terça-feira, 3 de março de 2015

CONFERÊNCIA – FUNDAMENTALISMOS, DEMOCRACIA E LIBERDADE


CONFERÊNCIA: Fundamentalismo, Democracia e Liberdade;

DATA: 6 de Março 2015 (19,00 horas);
LOCAL: Escola Oficina nº1 [Largo da Graça, nº 58, Lisboa];
ORGANIZAÇÃO: Museu Maçónico Português [Ciclo “Novos Paradigmas”]

ORADORES: dr. Rui Pereira (Política, Direitos, Liberdades e Garantias); Prof. Heitor Romana (Segurança Interna); dr. Henrique Monteiro (Liberdade de Imprensa); Almirante Augusto Pinho (Defesa Nacional e Atlântica).

“O actual modelo de Maçonaria humanista constituiu-se em Inglaterra, em 1717, como fraternidade universal, sobre as cicatrizes e as cinzas dos tremendos conflitos religiosos que assolaram, dividiram e arrasaram a Europa durante a cruel Guerra dos Trinta Anos, que teve profundas consequências no plano religioso, nas alianças das várias casas dinásticas, no reordenamento territorial, económico e demográfico da época.
Os caminhos do futuro impõem a Reforma e a criação de uma Europa plural.

Os maçons de antanho face a esta grave crise fracturante proclamaram como valores primaciais a tolerância e a liberdade de consciência, princípios agregadores de uma fraternidade iniciática, que ao longo da sua caminhada, de então até aos dias de hoje, soube unir homens que doutra forma estariam dispersos.

Os Maçons crescem e co-habitam assim, ad initio, no caldo dos valores humanistas e constitucionais da Maçonaria emergente, que são a tolerância, a liberdade de consciência, a fraternidade, o primado do indivíduo, a autonomia, a justiça e o respeito pela dignidade da pessoa humana.
Estes valores humanistas e liberais, fundacionalmente perfilhados pelos maçons, levaram a que estes estivessem na linha da frente das várias conquistas sociais da Humanidade, isto é, na abolição da escravatura e da pena de morte, na defesa e implementação dos regimes constitucionais, na construção dos estados democráticos de direito, na defesa dos direitos liberdades e garantias, na promulgação da Carta dos Direitos do Homem, na luta da emancipação e dos direitos da mulher, na luta pela instrução pública, pela cidadania e por uma sociedade mais fraterna, que permita igual tratamento e acesso dos cidadãos face à lei, pugnando pela igualdade de oportunidades destes no acesso ao bem-estar social.

Os maçons na sua praxis, como fraternidade iniciática e humanista, sempre pugnaram pelo aperfeiçoamento individual e o subsequente aperfeiçoamento da pátria e da humanidade, proclamando, de uma forma inequívoca, o seu combate contra a tirania, o fanatismo, a ignorância e os preconceitos, exaltando a elevação espiritual e intelectual dos homens.
Este substrato de valores da sua conduta ocasionou, inevitavelmente, nos primórdios da sua existência em Portugal, no início do séc. XVIII, perseguições pela Inquisição.

Os maçons em Portugal souberam pela perseverança do seu trabalho na defesa destes valores afirmar um espaço de convívio plural contra a adversidade da Inquisição, o que permitiu, inclusivamente, o ingresso posterior de inúmeros membros do clero, mormente altos dignitários, isto apesar das bulas papais que o interditavam. Esta situação levou mais tarde a que, nomeadamente, o Padre Marcos Pinto Soares Vaz Preto, Arcebispo de Lacedemónia (confessor de D. Pedro IV e de D. Maria II), tenha sido grão-mestre, desempenhando um importante papel na reforma liberal do país.
Este espaço de co-habitação plural entre maçons na maçonaria portuguesa, apesar dos acesos confrontos entre constitucionalistas, liberais e absolutistas, permitiu que a roda da história caminhasse sempre rumo ao futuro.

Nos anos de 1935 a 1945 emergem as ditaduras e os regimes fascistas por toda a Europa continental; os maçons são perseguidos, mas com a contribuição do seu trabalho perseverante faz-se prevalecer a respiração da liberdade e a confiança nos dias vindouros. Emerge um vulto político na Europa de então, na defesa da liberdade e do estado democrático de direito, que foi o maçon Sir Winston Churchill, abrindo o caminho de futuro para uma Europa democrática e plural.
Nos momentos actuais emerge um novo paradigma globalizado com novos contornos de investida contra direitos, liberdades e garantias tão arduamente conquistados ao longo de séculos por homens que sabem que a ética e a cidadania se constroem e exercem no dia-a-dia e que a justiça não pode ficar à porta da cidade.

A ocorrência dos recentes atentados do fundamentalismo exige uma reflexão apurada das suas implicações nas regras de convivência plural e de cidadania no estado democrático de direito, mas não podem pôr em causa um projecto em permanente estádio de traçado e de que somos herdeiros, mas também autores, que é a sempre inacabada e frágil eterna utopia de construção da democracia e da liberdade, de uma sociedade mais justa, mais perfeita e harmónica, onde haja espaço para a afirmação da dignidade da pessoa humana e para o pleno desenvolvimento das gerações vindouras.
É obrigação dos maçons e dos homens e mulheres de bem permitir que os nossos filhos e netos possam rir, correr e abrir os braços ao sol e à alegria de construírem a cidadania do futuro, não deixando que o medo se instale nos seus corações e tolde o amor fraterno, cimento da esperança do convívio plural, democrático e solidário entre homens e mulheres de amanhã, de diferentes raças e credos políticos e religiosos.

É este repto de reflexão que lançámos a um naipe de oradores de referência para que nos coadjuvem num debate de ideias mais profundo sobre os desafios com que somos actualmente confrontados no plano da “Política – direitos, liberdades e garantias”, da ”Segurança Interna”, da “Defesa Nacional e Atlântica” e no da “Liberdade de Imprensa”.
Contando com a vossa participação, apresento os meus cumprimentos.”

[Fernando Castel-Branco Sacramento - Director do Museu Maçónico Português]

J.M.M.

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