Alves da Veiga nasceu no dia 28 de Setembro de 1849 em Izeda
(Bragança). Ainda jovem, com 15 anos, parte rumo a Coimbra, a instância de
Emídio Garcia, conterrâneo e amigo da família, filho de um dos seus professores
do liceu (Leonardo Emídio Garcia), para aí completar os estudos preparatórios e
fazer o ingresso na Universidade de Coimbra. É acolhido na casa de Manuel
Emídio Garcia (lente da Universidade de Coimbra e destacado maçon, igualmente
nascido em Bragança em 1838), tornando-se seu “protegido” e estabelecendo uma
amizade para a vida, como seu discípulo.
Cedo, como estudante, mostrou grande interesse pela imprensa,
redigindo nos tempos liceais o periódico O Lyceu-Semanário Cientifico e
Literário, colaborando sempre na imprensa da sua época. Em 1867, com 18 anos de
idade, publica num semanário local de Coimbra um conjunto de artigos, sob o
título genérico de “Ensaio sobre Philosophia Alemã – Kant e sua escola”. Na
esteira do pensamento positivista revolucionário, filosófico e federalista de
Emídio Garcia, publica em 1872, enquanto estudante do 3º ano da faculdade, as
suas aulas de “Estudos de Philosophia Política”.
Nesse período da academia, em Coimbra, cimenta igualmente uma
forte amizade e companheirismo no apostolado republicano com Sebastião
Magalhães de Lima, que perdura ao longo de toda a sua vida, reforçada pela
possível pertença de ambos à Loja Perseverança, de que igualmente fazia parte
Manuel Emídio Garcia.
Em 1873, dois meses depois da implantação da República em
Espanha, funda o semanário A República Portugueza (órgão do Partido Republicano
de Coimbra) com os seus colegas de faculdade Magalhães de Lima, Álvaro Morais e
Almeida Ribeiro.
Terminado o curso de direito em 1874, fixa residência no Porto
em 1875, onde estabeleceu banca de advogado, dando igualmente aulas
particulares durante algum tempo. Casa com Joana Teixeira, abandonando,
entretanto, a actividade de advogado e dedica-se ao ensino liceal, a par da sua
acção de propaganda republicana.
No Porto inicia um percurso de intenso labor na difusão dos
ideais republicanos, quer como um dos fundadores do Partido Republicano, quer
como tribuno, quer como periodista. Sampaio Bruno escreveria em 1881 que Alves
da Veiga era o "elemento mais pronunciado e dominante da democracia nas
províncias do norte, que ele tem percorrido como propagandista sem tréguas".
Nesta sequência e em resultado de reunião realizada no Porto em 2 de Abril de
1882, presidida pelo professor catedrático Emídio Garcia, cria-se uma comissão
constituída por Alves da Veiga, Júlio de Matos e Manuel J. Teixeira (seu
cunhado) em representação do Porto, e Magalhães de Lima e José Falcão em
representação de Coimbra, com vista à organização, em Junho de 1883, do “partido
republicano”.
Emídio Garcia, em 1882, atribui a Alves da Veiga, na Galeria
Republicana, o epíteto de “uma das mais distintas individualidades do partido
republicano portuguez”. Foi o primeiro deputado republicano, apresentado pelo
Porto, a entrar no “Parlamento da Monarquia”.
Como periodista colabora também no jornal O Século, fundado em
1880 pelo seu colega de curso Magalhães Lima e nos por si co-fundados A
Actualidade e A Discussão, este por si financiado.
Na esteira do seu intenso labor organizativo e de tribuno em
prol do republicanismo, no Porto e no norte do país, funda o Centro Republicano
Democrático do Porto, através do qual publica importantes contribuições para a
difusão dos ideais federalistas republicanos, cuja bandeira rubra foi arvorada
no dia 31 de Janeiro de 1891 na CM do Porto. Na sequência do incêndio que
deflagrou na trágica noite de 22 de Março de 1888, o Porto viveu uma terrível
tragédia em que pereceram carbonizados muitos dos espectadores então presentes.
Passados dois dias, depois da Matinée da Imprensa Portuense realizada no
Palácio de Cristal, para angariação fundos para apoio às vítimas, D. Maria Pia
percorreu durante quatro horas as casas dos parentes das vítimas, distribuindo
generosamente libras de ouro. O líder do Partido republicano, Alves da Veiga, foi
um dos visitados, não porque lhe tivesse morrido alguém, mas para a Rainha lhe
agradecer o gesto de recolher dois órfãos de um dos mortos do Teatro Baquet.
João Chagas, acompanhou a visita e deixou-nos a descrição pormenorizada desse
tocante "momento de conciliação de dois princípios", que reuniu num
acto solidário a possibilidade da junção da máxima representante da monarquia e
do chefe da oposição republicana.
Em 1 de Abril de 1890, integra a lista de membros fundadores da “Associação
Protectora do Asilo de S. João”, no Porto, que mais tarde virá a tornar-se o
actual Internato de S. João.
