Camilo
Pessanha é iniciado na maçonaria, com o número 6980, a 27 (ou 29?) de Novembro
de 1910, na Loja Luís de Camões II, nº
309 do GOLU, de Macau [Camilo Pessanha chega a Macau a 10 de Abril de 1894],
com o n.s. de “Angélico”, ascendendo a 6 de Junho de 1916 ao grau 15.º e em 22
de Julho, desse ano, ao grau 18.º (Cavaleiro Rosa-Cruz); em 1918, tinha já o
grau 25.º; a 15 de Setembro de 1919 ascende ao grau 30.º [os seus Irmãos são
“José Vicente Jorge, Constâncio José da Silva e, eventualmente, Silva Mendes” -
ver AQUI). Na loja teve o cargo de Orador (1911 – cf. Boletim Oficial do GOLU,
Janeiro-Março, 1911, p. 31) e foi Venerável da Luís de Camões nº 383 (a loja reergueu-se em 1915, depois
de abater colunas em 1914, daí o novo número de registo, conforme adiante
referiremos).
[AO
ALTO] “Um curioso documento assinado por Camilo Pessanha. É bem conhecida a
filiação maçónica do poeta da ‘Clepsidra’ e o facto de ter pertencido à Loja
Luís de Camões, de Macau, na qual desempenhou durante muitos anos o cargo de
Vigilante (Presidente). Este documento comprova tal facto. Trata-se de um
atestado em nome do oficial do exército Joaquim Felizardo Adão Antunes, datado
de 19 de Outubro de 1918, selado e assinado por Camilo Pessanha, na qualidade
de venerável, e por outros oficiais da loja” [via António Ventura Facebook]
A
Loja Luís de Camões II, nº 309,
[tenha
em conta que existia uma outra Loja com o mesmo Patrono, a Luís de Camões, a
Oriente de Lisboa, que instalada em 1895 com o número de registo 195, mas que
em 1902, quando regressa ao GOLU depois ter aderido ao Grande Oriente de Portugal, recebe o nº
226. Por outro lado, no que diz respeito à actividade de lojas maçónicas em
Macau, diga-se que não há documentos conhecidos que refiram a existência de qualquer
loja ou triângulo, anterior a 1906. Por isso a alusão a uma denominada Loja Luís
de Camões de Macau, presumidamente a partir da Loja Lusitanea (1815), loja de exilados
portugueses em Londres - onde era Venerável Hipólito José da Costa e debaixo
dos auspícios da Grande Loja de Inglaterra -, não se pode confirmar. Conhecido
é documentação avulsa de instalações de Lojas sob o domínio da Grande Loja da
Suécia e de Inglaterra no Cantão, por volta de 1788, mas, curiosamente, nada
nos é referido sobre a região de Macau.
Porém,
alguns dos mais antigos (conhecidos) maçons residentes em Macau participaram activamente
nos movimentos liberais do seu tempo, tendo mesmo fundado importantes clubes de
reflexão política, social e cultural. De facto, no período anterior a 1906, em
Hong Kong e em Macau, alguns prestigiados portugueses foram tidos como maçons.
Como exemplo, o médico ateu, darwinista e republicano Lourenço Pereira Marques (1852-1911) e Polycarpo da Costa (1837-1884) gozavam de especial estatuto nos
círculos maçónicos, principalmente de Hong Kong. É possível que L. Pereira Marques
tenha sido iniciado antes do seu regresso a Hong Kong em 1882 (na Grande Loja de
Dublin – 1877 ? -, cidade onde se diplomou, ou até mesmo em Portugal, numa das
lojas pertences à Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês, anteriormente a esta
obediência integrar, em 1872, o GOLU); quanto a Polycarpo da Costa esta
confirmado a sua filiação maçónica a partir da descrição do seu funeral,
noticiado em periódicos da época, e pela simbólica presente no seu mausoléu. De
igual modo seriam (?) maçons, José
Osório de Castro Cabral e Albuquerque (1779-1857, governador de Macau,
iniciado na Loja Audácia, de Coimbra em 1838, com o n.s. Leónidas – refª A.H.
Oliveira Marques); Adrião Acácio da
Silveira Pinto (17xx-1868, tenente-coronel e governador de Macau, entre
1837-1843, mais tarde governador de Angola, 1848-51); o Barão do Cercal, António Alexandrino de Melo (1837-1885
– ver mais em “Galeria de Macaenses Ilustres do século XIX”, de P. Manuel
Teixeira, Macau, 1942, pp. 243-264); Assim sendo - e tendo em conta a difícil
situação político-religiosa da época e o secretismo que se exigia - a
existência de oficinas maçónicas, com influência ou auspícios de portugueses é hipótese
a considerar – sobre esta questão e mais apontamentos acerca da Loja Luís de
Camões, ver João Guedes, “Subsídio para a Historia da Maçonaria em Macau”]
do
REAA, foi instalada em 1909 e
resultou da transformação do triângulo
nº 90 [instalado pelo Decreto nº7 de 23 de Janeiro de 1906 – cf. Boletim do
GOLU, Junho de 1907, p. 11], por iniciativa da loja maçónica de Coimbra, Pro
Veritate. A sua acção em Macau é determinante na “proclamação da República”,
tendo pertencido à loja um número significativo de militares, advogados,
funcionários públicos e jornalistas.
Abateu
colunas em 1914 (José Bernardo Ferreira, na sua obra “Maçonaria Universal”,
1921, à p. 156, refere a data do Decreto de dissolução, o dia 2 de Março de
1915). E no ano de 1915 [Decreto nº13, de 8 de Abril de 1915] reergueu colunas
[“sem os elementos indesejados” – cf. Arnaldo Gonçalves, “A primeira República,
Macau e os Maçons”, Revista da Maçonaria, nº2, Fevereiro de 2012, p. 84] agora
com o número de registo nº 383,
mantendo-se em actividade até à clandestinidade – refª A.H.O.M., in Dicionário
… – sendo que em 1947, ainda havia notícias que se mantinha em trabalho [sobre
o surgimento da Maçonaria em Macau, a Loja Luís de Camões, o seu quadro, bem
como o percurso maçónico de Camilo Pessanha, consultar o excelente artigo de
Arnaldo Gonçalves, ibidem; de igual modo, cf. João Guedes].
[A CONTINUAR]
J.M.M.
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