Refira-se
que passaram por Macau, aí trabalharam e viveram, muitos maçons vindos da
metrópole, tais como Francisco Isidoro
Guimarães [governador de Macau, na monarquia], Custódio Miguel de Borja [1849-1911; oficial da marinha, deputado,
governador de Macau entre 1890-94, maçon com n.s. de “Nelson”, tendo feito
parte do Grande Oriente de Portugal, do qual foi seu último Grão-Mestre]. Já
depois da República registe-se José Carlos da Maia [n. Olhão em 1878-1921; oficial
da Armada, maçon com n.s. de João Afonso (fez parte da cisão em 1914 no GOLU) e
carbonário, deputado à Constituinte, governador de Macau entre 1914-1916, sidonista
e ministro da Marinha, é assassinato na “Noite Sangrenta” de Outubro de 1921], [Francisco
Gonçalves] Velhinho Correia [foi
professor do liceu de Macau, eleito deputado de Macau em Lisboa, ministro em
1920 e 1923, tendo aderido ao Estado Novo; foi iniciado, em 1907, com o n.s.
Padre Eterno, na loja Solidariedade, de Lisboa], o que deu, de algum modo,
muito alento ao trabalho maçónico.
Na
sequência da proibição da maçonaria pelo Decreto-lei nº 1901, de 21 de Maio de
1935, a triangulação das lojas, ordenado pelo GOLU, foi cumprida, também, em
Macau. Pouco se sabe sobre o assunto, mas é adquirido que os irmãos se
continuavam a reunir. Refira-se que se considera ter existido, nesse período,
duas lojas em Macau, uma a Luís de Camões (GOLU) e outra constituída por
cidadãos britânicos refugiados de Hong Kong, sob obediência da UGLE.
Da(s)
Loja(s) Luís de Camões [houve alguns obreiros que transitaram da primitiva loja
nº 309, mas a maioria, aqui citada, pertenceu aquela que levantou colunas em
1915, a nº383], de Macau, fizeram parte [segundo o parecer de 1935 da Câmara
Corporativa que levou à extinção das Sociedades Secretas, a Loja Luís de Camões
tinha “chegado aos 102 membros” – cf. Arnaldo Gonçalves, ibidem], com muita
segurança, os seguintes obreiros:
Álvaro Cardoso Mello Machado [iniciado
na Loja Liberdade, de Lisboa, foi Venerável da Loja de Macau em 1912; republicano,
oficial da marinha, fundador do escutismo em Macau, foi governador-interino de
Macau – nomeado a 9 de Dezembro de 1910, depois chefe de gabinete (1914) do
governador-geral de Moçambique, administrador delegado nos caminhos-de-ferro de
Benguela] | António Afonso de Carvalho (oficial
da armada?) | António Antillos | António Antunes [co-fundador da Loja,
militar e, depois, comandante da PSP] | António
Augusto Pacheco [Venerável em 1909 – cf. Anuário GOLU de 1909, p. 126; foi
oficial da repartição superior da Fazenda até 1911, passando depois, em Janeiro
de 1911, a sub-inspector da Fazenda da Guiné] | Camilo Pessanha [foi Venerável da Loja – ver figura] | Carlos Borges Delgado (professor do Liceu
Central de Macau, mais tarde Reitor; foi pres. do Leal Senado) | Constâncio José da Silva [co-fundador e
Venerável em 1910 e, depois, em 1915, já exercendo o veneralato na segunda
loja, com o nº 383; advogado e jornalista republicano; vice-presidente da
Câmara, director do jornal anticlerical “A Verdade” e, depois, editor, proprietário
e director d’O Liberal, 1922-23] | Damião
Rodrigues [notário, advogado, pres. do Leal Senado e um ousado e combativo
reviralhista; ousou enfrentar Artur Tamagnini Barbosa – então governador de
Macau e membro da ditadura militar saído do 28 de Maio de 1926 – e por isso foi
preso e deportado para Timor; curiosamente – ver AQUI – no seu posterior
regresso a Macau coloca “na parede do átrio de entrada de sua casa um retrato
de grandes dimensões do ex-líder do Partido Democrático Afonso Costa” e assim o
“manteve bem patente em simbólico desafio à ditadura até à sua morte em 22 de
Julho de 1942] | Domingos Gregório Rosa
Duque [iniciado em Fevereiro de 1916, ascendeu ao 20.º grau em 1921, tendo
sido Venerável da Loja; um dos sargentos do exército presentes no dia 5 de
Outubro na Rotunda, ao lado de Machado Santos; enviado para o exílio em Angola,
pelo incomodo que revelava na vida militar e política, porém mantém a sua
rebeldia e irreverência, pelo que foi afastado da vida militar e enviado para novo
exílio, agora em Macau; mais tarde foi reintegrado no exército, como capitão;
jornalista e polemista notável, foi secretário do jornal “O Liberal”, dirigido por
Constâncio José da Silva; em Fevereiro de 1923 é editor e director do semanário
republicano “Combate”, jornal onde já depois do 28 de Maio de 1926, declara a
sua filiação maçónica (grau 33.º) no artigo com o título A Maçonaria, os estudantes
reaccionários e ‘A Pátria’; funda o periódico “A Voz da Macau”, 1931] |
Elísio Tavares [nasceu em 1896 em
Coja; foi farmacêutico e administrador do jornal “O Liberal”] | Francisco Hermenegildo Fernandes [1863-1923;
