sexta-feira, 20 de junho de 2014

IN MEMORIAM DE MANUEL AZAÑA (1880-1940) - PRESIDENTE DA II REPÚBLICA ESPANHOLA (PARTE II)


Assim, em Fevereiro de 1936 a Frente Popular vence as eleições e Manuel Azaña é convidado a formar governo, tornando-se depois Presidente da República (Maio de 1936, substituindo Alcalá-Zamora). Porém a desunião e ruptura entre as diferentes forças da aliança republicana no governo [veja-se as posições que tomam o socialista Prieto e o republicano Alejandro Lerroux], o ódio que a direita [e em especial de Delgado Barreto] lhe manifestava vendo nele um obstáculo para os seus propósitos de tomada do poder, as conspirações e intentonas golpistas verificadas, os inflamados pregões antigovernamentais da imprensa católica e de direita [veja-se a influência da organização de Gil Robles nessas campanhas] e, por fim, a sublevação do exército e o reconhecimento do governo do ditador Franco pela Inglaterra e França, ditou o seu exílio em França (Fevereiro de 1939), onde veio a falecer.   
Manuel Azaña é iniciado na maçonaria [segundo o seu cunhado, na Loja “Hispanoamericana” nº2; segundo outros na Loja “La Matritense”, de Madrid, sob Obediência do Grande Oriente Espanhol] já quando era Presidente do Governo [e ao mesmo tempo Ministro de Guerra; diga-se que do primeiro governo da República, dos 11 membros do governo, 6 eram maçons, o que não era o caso de Manuel Azaña, iniciado meses depois], a 2 de Março de 1932, com o n.s. de “Plutarco” [José Antonio Ferrer Benimeli, “Jefes de Gobierno Masones. España 1868-1936”, Madrid, 2007. pp.195-206], não passando do grau de Aprendiz, tendo “adormecido” de imediato.
Segundo Benimeli não só o Grão-Meste do Grande Oriente Espanhol [o GOE foi instalado em 12 de Maio de 1889, sendo seu GM, Miguel Morayta. Nasceu de dissidência do Grande Oriente de Espanha] não esteve presente na iniciação de Manuel Azaña como existiria algum desinteresse de M. Azaña [diz ele nas suas Memórias Políticas: “Em Espanha ninguém sabe guardar segredo. Nem os maçons”] pela organização maçónica e o seu ritual, pelo que o seu ingresso na Ordem foi meramente “circunstancial”, revestindo-se mesmo de alguma “ingenuidade”. O facto de M. Azaña ser maçon (mesmo que “maçon decorativo”) fez avolumar o “mito maçónico” e a “conjura maçónica” na II Republica, assunto que o ditador Francisco Franco soube bem explorar na opinião pública.
[refira-se o facto curioso, e segundo testemunhos credíveis (alguns pelos próprios falangistas, via documentos da própria Loja), que aponta Francisco Franco, já tenente-coronel, como pretendendo entrar (1926) na Maçonaria, na Loja Lixus de Larache, mas a que a isso se opuseram os maçons militares da loja. Mais tarde, já em 1932, de novo Francisco Franco solicita o ingresso na Ordem, e de novo de opuseram membros da Loja, entre eles vários militares de carreira e o seu próprio irmão Ramón (morto durante a guerra civil). Não por acaso, a devassa feita às lojas maçónicas, aos seus arquivos e bibliotecas, e perseguição implacável à Ordem, levada a cabo pela ditadura franquista, toma foros de “santa cruzada”, com a constituição de um corpo policial especial repressor [como a OIPA, “Oficina de Investigação e Propaganda Anticomunista”, Abril de 1937]. Parte dessa documentação retirada das Lojas encontra-se no Fundo Maçónico [que vai de 1882 até 1938] do Arquivo Histórico Nacional de Salamanca – cf. José Antonio Ferrer Benimeli, “La masonería en la España del siglo XX]
Assim, a passagem efémera de Manuel Azaña pela maçonaria, não impediu que os seus inimigos, numa violenta e intensa campanha e propaganda antimasónica levada a cabo pelos fascistas-franquistas e pelos integristas católicos, que atribuíam à maçonaria a origem directa da instauração da República, o atacassem ideologicamente pela sua condição de maçon (mesmo que “decorativo”), a que souberam juntar os slogans costumeiros de um caminhar para uma situação de “anarquia”, “separatismo” e “socialismo”, destruindo a imagem pública do homem liberal e reformista (que assumidamente era) de Manuel Azaña [sobre a curiosa questão – e ainda não totalmente esclarecida - de Manuel Azaña e a Maçonaria, consultar a obra, já citada de José Antonio Ferrer Benimeli, “La masonería en la España del siglo XX", em especial a entrada de Alberto Reig Tapia: “La imagem pública del político, El caso “Azaña” a través de la propaganda antimasónica”]
Iberista romântico [ver Hipolito de la Torre Gómez, “A Relação peninsular na Antecâmara da Guerra Civil Espanhola”, 1998; Fernando Rosas, “Portugal e a Guerra Civil de Espanha”, 1998; Heloisa Paulo, “Imagens de Liberdade. Os exilados portugueses e a luta pela liberdade na península Ibérica”], Manuel Azaña teve contactos com os exilados portugueses em Espanha, como Afonso Costa (de quem era amigo), Bernardino Machado e o Grupo dos Budas [Jaime Cortesão, Moura Pinto, Jaime de Morais, Nuno Cruz, Oliveira Pio, Alexandrino dos Santos, César de Almeida – curiosamente quase todos maçons e fundadores de uma Loja maçónica portuguesa em Espanha, a Loja “República Portuguesa”]. A união de interesses é patente, até pelo denominado “Plano Lusitânia”, plano “audacioso” onde se previa a “invasão e rebelião em Portugal”, contra o colaboracionismo de Salazar com Franco [cf. Heloisa Paula, ibidem – para o qual remetemos a leitura].
Morre Manuel Azaña, a principal referência da II República Espanhola, a 3 de Novembro de 1940, em Montauban, França, onde se encontrava exilado. O féretro foi coberto com a bandeira mexicana, face á proibição do marechal Pétain que o seu enterro tivesse honras de estado.

J.M.M.

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