quinta-feira, 12 de março de 2015

CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE I


Camilo de Almeida Pessanha (1867-1926) nasce em Coimbra a 7 de Setembro de 1867. Era filho de Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira (governante de casa de estudantes) e foi registado como filho de pai incógnito. Só em 1884 é perfilhado pelo pai, Francisco de Almeida Pessanha (advogado). Estuda em Coimbra, onde se forma em Direito (Junho de 1891), exercendo cargos esporádicos relacionados com a profissão em Mirandela ou em Óbidos, pelo que procura, no “Ultramar”, garantir um trabalho permanente. Assim acontece, quando consegue a nomeação para leccionar a cadeira de Filosofia no Liceu Normal de Macau, onde chega a 10 de Abril de 1894 [cf Paulo Franchetti, O essencial sobre Camilo Pessanha, 2008], integrando o seu núcleo fundador.
O futuro autor de Clepsydra, começa então a produzir os seus primeiros versos, entre esse Macau misterioso, onde trabalha e vive [torna-se amigo de Wenceslau de Moraes, visitando com ele Hong-Kong], e a metrópole, que revisita amiúde [Camilo Pessanha, fortemente dependente do ópio, tinha “delicada constituição física”, tendo-lhe sido diagnosticado uma “anemia palustre” – ver sobre este assunto Danilo Barreiros, “O Testamento de Camilo Pessanha”, Lisboa, 1961], frequentando então em Lisboa as diversas tertúlias do “Martinho”, do “Restaurant Londres” ou a da “Cervejaria Trindade", fazendo amizade com Carlos Amaro, a família de Ana de Castro Osório, Afonso Lopes Vieira – ao mesmo tempo que se torna notado

[passe a polémica existente em torno da sua “verdadeira” biografia, a existir, que vai de um homem atormentado pela ópio, sem qualquer atributos, incapaz, ridículo e displicente, a um poeta com génio, dândi, elegante e excêntrico, tímido e misantropo, incorrigível fumador de ópio – sob os seus biógrafos e este curioso assunto, ver Franchetti, op. cit; tb. Danilo Barreiros, ibidem; ou a discutida biografia de Francisco Penajóia (aliás Francisco de Carvalho e Rego) reeditada na “Homenagem …”; do mesmo modo os artigos de Guilherme de Castilho, no Comércio do Porto (13 Abril 1954) e no 1º de Janeiro 815 Agosto 1962); ou tb o trabalho de António Dias Miguel, “Camilo Pessanha: elementos para o estudo da sua biografia e a sua obra”, revista Ocidente, 1956; ver, principalmente, a importante obra, sob org. de Daniel Pires, “Homenagem a Camilo Pessanha”, Macau, 1990]

pelo seu saber jurídico (foi advogado, conservador do registo predial e juiz), pelo exercício da docência no Liceu Normal de Macau (mais tarde no Instituto Comercial, como professor de Economia Política e de Direito Comercial), por ser um curioso (e apaixonado) coleccionador de arte chinesa [que doou a Portugal, originando, posteriormente, uma polémica com José Figueiredo, director dos Museus, pela não exposição das peças da colecção; uma sua segunda colecção foi doada ao Museu Machado de Castro, de Coimbra; diga-se que a par da colecção de arte chinesa de Camilo Pessanha existia outras, também invulgares, como a de José Vicente Jorge (em parte desaparecida) e de Manuel Silva Mendes (que está em Macau), curiosamente todos eles obreiros da Loja Luís de Camões de Macau], pelo seu modo de vida desregrado.
Foi republicano assumido, constando o seu nome na assinatura (dia 11 de Outubro de 1910) do Auto da Proclamação da República, no Leal Senado de Macau, faz parte do grupo fundador do “Instituto de Macau”, colabora em diferentes periódicos, como “O Progresso”, “Os Livres”, “Novidades”, “Jornal Único”, “O Lusitano”, “Tribuna” (de Lisboa). “Almanaque do Correio da Europa para 1889”, “Ave Azul”, “O Porvir” (de Hong Kong), “Almanaque de Lembranças Madeirense para 1908”, “A Verdade”, “O Macaense”, “A Pátria”, revista “Figueira”, revista “Centauro”.
Morre a 1 de Março de 1926, segundo o certificado de óbito, de “tuberculoso pulmonar”. O elogio fúnebre foi feito pelo reitor do Liceu de Macau, Carlos Borges Delgado (seu Irmão da Loja Luís de Camões), que referiu o seu “espírito altamente filosófico e amplamente liberal, alma aberta a todas as dores e infortúnios, encarava a vida desprendidamente, sem os preconceitos vãos que por aí pululam, a contaminar tudo e todos”, tendo-se feito referência à sua condição de maçon, no jornal “O Combate”, de 4 de Março [ver Danilo Barreiros, ibidem; consultar, ainda, nesta obra, a notícia da cerimónia fúnebre, pp. 11-30; ver, também, a “Cronologia da Vida e Obra de Camilo Pessanha", AQUI]
[A CONTINUAR]

J.M.M.

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