quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

PRÉMIO REGIONAL MARIA VELEDA - MARGARIDA TENGARRINHA

Vai ser entregue no próximo dia 6 de Dezembro de 2014, no Teatro Municipal de Portimão, pelas 18 horas, o Prémio Regional Maria Veleda, promovido pela Direcção Regional de Cultura do Algarve.

A premiada desta primeira iniciativa foi Margarida Tengarrinha. Um prémio de reconhecimento pelo papel que desempenhou em prol da cultura e do conhecimento na região, com um percurso de vida extremamente interessante e cheio de peripécias.

Maria Margarida do Carmo Tengarrinha nasceu a 7 de Maio de 1928, em Portimão.
Estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde se licenciou em Pintura. Desde bastante jovem participa na luta política de combate ao regime salazarista. Uma das suas primeiras participações políticas ocorre em 8 de Maio de 1945, na grande manifestação que se realizou em Lisboa comemorando o final do II Guerra Mundial e a derrota do regime nazi.

Integra o Movimento de Unidade Democrática (M.U.D.) em 1949 exercendo actividade política no movimento associativo dos estudantes da ESBAL, defendendo os direitos dos estudantes e acompanhando as movimentações estudantis pela Paz, criticando o lançamento das bombas atómicas pelos Estados Unidas sobre Hiroshima e Nagasaki. Manifestou-se também contrária à realização da reunião ministerial da NATO, no Instituto Superior Técnico, motivo que a levou a ser expulsa da Escola Superior de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

Em 1952, foi expulsa do seu lugar de professora da Escola Preparatória de Paula Vicente, por desenvolver actividades políticas oposicionistas em relação ao Estado Novo.

Integrou a Direcção da Comissão Nacional das Mulheres que enviou uma delegação feminina liderada por Maria Lamas, para participar no Congresso Mundial das Mulheres, que teve lugar em 1953.

Pertenceu à Comissão de Assistência aos Presos Políticos, entre 1952 e 1955.

A partir de 1952 integra o Partido Comunista Português. Em 1955 integra o quadro dos funcionários do Partido Comunista Português e passa a viver na clandestinidade. Curiosamente afirma que nunca entrou numa tipografia clandestina do jornal oficial do Partido Comunista Português, por razões de segurança. No entanto a vida dela está muito ligada ao órgão da imprensa comunista, onde participou como redactora, ilustradora e paginadora ao longo de vários períodos da existência do jornal. Mas desenvolveu colaboração com outros órgãos da imprensa como a revista Modas & Bordados, dirigida por Maria Lamas. Conhecem-se ainda colaborações com outros órgãos do Partido Comunista, como o boletim interno, intitulado A Voz dos Camaradas.

Entre 1955 e 1974 desenvolve actividades políticas na clandestinidade para o PCP. Desenvolve ainda tarefas na Oficina de Falsificações do Partido juntamente com os companheiro, o escultor José Dias Coelho. No quinto congresso do partido, realizado entre 8 e 15 de Setembro de 1957, clandestinamente, reuniram-se em São Pedro do Estoril na Casa dos Quatro Cedros, onde constava um grande painel elaborado por Margarida Tengarrinha onde se representavam as figuras de Marx, Engels e Lenine, no entanto  autora desconhecia a finalidade que fora dada à obra.

No ano seguinte, 1958, após a fuga de Álvaro Cunhal da cadeia de Peniche, Margarida Tengarrinha elabora desenhos que ilustram a fuga e que são publicados na imprensa comunista clandestina.

Em 19 de Dezembro de 1961, o seu companheiro, José Dias Coelho foi assassinado pela PIDE, quando ela tinha trinta e oito anos de idade e duas filhas menores para criar. Pode acrescentar-se que foi da sua autoria o artigo publicado no jornal Avante onde traçava o perfil daquele que tinha sido o seu marido e que segundo refere foi o mais difícil que alguma vez escreveu. Pode ler-se AQUI.

A repressão do regime salazarista aumenta fortemente no ano de 1962. Tinha-se iniciado a Guerra Colonial, houve a revolta estudantil e as perseguições políticas intensificaram-se. Margarida Tengarrinha teve que deixar de colaborar com o Avante. Em simultâneo, a Oficina de Falsificações, onde tinha trabalhado também tinha sido descoberta e apreendida e o partido incumbiu-a de refazer novamente essa oficina. O partido encontrava-se nessa altura numa situação bastante delicada e com determinação conseguiu operacionalizar as funções que tinham sido desactivadas. A sua experiência e capacidades foram determinantes nesta função. Desta oficina começam a sair novamente selos brancos, bilhetes de identidade e passaportes falsificados. Concluída esta tarefa Margarida Tengarrinha abandona Portugal.

Foi responsável pelas emissões da Rádio Portugal Livre, que emitia a partir da Roménia. Volta nessa altura a colaborar com o jornal Avante.

Desenvolveu juntamente com Álvaro Cunhal esforços no sentido de combater o regime ditatorial em Portugal enquanto ambos estiveram em Moscovo. Nessa ocasião participaram, como membros do Partido Comunista Português nas grandes comemorações do quinquagésimo aniversário da Revolução Socialista de Outubro, estávamos em 1967. Nesse período viaja pela Rússia, escrevendo as notas e observações do que encontra, conhece e entrevista várias personalidades, recolhe depoimentos que depois são publicados nos últimos números do órgão oficial do partido em 1967. Por exemplo, pode ler-se neste número e nos seguintes AQUIAQUI.

Regressando clandestinamente a Portugal, em 1968, reassume as funções na redacção do jornal Avante. Vive em Fontelos, onde se encontrava guardado o arquivo do partido e onde redigia o jornal. Eram então elaboradas duas maquetes para serem impressas nas tipografias clandestinas que o partido possuía em Lisboa e no Porto.

Em 1970 assume a relação com o camarada de partido, Carlos Costa, ficando encarregue de tarefas na Direcção Regional do partido no Porto, mantendo a sua colaboração com o jornal.

Chegada a 1974 assume funções no Comité Central do Partido Comunista Português, onde se manteve até finais dos anos 90.

Depois da sua aposentação como professora continuou a participar de forma activa e cívica na vida política e cultural da sua cidade natal, Portimão, onde leccionou na Universidade Sénior da cidade a disciplina de História das Artes. Habitualmente consideram-na amante da Natureza, da Arte e do seu Algarve, é, sobretudo, uma mulher de afectos e de ideais. Continua a surpreender com a sua jovialidade e a forma viva e inteligente como procura acompanhar e reflectir criticamente novos produtos culturais, e também fruir dos benefícios do progresso científico e tecnológico.

Irmã do historiador e político José Mendes do Carmo Tengarrinha e fundador do Movimento Democrático Português/ Centro Democrático Eleitoral (MDP/CDE).

Uma justa homenagem e merecedora de um prémio que esperemos tenha continuidade e valorize os feitos e conquistas daqueles que têm vindo a desenvolver a cultura na região.

Bibliografia consultada:
- Mendes, António Rosa; Gomes, Neto, Algarve. 100 Anos de República 100 Personalidade (1910-2010), Governo Civil de Faro, Faro, 2010, p. 213.
- Pato, Helena, Margarida Tengarrinha - Fascismo Nunca Mais
- Pereira, Pacheco, Álvaro Cunhal. Uma biografia Política. O Prisioneiro (1949-1960), Círculo de Leitores, Lisboa, 2005.

A.A.B.M.

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