“Eu meu Senhor, não sei o que é a República, mas não pode deixar de se
uma coisa santa. Nunca na Igreja senti calafrio assim. Perdi a cabeça então
como os outros todos. Todos a perdemos. Atirámos então as barretinas ao ar.
Gritámos todos: Viva, Viva, Viva a República” [testemunho, em tribunal, de
um soldado implicado no movimento de 31 de Janeiro de 1891, na cidade do Porto]
A revolução republicana de 31 de Janeiro de 1891, na cidade do
Porto, foi a primeira das várias “manifestações revolucionárias” visando implantar
a República.
Essencialmente militar
(contando com o apoio de civis), a revolta republicana foi, passe o seu
insucesso, um dos muitos “gritos patrióticos” erguidos contra a degradação da
situação política, social e económica do final da monarquia, sendo, sem dúvida,
uma data histórica de luta e paixão pelo ideário republicano em Portugal. Como
tal faz parte do vasto património revolucionário republicano e democrático.
No seu espírito mais
profundo, o dia 31 de Janeiro de 1891, consubstanciou um virtuoso sentimento
patriótico contra a afronta, humilhação e devassa com que a Pátria vivia (em
que o Ultimatum foi o abalo insofismável, o catalisador do ambiente que gerou a
revolta).
Pelo despertar das almas,
contra a indiferença e o desânimo instaurado, no seu vibrante grito patriótico pela
renovação da Alma Lusitana, a revolta dessa “sublime manhã” de 31 de Janeiro
ficou para sempre marcada como uma “lição moral” de civismo [Basílio Teles],
traçando o que seria o caminho desse generoso levantamento cultural e cívico
pela res publica, que patrocinou o desfecho vitorioso do 5 de Outubro de 1910.
E que por isso, aqui, também honramos!
Evocar o pronunciamento
militar da revolta do Porto, essa data gloriosa da República, será tentar compreender
as suas motivações e consequências, as ilusões e esperanças do seu anunciado projecto
republicano democrático; será homenagear a combatividade e o assombro ético dos
seus intervenientes (“esses vencidos que estiveram prestes a ser vencedores” –
no dizer de um jornal monárquico).
De outro modo, entender as desinteligências
e controvérsias havidas no seio dos correligionários republicanos, compreender
a manifesta improvisação e erros da tentativa militar de insurreição, sentir o
pulsar e o ensejo de mudança das elites, da burguesia e do operariado do País,
acompanhar os gestos e o papel desempenhado pelas associações/sociedades do
mundo civil, em que os clubes e a maçonaria têm lugar central, é, afinal, não
só enquadrar os acontecimentos de 31 de Janeiro e a marcha ascensional para
revolução posterior de 5 de Outubro, mas também compreender que esta data
gloriosa marcou, no tempo, as “necessidades e as aspirações nacionais” de
liberdade redentora, pela construção de instituições constitucionais, liberais
e democráticas (...)"
J.M.M. (datado de 31 de Janeiro de 2014)
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