AUTOR: António Ventura;
EDIÇÃO: Tinta-da-China, 2015, p. 208.
“As colecções de postais alusivas à participação portuguesa na Primeira Grande Guerra dão a conhecer um universo sugestivo, onde a tragédia se mistura com o humor, a ingenuidade e o heroísmo” [AQUI]
“… O postal ilustrado emerge nos finais do século XIX, como
resultado do desenvolvimento dos correios enquanto estrutura de recepção e distribuição
de correspondência, do progresso nos meios de transporte que facilitavam a
circulação postal, mas também em virtude de profundas transformações operadas
nas sociedades europeia e norte-americana. Ainda que de forma limitada,
representava a afirmação de uma nova sociabilidade em rápida mudança, a maior alfabetização
e a generalização dos hábitos da escrita e da leitura, potenciados pela
explosão da imprensa periódica. Os hábitos epistolares começaram a
generalizar-se.
Escreviam-se cartas para assinalar momentos festivos,
aniversários, endereçar votos de um feliz Natal ou de um ano novo próspero, ou
simplesmente para sublinhar a amizade, o amor ou uma relação profissional. As
viagens, cada vez mais frequentes, já não eram apenas de negócios mas
constituíam uma forma de lazer — o turismo, que começava a afirmar-se no
sentido moderno —, eram pretexto para um contacto frequente com a família e os
amigos, colocando-os a par dos locais visitados, dos momentos, das termas ou
das estâncias de veraneio. Nada mais rápido e eloquente para esse fim do que um
postal ilustrado…
Para essas mensagens breves, não eram necessárias cartas.
Começaram a ser usados preferencialmente os bilhetes-postais ilustrados, em que
a imagem assumia o papel principal. A componente iconográfica era tão dominante
que, durante alguns anos, não continham qualquer espaço reservado a mensagens
do remetente, com a imagem numa face e, na outra, o local para o endereço do
destinatário. Com o tempo, a situação alterou-se: a partir de 1904, o verso foi
dividido em dois espaços, um à esquerda, para a mensagem, e outro à direita,
para o destinatário.
Entre 1900 e 1914, o bilhete-postal ilustrado tornou-se um
fenómeno de popularidade junto das camadas urbanas de alguns países europeus, em
especial os mais desenvolvidos, mas também nos Estados Unidos e no Japão,
convertendo --se no meio preferido de transmissão de mensagens de aristocratas
e burgueses, alargando-se às classes médias e mesmo a alguns sectores das classes
trabalhadoras. O postal era barato, simples de utilizar, atraente, com as suas
imagens coloridas. Existem fotografias e até postais fotográficos com o
interior de estabelecimentos comerciais exclusivamente destinados à venda de postais,
mas também quiosques e postos de venda ambulante desses pequenos cartões
coloridos.
O hábito de comprar, escrever e enviar postais foi reforçado por
outra vertente que rapidamente se desenvolveu: o coleccionismo. Esta procura
tinha de ser satisfeita e a indústria respondeu de forma exuberante, produzindo
milhões de postais ilustrados …”
[António Ventura, “Combater com cartolina, tinta e fio de seda”,
p. 9-10]
J.M.M.
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