CONFERÊNCIA: Fundamentalismo,
Democracia e Liberdade;
DATA: 6 de Março 2015 (19,00 horas);
LOCAL: Escola Oficina nº1 [Largo da Graça, nº 58, Lisboa];ORGANIZAÇÃO: Museu Maçónico Português [Ciclo “Novos Paradigmas”]
ORADORES: dr. Rui Pereira (Política, Direitos, Liberdades e Garantias); Prof. Heitor
Romana (Segurança Interna); dr. Henrique Monteiro (Liberdade de
Imprensa); Almirante Augusto Pinho (Defesa Nacional e Atlântica).
“O actual modelo de
Maçonaria humanista constituiu-se em Inglaterra, em 1717, como fraternidade
universal, sobre as cicatrizes e as cinzas dos tremendos conflitos religiosos
que assolaram, dividiram e arrasaram a Europa durante a cruel Guerra dos Trinta
Anos, que teve profundas consequências no plano religioso, nas alianças das
várias casas dinásticas, no reordenamento territorial, económico e demográfico
da época.
Os caminhos do
futuro impõem a Reforma e a criação de uma Europa plural.Os maçons de antanho face a esta grave crise fracturante proclamaram como valores primaciais a tolerância e a liberdade de consciência, princípios agregadores de uma fraternidade iniciática, que ao longo da sua caminhada, de então até aos dias de hoje, soube unir homens que doutra forma estariam dispersos.
Os Maçons crescem e
co-habitam assim, ad initio, no caldo dos valores humanistas e constitucionais
da Maçonaria emergente, que são a tolerância, a liberdade de consciência, a
fraternidade, o primado do indivíduo, a autonomia, a justiça e o respeito pela
dignidade da pessoa humana.
Estes valores
humanistas e liberais, fundacionalmente perfilhados pelos maçons, levaram a que
estes estivessem na linha da frente das várias conquistas sociais da
Humanidade, isto é, na abolição da escravatura e da pena de morte, na defesa e
implementação dos regimes constitucionais, na construção dos estados
democráticos de direito, na defesa dos direitos liberdades e garantias, na
promulgação da Carta dos Direitos do Homem, na luta da emancipação e dos
direitos da mulher, na luta pela instrução pública, pela cidadania e por uma
sociedade mais fraterna, que permita igual tratamento e acesso dos cidadãos
face à lei, pugnando pela igualdade de oportunidades destes no acesso ao
bem-estar social.
Os maçons na sua
praxis, como fraternidade iniciática e humanista, sempre pugnaram pelo
aperfeiçoamento individual e o subsequente aperfeiçoamento da pátria e da
humanidade, proclamando, de uma forma inequívoca, o seu combate contra a
tirania, o fanatismo, a ignorância e os preconceitos, exaltando a elevação
espiritual e intelectual dos homens.
Este substrato de
valores da sua conduta ocasionou, inevitavelmente, nos primórdios da sua
existência em Portugal, no início do séc. XVIII, perseguições pela Inquisição.
Os maçons em
Portugal souberam pela perseverança do seu trabalho na defesa destes valores
afirmar um espaço de convívio plural contra a adversidade da Inquisição, o que
permitiu, inclusivamente, o ingresso posterior de inúmeros membros do clero, mormente
altos dignitários, isto apesar das bulas papais que o interditavam. Esta
situação levou mais tarde a que, nomeadamente, o Padre Marcos Pinto
Soares Vaz Preto, Arcebispo de Lacedemónia (confessor de D. Pedro
IV e de D. Maria II), tenha sido grão-mestre, desempenhando um importante papel
na reforma liberal do país.
Este espaço de
co-habitação plural entre maçons na maçonaria portuguesa, apesar dos acesos
confrontos entre constitucionalistas, liberais e absolutistas, permitiu que a
roda da história caminhasse sempre rumo ao futuro.
Nos anos de 1935 a
1945 emergem as ditaduras e os regimes fascistas por toda a Europa continental;
os maçons são perseguidos, mas com a contribuição do seu trabalho perseverante
faz-se prevalecer a respiração da liberdade e a confiança nos dias vindouros.
Emerge um vulto político na Europa de então, na defesa da liberdade e do estado
democrático de direito, que foi o maçon Sir Winston Churchill, abrindo o
caminho de futuro para uma Europa democrática e plural.
Nos momentos actuais emerge um novo paradigma globalizado com novos
contornos de investida contra direitos, liberdades e garantias tão arduamente
conquistados ao longo de séculos por homens que sabem que a ética e a cidadania se
constroem e exercem no dia-a-dia e que a justiça não pode ficar à porta da
cidade.
A ocorrência dos
recentes atentados do fundamentalismo exige uma reflexão apurada das suas
implicações nas regras de convivência plural e de cidadania no estado
democrático de direito, mas não podem pôr em causa um projecto em permanente
estádio de traçado e de que somos herdeiros, mas também autores, que é a sempre
inacabada e frágil eterna utopia de construção da democracia e da liberdade, de
uma sociedade mais justa, mais perfeita e harmónica, onde haja espaço para a
afirmação da dignidade da pessoa humana e para o pleno desenvolvimento das
gerações vindouras.
É obrigação dos
maçons e dos homens e mulheres de bem permitir que os nossos filhos e netos
possam rir, correr e abrir os braços ao sol e à alegria de construírem a
cidadania do futuro, não deixando que o medo se instale nos seus corações e
tolde o amor fraterno, cimento da esperança do convívio plural, democrático e
solidário entre homens e mulheres de amanhã, de diferentes raças e credos
políticos e religiosos.
É este repto de
reflexão que lançámos a um naipe de oradores de referência para que nos
coadjuvem num debate de ideias mais profundo sobre os desafios com que somos
actualmente confrontados no plano da “Política – direitos, liberdades e garantias”, da ”Segurança Interna”, da “Defesa Nacional e Atlântica” e no da “Liberdade de Imprensa”.
Contando com a vossa participação, apresento os meus
cumprimentos.”
J.M.M.
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