, dos 11
membros do governo, 6 eram maçons, o que não era o caso de Manuel Azaña,
iniciado meses depois], a 2 de Março de 1932, com o n.s. de “Plutarco” [José
Antonio Ferrer Benimeli, “Jefes de Gobierno Masones. España 1868-1936”, Madrid,
2007. pp.195-206], não passando do grau de Aprendiz, tendo “adormecido” de
imediato.
Segundo
Benimeli não só o Grão-Meste do Grande Oriente Espanhol [o GOE foi instalado em
12 de Maio de 1889, sendo seu GM, Miguel Morayta. Nasceu de dissidência do
Grande Oriente de Espanha] não esteve presente na iniciação de Manuel Azaña
como existiria algum desinteresse de M. Azaña [diz ele nas suas Memórias
Políticas: “Em Espanha ninguém sabe guardar segredo. Nem os maçons”] pela
organização maçónica e o seu ritual, pelo que o seu ingresso na Ordem foi
meramente “circunstancial”, revestindo-se mesmo de alguma “ingenuidade”. O
facto de M. Azaña ser maçon (mesmo que “maçon decorativo”) fez avolumar o “mito
maçónico” e a “conjura maçónica” na II Republica, assunto que o ditador Francisco
Franco soube bem explorar na opinião pública.
[refira-se
o facto curioso, e segundo testemunhos credíveis (alguns pelos próprios
falangistas, via documentos da própria Loja), que aponta Francisco Franco, já
tenente-coronel, como pretendendo entrar (1926) na Maçonaria, na Loja Lixus de
Larache, mas a que a isso se opuseram os maçons militares da loja. Mais tarde,
já em 1932, de novo Francisco Franco solicita o ingresso na Ordem, e de novo de
opuseram membros da Loja, entre eles vários militares de carreira e o seu
próprio irmão Ramón (morto durante a guerra civil). Não por acaso, a devassa feita
às lojas maçónicas, aos seus arquivos e bibliotecas, e perseguição implacável à
Ordem, levada a cabo pela ditadura franquista, toma foros de “santa cruzada”,
com a constituição de um corpo policial especial repressor [como a OIPA,
“Oficina de Investigação e Propaganda Anticomunista”, Abril de 1937]. Parte
dessa documentação retirada das Lojas encontra-se no Fundo Maçónico [que vai de
1882 até 1938] do Arquivo Histórico Nacional de Salamanca – cf. José Antonio
Ferrer Benimeli, “La masonería en la España del siglo XX]
Assim,
a passagem efémera de Manuel Azaña pela maçonaria, não impediu que os seus inimigos,
numa violenta e intensa campanha e propaganda antimasónica levada a cabo pelos fascistas-franquistas
e pelos integristas católicos, que atribuíam à maçonaria a origem directa da
instauração da República, o atacassem ideologicamente pela sua condição de
maçon (mesmo que “decorativo”), a que souberam juntar os slogans costumeiros de
um caminhar para uma situação de “anarquia”, “separatismo” e “socialismo”,
destruindo a imagem pública do homem liberal e reformista (que assumidamente era)
de Manuel Azaña [sobre a curiosa questão – e ainda não totalmente esclarecida -
de Manuel Azaña e a Maçonaria, consultar a obra, já citada de José Antonio
Ferrer Benimeli, “La masonería en la España del siglo XX", em especial a entrada
de Alberto Reig Tapia: “La imagem pública del político, El caso “Azaña” a
través de la propaganda antimasónica”]
Iberista
romântico [ver Hipolito de la Torre Gómez, “A Relação peninsular na Antecâmara
da Guerra Civil Espanhola”, 1998; Fernando Rosas, “Portugal e a Guerra Civil de
Espanha”, 1998; Heloisa Paulo, “Imagens de Liberdade. Os exilados portugueses e
a luta pela liberdade na península Ibérica”], Manuel Azaña teve contactos com
os exilados portugueses em Espanha, como Afonso Costa (de quem era amigo),
Bernardino Machado e o Grupo dos Budas [Jaime Cortesão, Moura Pinto, Jaime de
Morais, Nuno Cruz, Oliveira Pio, Alexandrino dos Santos, César de Almeida –
curiosamente quase todos maçons e fundadores de uma Loja maçónica portuguesa em
Espanha, a Loja “República Portuguesa”]. A união de interesses é patente, até
pelo denominado “Plano Lusitânia”, plano “audacioso” onde se previa a “invasão
e rebelião em Portugal”, contra o colaboracionismo de Salazar com Franco [cf.
Heloisa Paula, ibidem – para o qual remetemos a leitura].
Morre Manuel Azaña, a principal referência da II República Espanhola, a 3 de
Novembro de 1940, em Montauban, França, onde se encontrava exilado. O féretro
foi coberto com a bandeira mexicana, face á proibição do marechal Pétain que o
seu enterro tivesse honras de estado.
J.M.M.
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