Do seu percurso maçónico é de referir que, no Porto, integra os
quadros da Loja Primavera (com o nome simbólico de Descartes) e da Loja
Independência, de que foi um dos fundadores em 1887 e seu Venerável, pelo
menos, em 1891. Atingiu em 1889 o grau 33 do REAA (Rito Escocês Antigo e
Aceite). Em 12 de Agosto de 1891 foi abatido do quadro da Loja Independência,
em virtude dos acontecimentos do 31 de Janeiro de 1891, regressando ao seu
quadro em 21 de Outubro de 1891, após proposta de re-inserção votada por
unanimidade das Lojas presentes na Grande Dieta realizada nos finais de
Setembro de 1891, sendo nomeado seu venerável honorário em 14 de Janeiro de
1892.
Em 1890 é referido no Boletim de Procedimientos de 15 de Janeiro
de 1890, como representante do Soberano Gran Consejo General Ibérico (SGCGI), a
que estava agregada a sua Gran Logia Simbólica Española del Rito Antigo y Primitivo
Oriental de Memphis y Mizraím. O Dr. Alves da Veiga fez parte dos quadros do
SGCGI durante muitos anos, mesmo durante o seu exílio, após o 31 de Janeiro de
1891, figurando como «membro honorário» do Supremo Conselho do SGCGI.
Como refere José Augusto Seabra “Augusto Manoel Alves da Veiga,
ilustre advogado e professor do Porto, foi uma personalidade prestigiada, que
exercia uma profunda influência na vida cívica, social e intelectual da cidade
e no norte do país. Por isso ele se distinguiu no movimento que, desde a Liga
Patriótica do Norte, em 1890, se ergueu contra o Ultimatum inglês, conduzindo-o
depois à liderança do 31 de Janeiro, ao lado de figuras como Sampaio Bruno,
Basílio Teles, João Chagas e tantos outros”.
Chefe civil da gorada Revolução de 31 de Janeiro de 1891, emigra
para França, onde publica com Sampaio Bruno O Manifesto dos Emigrados
Portugueses da Revolução Republicana de 31 de Janeiro de 1891, continuando
sempre a sua luta pela implantação da república, a democracia e a liberdade em
Portugal. Em coerência com os seus princípios, Alves da Veiga recusou sempre
qualquer amnistia que não abrangesse os militares participantes no 31 de
Janeiro, nomeadamente a decretada em Março de 1893.
No seu exílio, por ela abrangido, declarou “emquanto as
fronteiras portuguezas não se abrirem para todos, emquanto gemer no exílio ou
nas prisões qualquer das victimas da generosa tentativa revolucionária, eu
continuarei sendo proscripto; solidário nas idéas sel-o-hei também nos sacrifícios,
embora sinta cada vez mais a nostalgia da pátria, déssa formosa terra que adoro
como um filho adora sua mãe”.
Esta sua luta na vida política portuguesa em prol da implantação
da república, leva-o a integrar a legação diplomática constituída por Sebastião
Magalhães de Lima (Soberano Grande Comendador e Grão Mestre de 1907 a 1928) e
José Relvas, desempenhando um destacado papel organizativo e de promoção de
contactos para se negociar em França e Inglaterra o apoio à promoção dos ideais
liberais republicanos, com vista à preparação da revolução do 5 de Outubro de 1910.
É nomeado em 24 de Janeiro de 1911 Ministro Plenipotenciário em
Bruxelas. Apresenta às Constituintes de 1911 o seu estudo e projecto pioneiro
federalista e municipalista “Política Nova – Ideias para a Reorganização da
Nacionalidade Portuguesa”, que é vencido pela proposta de organização
unitarista da Nação Portuguesa. A actualidade do projecto federalista de Alves
da Veiga, inspirado no modelo da Confederação Helvética, dos cantões suíços,
nas constituições dos Estados Unidos da América e na da República Federativa do
Brasil, ainda está por cumprir em Portugal e mesmo na Europa, sem unidade
política e dirigida por um Directório.
É proposto para os cargos de Presidente da República e Ministro
dos Negócios Estrangeiros (que chega a exercer por um dia), mas não consegue
apoios suficientes para uma carreira política no governo da nação, pelo que
desiste e resolve permanecer em Bruxelas.
Durante a sua permanência em Bruxelas, desenvolve importante
actividade política aquando da I Grande Guerra Mundial a favor dos interesses
portugueses e das forças aliadas, com vista ao Armistício. Esta sua actividade
política e diplomática em Bruxelas granjeia-lhe relações de amizade com o Rei da
Bélgica, ao ponto de ser sua visita habitual para jantar. O espólio da sua
correspondência diplomática de então aguarda estudo e investigação para uma
melhor compreensão da importância do seu contributo para as relações europeias
e internacionais nesse período histórico, conforme sugeriu o Embaixador José
Augusto Seabra.
Faleceu em 02.12.1924, na sua casa de Paris, situada na 7, rue
Bassano (XVIème Arrondissement), onde uma placa evocativa colocada no dia 31 de
Janeiro de 1997 testemunha a sua memória. Passados cerca de três meses é
sepultado no Porto no jazigo de família do cemitério privado da Irmandade da
Lapa. O seu funeral recebe honras de Estado, com a presença do Presidente da
República portuguesa Manuel Teixeira Gomes, entre muitas outras individualidades.
[por Fernando Castel-Branco Sacramento, com a devida vénia]
J.M.M.
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