co-fundador da Loja, republicano, tradutor no Supremo Tribunal de Hong-Kong e combativo
jornalista; proprietário da tipografia Mercantil; foi amigo, apoiante e
protector de Sun Yat-sen, futuro presidente provisório da República da China,
dando-lhe guarida na sua casa, aquando da sua fuga de Cantão, tendo, depois,
estado presente na recepção que Sun Yat-sen deu em Macau, em 1912, juntamente
com outros republicanos e maçons (diz-se que Sun Yat-sen, foi recebido, como
visitante, na Loja Luís de Camões, em 1913); pertenceu ao Leal Senado; foi
director do jornal “Echo Macaense” (1893-1899), tendo em Abril de 1896 sido
afastado pela Lei da Imprensa] | Francisco
Xavier Anacleto da Silva [advogado,
presidente do Leal Senado] | Henrique
Lapa Travassos Velez [republicano, oficial da marinha] | Herman Machado Monteiro [n. Celorico de
Basto 1899, republicano auto-exilado em Macau pelo golpe de 28 de Maio de 1926,
proprietário e editor do “Jornal de Notícias” de Macau, um dos fundadores do
Rotary Club de Macau] | João de Freitas
Ribeiro (capitão de fragata) | João
Silva [oficial da armada] | Joaquim
Felizardo Adão Antunes [oficial
do exército, prof. do Liceu Normal de Macau] | D. José da Costa Nunes [n. na Ilha do Pico em 1880, frequenta o
liceu na Horta, depois o seminário episcopal da Terceira; parte para Macau em
1902 e trabalha nas missões de Malaca e Singapura; foi bispo da diocese de
Macau (1920-40), um dos fundadores do jornal “Oriente” e do Instituto de Macau;
foi professor, escritor e jornalista (escreveu sob pseud. em vários periódicos,
como “A Voz”, “O Telégrafo” ou a “Vida Nova”; aderente ao Estado Novo, foi
elevado a Cardeal em 1962, tendo falecido em Roma em 1976] | José Luís Marques [n. Braga 1862-m.
Macau 1934; militar e presidente do Leal Senado: co-fundador da Loja] | José Vicente Jorge [n. Macau 1872- m. Lisboa em 1948; amigo pessoal de
Camilo Pessanha, tendo sido seu testamenteiro; leccionou no Liceu Central de
Macau e em várias outras escolas; intérprete-sinólogo – trabalhou na Legação de
Portugal em Pequim e em Macau, em 1911 -, solicitador da comarca de Macau, tradutor
e notável coleccionador de arte chinesa; a sua valiosa colecção foi vendida, ao
que parece, para os Estados Unidos] | Mário
de Campos Nery [n. 1890; funcionário das Obras Públicas] | Miguel Wagner Russell (Venerável em
1915 – cf. Boletim Oficial GOLU, Maio de 1909, p. 33), Rodrigo Marim Chaves [sargento, director do jornal “A Colónia” e da
Imprensa Nacional de Macau] | Telo de
Azevedo Gomes [n. 1892-1974; bacharel em Filosofia Natural pela UC;
professor e co-fundador do Instituto de Macau] | Wenceslau de Moraes [1854-1929; oficial da marinha de guerra, prestou
serviço em Moçambique, Macau, Timor; foi imediato do porto de Macau; pertenceu
ao grupo de docentes que funda o Liceu de Macau; foi cônsul de Portugal em
terras do Japão; notável escritor] – cf. ibidem; ver tb. João Guedes, AQUI]
Em
1961, Danilo Barreiros publica "O Testamento de Camilo Pessanha", obra relevante
para a biografia do poeta Camilo Pessanha, onde divulga a sua filiação maçónica. Curiosamente,
Marcelo Caetano [1 de Outubro de 1961] escreve a Danilo Barreiros, "lamentando
que este ensaísta tenha divulgado a filiação maçónica de Camilo Pessanha. Em
contrapartida, Vitorino Nemésio felicita inequivocamente o autor daquela obra"
[AQUI]. Diga-se, ainda, que, a 7 de Setembro de 1967, a “Livraria Sá da Costa
expõe vários espécimes bibliográficos de Camilo Pessanha, cedidos por Danilo
Barreiros. Entre eles, encontrava-se um diploma da Maçonaria referente a Camilo
Pessanha. Dois dias depois, a Polícia Política invadiu a editora, deteve um
funcionário e apreendeu todo o material exposto, que só veio a ser recuperado
mais tarde” [ibidem].
Fontes
Principais: Albert MacKey, Encyclopedia of Freemasonry, 2002; Arnaldo
Gonçalves, “A Primeira Republica, Macau e os Maçons”, rev da Maçonaria, nº2,
2012; [Daniel Pires, org.] “Homenagem a Camilo Pessanha”, Macau, 1990; Danilo
Barreiros, “O Testamento de Camilo Pessanha”, Lisboa, 1961; Paulo Franchetti,
“O essencial sobre Camilo Pessanha”, INCM, 2008; especial referência aos
artigos (já citados) de Arnaldo Gonçalves e de João Guedes; ler também os 2 artigos de António Valdemar, "Camilo Pessanha faria hoje 100 anos. 'Águia de Prata'. Um inédito do poeta que se deixou devorar pelo ópio para matar as 'violentas saudades", publicados no "Diário de Notícias" de 7 e 8 de Setembro de 1967 [pela importância, mormente a questão dos inéditos apresentados e a evocação de Camilo Pessanha via a célebre montra da Livraria Sá da Costa e que envolveu a rápida intervenção da PIDE, voltaremos a este particular assunto].
J.M.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário