“Leva-me onde as estradas me pertençam.
Porque as vozes viris que me conduzem
Ninguém, melhor do que eu, sabe dizê-las;
Porque eu não temo as livres solidões,
Onde habitam os ventos e as estrelas.”
Porque as vozes viris que me conduzem
Ninguém, melhor do que eu, sabe dizê-las;
Porque eu não temo as livres solidões,
Onde habitam os ventos e as estrelas.”
[Jaime Cortesão, “Ode à Liberdade”]
Maria
de Jesus Simões Lopes Barroso, nasceu a 2 de Maio de 1925, na freguesia da
Fuzeta (Olhão). A mãe, Maria da Encarnação Simões (nasceu em Coimbra), era
professora oficial do ensino primário e o seu pai, foi o capitão do exército,
Alfredo José Barroso
[1887-1970;
nasceu em Montes de Alvor, Portimão; segue a carreira militar, nos regimentos
de Tavira e Setúbal; republicano democrata e reviralhista, participa na revolta
de Fevereiro de 1927 contra a Ditadura; é preso (por diversas vezes mais; a
última acontece quando é detido pela PIDE em 1961, onde é severamente
torturado), mantém as actividades conspirativas, tendo sido detido e deportado
para o Forte de Angra do Heroísmo; passa à reforma no posto de capitão]
Maria
Barroso frequenta o Curso de Arte Dramática do Conservatório Nacional, conclui
o Curso de Teatro (1943), tendo sido figura de relevo em diversas peças
teatrais de estimados autores (Frei Luís de Sousa, Garrett; trabalha na peça
“Benilde ou a Virgem Mãe”, de Régio ou na peça “Casa de Bernarda Alba”, de
Lorca), mas é demitida e afastada dos palcos, pela sua, determinada, oposição à
ditadura do Estado Novo. As suas intervenções culturais, declamando poesia (os
poemas do Novo Cancioneiro, estavam sempre presentes) e textos (com rara
sensibilidade poética) em diversas associações (caso da Academia dos Amadores
de Música) e reuniões públicas, tornavam-na persona non grata ao regime
fascista. Em 1947, num sarau do “Grupo de Acção Cultural” (no Teatro Rosa
Damasceno, Setúbal), ao ler poesias de intervenção social, é detida pela
polícia política.
Entretanto
frequenta (1944-45) o Curso de Ciências Históricas e Filosóficas da
Universidade de Lisboa - onde conhece e casa (2 de Fevereiro de 1949) com Mário
Soares, então detido no Aljube -, licenciando-se, em 1957, com a tese “Valentim
Fernandes e a sua obra”. Nunca pode leccionar no ensino público (e privado),
dado a sua proibição pelo governo de Salazar. Em 1961, dirige o Colégio Moderno
(fundado por João Soares, seu sogro). A sua vertente de pedagoga (e de
liderança) foi muito importante para fazer frente aos soezes e intolerantes ataques
do salazarismo ao Colégio, e é um testemunho de gratidão de toda uma geração
que por lá estudou e leccionou.
Integrou
o MUD, fez parte da Associação Feminina para a Paz, apoiou (e organizou) as
campanhas presidenciais de Norton de Matos e Humberto Delgado, fez a campanha
da CDE (foi candidata, em 1969, a deputada pelo círculo de Santarém). Em 1972,
ao subscrever o manifesto “A Situação Política Portuguesa e o Fracasso do Reformismo”
(logo apreendida pela PIDE) é de novo detida. Em 1973, integra a Comissão do III
Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro, usando da palavra na sua
sessão de abertura. No dia 19 de Abril de 1973, em Bad-Münstereifel (Alemanha)
participa na fundação do Partido Socialista. O 25 de Abril de 1974 (dia tanto
esperado) encontra-a, com Mário Soares, em Bona. Em democracia, foi deputada,
pelo PS, á Assembleia da República pelos círculos do Algarve (1976) e Porto. E
em 1985, com a eleição de Mário Soares à Presidência da República, desenvolve
intensa actividade de apoio aos mais desfavorecidos e contra a exclusão social.
Funda
a “Emergência Moçambique”, a “Associação para o Estudo e Prevenção da
Violência, a Emergência Infantil” e a Pro Dignitate (Fundação para os Direitos
Humanos e Contra a Violência), preside à Cruz Vermelha (1997-2003), é presidente
honorária da UNICEF, e do mesmo modo, preside à Fundação Aristides de Sousa
Mendes (2000).
Foi
uma mulher independente, destemida, de grande ternura, tolerante, solidária e fraterna,
lutadora contra as tiranias, uma mulher de causas, guiada por um entusiasmo e
luz radiante, que a todos contagiam. Uma vida de coerência, verticalidade e
verdade.
Morre a 7 de Junho de 2015.
J.M.M.
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