Camilo
de Almeida Pessanha (1867-1926) nasce em Coimbra a 7 de Setembro de 1867. Era
filho de Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira (governante de casa de
estudantes) e foi registado como filho de pai incógnito. Só em 1884 é
perfilhado pelo pai, Francisco de Almeida Pessanha (advogado). Estuda em
Coimbra, onde se forma em Direito (Junho de 1891), exercendo cargos esporádicos
relacionados com a profissão em Mirandela ou em Óbidos, pelo que procura, no
“Ultramar”, garantir um trabalho permanente. Assim acontece, quando consegue a
nomeação para leccionar a cadeira de Filosofia no Liceu Normal de Macau, onde
chega a 10 de Abril de 1894 [cf Paulo Franchetti, O essencial sobre Camilo
Pessanha, 2008], integrando o seu núcleo fundador.
O
futuro autor de Clepsydra, começa então a produzir os seus primeiros versos,
entre esse Macau misterioso, onde trabalha e vive [torna-se amigo de Wenceslau
de Moraes, visitando com ele Hong-Kong], e a metrópole, que revisita amiúde [Camilo
Pessanha, fortemente dependente do ópio, tinha “delicada constituição física”,
tendo-lhe sido diagnosticado uma “anemia palustre” – ver sobre este assunto
Danilo Barreiros, “O Testamento de Camilo Pessanha”, Lisboa, 1961],
frequentando então em Lisboa as diversas tertúlias do “Martinho”, do
“Restaurant Londres” ou a da “Cervejaria Trindade", fazendo amizade com Carlos
Amaro, a família de Ana de Castro Osório, Afonso Lopes Vieira – ao mesmo tempo
que se torna notado
[passe
a polémica existente em torno da sua “verdadeira” biografia, a existir, que vai
de um homem atormentado pela ópio, sem qualquer atributos, incapaz, ridículo e
displicente, a um poeta com génio, dândi, elegante e excêntrico, tímido e
misantropo, incorrigível fumador de ópio – sob os seus biógrafos e este curioso
assunto, ver Franchetti, op. cit; tb. Danilo Barreiros, ibidem; ou a discutida
biografia de Francisco Penajóia (aliás Francisco de Carvalho e Rego) reeditada
na “Homenagem …”; do mesmo modo os artigos de Guilherme de Castilho, no Comércio do
Porto (13 Abril 1954) e no 1º de Janeiro 815 Agosto 1962); ou tb o trabalho de
António Dias Miguel, “Camilo Pessanha: elementos para o estudo da sua biografia
e a sua obra”, revista Ocidente, 1956; ver, principalmente, a importante obra, sob
org. de Daniel Pires, “Homenagem a Camilo Pessanha”, Macau, 1990]
pelo
seu saber jurídico (foi advogado, conservador do registo predial e juiz), pelo
exercício da docência no Liceu Normal de Macau (mais tarde no Instituto Comercial,
como professor de Economia Política e de Direito Comercial), por ser um curioso
(e apaixonado) coleccionador de arte chinesa [que doou a Portugal, originando,
posteriormente, uma polémica com José Figueiredo, director dos Museus, pela não
exposição das peças da colecção; uma sua segunda colecção foi doada ao Museu
Machado de Castro, de Coimbra; diga-se que a par da colecção de arte chinesa de
Camilo Pessanha existia outras, também invulgares, como a de José Vicente Jorge
(em parte desaparecida) e de Manuel Silva Mendes (que está em Macau),
curiosamente todos eles obreiros da Loja Luís de Camões de Macau], pelo seu modo
de vida desregrado.
Foi
republicano assumido, constando o seu nome na assinatura (dia 11 de Outubro de
1910) do Auto da Proclamação da República, no Leal Senado de Macau, faz
parte do grupo fundador do “Instituto de Macau”, colabora em diferentes
periódicos, como “O Progresso”, “Os Livres”, “Novidades”, “Jornal Único”, “O
Lusitano”, “Tribuna” (de Lisboa). “Almanaque do Correio da Europa para 1889”,
“Ave Azul”, “O Porvir” (de Hong Kong), “Almanaque de Lembranças Madeirense para
1908”, “A Verdade”, “O Macaense”, “A Pátria”, revista “Figueira”, revista
“Centauro”.
Morre
a 1 de Março de 1926, segundo o certificado de óbito, de “tuberculoso pulmonar”.
O elogio fúnebre foi feito pelo reitor do Liceu de Macau, Carlos Borges Delgado
(seu Irmão da Loja Luís de Camões), que referiu o seu “espírito altamente
filosófico e amplamente liberal, alma aberta a todas as dores e infortúnios,
encarava a vida desprendidamente, sem os preconceitos vãos que por aí pululam,
a contaminar tudo e todos”, tendo-se feito referência à sua condição de maçon,
no jornal “O Combate”, de 4 de Março [ver Danilo Barreiros, ibidem; consultar,
ainda, nesta obra, a notícia da cerimónia fúnebre, pp. 11-30; ver, também, a
“Cronologia da Vida e Obra de Camilo Pessanha", AQUI]
[A CONTINUAR]J.M.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário