José Soares Martins, conhecido
como investigador por José Capela, nasceu em Arrifana, Vila da Feira, em 25 de Março
de 1932. Depois de completar a escola primária, prosseguiu os estudos ingressando no Seminário dos Grilos,
no Porto.
Frequentou o curso de Teologia no
Porto, em 1954. Chegou a Moçambique em 1956, com 24 anos, onde se dedicou à
escrita e à investigação. Estabeleceu-se na cidade da Beira, onde seu tio era
Bispo, D. Sebastião Soares de Resende, responsável pela diocese da Beira. Começou
por trabalhar no Diário de Moçambique,
a partir de 1959, onde desempenhou as funções de chefe de redacção e, mais
tarde, de director-adjunto do mesmo jornal. Sobre a existência deste jornal
recomenda-se a leitura do verbete que lhe dedica Ilídio Rocha [Ilídio Rocha, A Imprensa de Moçambique, Ed. Livros do
Brasil, Lisboa, 2000, p. 283-284], onde traça um pequeno apontamento sobre as
dificuldades e as vicissitudes de um jornal, em diversos momentos, denunciou
situações menos correctas da administração colonial portuguesa que lhe valeram
a suspensão, mesmo sendo um órgão da Igreja Católica, mas ao mesmo tempo
enfrentando o poder que dispunha na região o eng. Jorge Jardim. Colaborando em
diversos órgãos da comunicação escrita em Moçambique, dinamizou vários órgãos
como o semanário Voz Africana (1962),
a revista Economia de Moçambique
(1963), entre outros.
Regressou a Portugal em 1968,
quando fundou a Voz Portucalense, órgão
da imprensa periódica ligado à Diocese do Porto, onde colaborou depois com alguma
regularidade [Rui Osório, “Nem o Evangelho escapava à Censura!”, Jornalismo & Jornalistas,
Jan-Jun.2014, p. 78, refere-se à criação deste periódico católico impulsionado
pelo bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, assinalando como colaboradores
Mário Zambujal, Mário Castrim, Germano Silva, António José Salvador e José
Gomes Bandeira, entre outros]. Este regresso e instalação de José
Martins Soares a Portugal, devia-se à publicação, já sob pseudónimo de José
Capela, de um conjunto de cartas de negros para o órgão oficial da Diocese da
Beira, Diário de Moçambique, o que
causou profundas marcas.
Em 1 de
Janeiro de 1970 iniciou, como editor, a publicação do jornal Voz
Portucalense, no Porto. Nesta cidade desenvolveu intensa actividade no domínio
cooperativista e na luta anti-facista e anticolonial. Nessa altura surgem a Confronto, e depois a
Afrontamento, Da publicação também dos cadernos anticoloniais.
Depois do processo de
independência de Moçambique, esteve colocado como adido cultural no Centro
Cultural Português, em Maputo, onde desenvolveu intensa actividade como
investigador da História de Moçambique. Analisou com grande interesse as
relações socais das populações na região da Zambézia. Os seus textos debruçam-se
especificamente sobre Moçambique, sobre as questões coloniais, tendo focado a
sua análise em alguns eixos fundamentais: a formação do embrionário capitalismo
português em Moçambique e a influência que exerceu nas populações locais; a
problemática da escravatura desde o período pré-colonial até à sua proibição e
erradicação já nos primeiros anos do século XX; por outro lado, investigou e
publicou textos sobre a complexidade histórica das sociedades da bacia do rio
Zambeze, tendo por base a problemática do regime dos prazos na antiga colónia
portuguesa.
[em continuação]
A.A.B.M.
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