quinta-feira, 17 de setembro de 2015

18 de JANEIRO DE 1934: HISTÓRIA E MITIFICAÇÃO, POR JOÃO VASCONCELOS


No próximo domingo, 20 de Setembro de 2015, no Auditório do Museu Municipal de Portimão, pelas 16 horas, vai proceder-se à apresentação do livro de João Vasconcelos.

A obra resulta da dissertação de mestrado, realizada na Universidade de Lisboa, agora editada pela Arandis Editora.

Pode ler-se a dado passo da obra:

A chamada «greve geral revolucionária», como ficou conhecido o movimento, vai eclodir apenas na Marinha Grande, Leiria, Coimbra, Almada, Cova da Piedade, Barreiro, Lisboa, Cacém, Vila Boim, Sines, Martingança, Póvoa de Santa Iria, Silves e Algoz. Este movimento, conduzido por uma Frente Única, composta pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), Comissão Inter – Sindical (CIS), Federação das Associações Operárias (FAO), Comissão dos Sindicatos Autónomos e pela Comissão dos Trabalhadores do Estado, as três primeiras filiadas em organizações sindicais internacionais , vai envolver acções de vários tipos: «(...) sabotagens das vias férreas, cortes de linhas telefónicas e telegráficas, atentados e assaltos a um ou outro local económica e politicamente importante, lançamento de bombas em lugares públicos e movimentos de greve propriamente dita. Embora, no plano dos revoltosos, sabotagens, atentados e greve andassem a par e devessem completar-se, nem por todo o lado assim aconteceu. Sabotagens e atentados não foram em número suficiente, nem atingiram centros verdadeiramente nevrálgicos do poder. A greve esteve muito longe de ser geral, começando por falhar rotundamente em Lisboa. Não conseguindo estender-se a todo o território, nem mobilizar o operariado urbano e industrial e, muito menos, atrair outros grupos e classes sociais, o movimento fracassou» . Efectivamente, registaram-se descarrilamentos de comboios em Braga e Póvoa de Santa Iria, este efectuado por comunistas, interrompendo as comunicações nas linhas do Norte e Leste; em Coimbra, os anarquistas fizeram explodir os transformadores de corrente da central eléctrica, levando à paralisia dos transportes públicos e ficando a cidade às escuras; verifica-se a sabotagem da via férrea próximo de Algoz; uma bomba explode na linha férrea, próximo da estação de Martingança; uma bomba é lançada no Barreiro provocando alguns feridos ligeiros; outras duas bombas são lançadas contra um comboio, em Benfica; ocorrem cortes de linhas telefónicas e telegráficas em Leiria, Marinha Grande, Cacém, Almada, Vila Boim e Silves; verificam-se confrontos e troca de tiros entre operários armados de bombas que queriam assaltar uma fábrica de pólvora, e as forças policiais, em Chelas e Xabregas, com lançamento de uma bomba; há manifestações de operários e greves no Barreiro, Sines, Almada, Silves, Seixal, Alfeite, Cacilhas, Setúbal e Portimão; na Marinha Grande a situação é mais espectacular atingindo características insurreccionais – os revoltosos, armados com caçadeiras, revólveres, pistolas e bombas, cortam as comunicações com Leiria, bloqueiam as vias de acesso, atacam à bomba o Posto da GNR desarmando os soldados desta corporação, ocupam a Estação dos Correios e Telégrafos, reabrem o Sindicato Vidreiro e ocupam a Vila por algum tempo . Mais acções estavam para acontecer, mas não se verificaram. A projectada greve geral foi reduzidíssima a nível nacional. Mesmo no que diz respeito a confrontos violentos, sabotagens, atentados e ocupações, ficaram muito aquém do que fora planeado. Salazar, sem grandes dificuldades, consegue restabelecer a ordem em pouco tempo. Como alguns previram, não havia condições em Portugal para desencadear um movimento de características operárias insurreccionais contra o «Estado Novo». A excepção foi a Marinha Grande, não obstante as grandes limitações e dificuldades ali sentidas. Caso os operários armados, cujos principais dirigentes eram comunistas, não tivessem ocupado a Vila, mesmo por um brevíssimo período de tempo, o «18 de Janeiro de 1934» não teria sido porventura aquilo que foi, circulando e perdendo-se por entre as veracidades da História e as brumas do Mito.

Desloca-se a Portimão para proceder à apresentação da obra o Professor Doutor António Ventura, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Sobre João Vasconcelos, autor do estudo que agora se publica, deixamos uma pequena nota biográfica:

João Vasconcelos é natural de Portimão e professor de História na mesma cidade. Licenciado em História e Mestre em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Desde 2010 tem sido um dos principais dinamizadores e porta-voz da Comissão de Utentes da Via do Infante, na luta contra as portagens. Desenvolvendo actividade política no Bloco de Esquerda, foi membro da Assembleia Municipal e vereador pela mesma força política em Portimão.

A nível científico, é autor de vários artigos e estudos no âmbito da História local e regional e de cariz político e sindical. Participou em congressos, conferências, seminários e colóquios pelo País, mas sobretudo no Algarve. Realizou alguns estudos como: João Bonança – Subsídio para um Estudo Crítico do seu Pensamento e Obra, 1990; Regionalização Administrativa do Continente, 1997; A Resistência Operária ao «Estado-Novo» em 1934-Análise de um Processo (co-autor) e Património em Portimão, Que opção: Preservar ou Destruir? (co-autor),1999; O 18 de Janeiro de 1934 – Anarqueirada ou Acção de Massas?, 2001; A Comuna de Paris, 2003; Fascismo, Crise e Revolta Operária no Algarve nos Anos 30 – Interpretações, Polémicas e Controvérsias, 2004; O Dia que abalou Salazar, entre outras publicações.

Uma obra que merece a melhor divulgação, com os nossos votos do maior sucesso.

A.A.B.M.

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