"In memoriam Alvaro de Castro”, Lisboa, Of. Gráfica da Sociedade Astória, Regueirão dos Anjos, 31 de Janeiro de 1947, 297 pgs.
"Na luta pela vida que a natureza impôs às sociedades e aos indivíduos como condição essencial de sua existência, e que tem a sua mais rigorosa e feroz expressão nesse triste quadro que o nosso século pinta a labaredas de fogo e lufadas de sangue nas páginas da história, necessário é congregar todas as qualidades, corrigir defeitos e alcançar novas faculdades para produzir o esforço que, pela sua disciplina e justa orientação, evite a derrota e conquiste a vitória.
É porém lição iniludível da história que esses esforços, para
terem na sua concentração útil e eficaz o máximo valor, necessitam da
intervenção de um laço artificial que os funda e intimamente os ligue.
E é assim que sobre as grandes civilizações criadas e sobre os grandes
impérios conquistados se ostentam sempre, como sua definitiva consagração, as
representações materiais das grandes ideias que os geraram.
No decurso das empresas audazes e das lutas formidáveis com que
tem escrito a história, a Humanidade tem necessitado sempre, além da ideia que
forma a vontade, do símbolo que dá a decisão.
A memória dos homens que melhor encarnaram uma ideia e com mais
vigor, audácia e inteligência prosseguiram a sua realização, é desses artifícios
o mais eficaz e o que mais profundamente está arreigado nas tradições dos
povos. A sociedade que eliminasse dos seus costumes, hábitos e tradições o
culto dos grandes homens, perderia com ele o culto das suas qualidades, e em
breve se diluiria na poeira inglória dos inúteis.
O culto das grande figuras precisa ser sempre consagrado
religiosamente no espírito das nacionalidades, para que possa a todo o momento
estimular a sua acção, como o Anteu da fábula tirava o pó da terra para cobrar
alento e revigorar esforço”
[Álvaro de Castro, citado por Alfredo Ernesto de Sá Cardoso, pp.
7-8]
J.M.M.
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