Fundada em 14 de
Janeiro de 1872 surge a Associação Fraternidade Operária, tendo por base os
modelos da Aliança da Democracia Socialista, de Bakunine.
Esta associação
foi instalada na Rua das Gaivotas, onde funcionava o Grémio Popular, mais tarde
instala-se na Calçada da Estrela, nº16, em Lisboa, constituíram-se aí três secções da Fraternidade Operária: Chelas,
Marvila e Poço do Bispo. Foi
ainda criada uma filial da associação no Porto em 30 de setembro de 1872, instalada na Rua Gonçalo Cristóvão. Esta associação esteve na organização de greves e das primeiras comemorações do Dia do
Trabalhador em Portugal. Foi também esta associação operária que conseguiu publicar
o jornal Pensamento Social que pode ser consultado na Biblioteca Nacional de Lisboa AQUI.
A
Associação Fraternidade Operária foi influenciada pelas orientações aprovadas
no 5.º Congresso da Associação Internacional (realizado em setembro de 1872, em
Haia). Foi também por sua iniciativa que se desenvolveu o processo de fundação
de um partido socialista em Portugal que se concretizou em 10 de Janeiro de
1875, no Partido Socialista Português (PSP), por proposta de Azedo Gneco e José Fontana.
Entre 2 a 6 de
Setembro de 1872, teve lugar na cidade holandesa de Haia o V Congresso da
Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), vulgarmente conhecida como a
I Internacional. Este congresso marcou historicamente pelo facto de ter consagrado a vitória do marxismo sobre as correntes
oportunista de esquerda e de direita representadas pelo proudhonismo e pelo
bakuninismo, e de, na base dos documentos fundadores da AIT e das teses
fundamentais do marxismo, ter desenvolvido os fundamentos orgânicos, tácticos e
ideológicos dos partidos políticos da classe operária que se deveriam
constituir em cada país.
A evolução da Fraternidade Operária foi rápida e
muito satisfatória. As investigações indicam que esta associação um ano depois,
Lisboa tem já dez mil sócios e o Porto cerca de oito mil. Nos arredores destas
duas cidades haveria mais uns milhares de sócios. Em Lisboa notaram-se os
efeitos da acção da Fraternidade Operária: em 1872 rebentava um surto grevista
inédito pelas suas dimensões e alcance, já que «fundidores, fragateiros,
tipógrafos e tanoeiros entram em greve, pedindo melhores condições de
trabalho», refere Filomena Mónica, que não deixa de salientar, igualmente, o
carácter limitado do impacto destas greves porque «tudo isto se passava apenas
em Lisboa. Tudo isto se mantinha limitado a alguns grupos de trabalhadores
aristocráticos. Este aspecto da modernidade do movimento operário português
perturbou um pouco as autoridades e o meio empresarial, mas é necessário não
esquecer que nesta época, e de acordo com o Código Penal então em vigor, a
greve era crime.
Em Julho de 1872, a delegação da Associação
Fraternidade Operária, em Almada contava já com mais de cem sócios e continuava
a aumentar o número de adesões conforme assinalava o Pensamento Social AQUI.
Em 1873, a cidade do Porto juntou-se aos
movimentos grevistas liderado pela Fraternidade Operária. Realizaram-se greves
de tabaqueiros, charuteiros, cigarreiras e ferroviários, reivindicando aumento
de salário e mais regalias sociais. Os resultados destas movimentações
operárias saldaram-se, em todos os casos, pela derrota. Silva Lisboa e Miguel
Mendes, militantes da Fraternidade Operária do Porto, eram presos por terem
participado e estimulado a greve dos manipuladores de tabaco.
O
Pensamento Social, nesta altura já o órgão da Fraternidade Operária e onde
colaboraram Antero de Quental, José Fontana, Oliveira Martins, Jaime Batalha
Reis, Nobre França, Eduardo Maia, Augusto Tedeschi, Azedo Gneco e outros.
A publicação de O
Pensamento Social (Fevereiro, 1872/Outubro, 1873), desempenhou papel de
extraordinária importância na divulgação da luta e da organização dos
trabalhadores em Portugal e no estrangeiro, na denúncia e explicação dos
mecanismos da exploração. Com a publicação de artigos teóricos, O Pensamento
Social, ainda que reflectindo a natureza ideológica heterogénea da secção
portuguesa e nas suas páginas se pudessem encontrar posições anarquistas, deu
uma enorme contribuição para o debate ideológico e para a afirmação da corrente
marxista. Foi com O Pensamento Social que
se começaram a publicar em Portugal textos marxistas: Manifesto Inaugural da
AIT, escrito por Marx, Estatutos Gerais, artigos de Engels e de Pablo Lafargue, o Manifesto Comunista, para além da utilização de
artigos de jornais de diferentes secções da Internacional dirigidas por
marxistas.
A 4 Outubro de 1873, com a
publicação do n.º 55, O Pensamento Social, depois de várias tentativas para
impedir o seu fecho, deixava de se publicar, acompanhando o destino de outros
jornais operários na Europa. Vivia-se já a crise generalizada no movimento
operário internacional, que atinge igualmente o português.
As «associações de resistência», as
únicas organizações de massas da classe operária existentes então, que deram
suporte à acção dos internacionais e à afirmação dos elementos que se
reclamavam do marxismo, começam a perder filiados e influência. A luta operária
recua drasticamente.
A Fraternidade Operária
entretanto fundiu-se com outras organizações operárias na Associação
dos Trabalhadores na Região Portuguesa (ATRP) a partir da fusão entre a
Associação Protectora do Trabalho Nacional e passou a funcionar como
dependência da Internacional Operária. A delegação desta organização no Porto
foi criada em 29 de Outubro de 1873, contando com duzentos sócios e
encontrando-se instalada na Rua de Santa Catarina. Segundo Gonçalves
Viana, que descreve este núcleo fundador da Associação dos Trabalhadores do
Porto: «Foi aí, na Rua de Santa Catarina que, na nossa juventude, em Agosto de
1875, entrámos nos trabalhos da Associação dos Trabalhadores (...) onde
encontrámos nos restos do movimento operário de 1873, da classe de tecidos de
algodão, entre outros, os irmãos Alecrim e Teixeira; um dos irmãos Verdial, o
outro ensaiava-se para actor; os primos Martins, de que passámos a fazer parte,
da classe de ferro e representantes de uma humilde família de Viana do Castelo;
um bom núcleo de operários das fundições do bairro de Massarelos e tantos
outros, hoje desaparecidos do número dos vivos, que durante alguns anos
alimentaram a ilusão de que a sociedade actual, cheia de injustiças, seria em
breve substituída por outra mais justa e humanitária»
Em 1876, a direcção da Associação dos Trabalhadores na Região Portuguesa portuense era
constituída por Eduardo Carvalho e Cunha, António Moreira, Silvestre Pinto
Caldeira, José Alves Magalhães e Vasconcelos, José Ferreira, José Domingos da
Cruz, João Baptista Esteves, Manuel Rodrigues Alves dos Santos, António Cardoso
Mesquita e José Domingos Pereira. Na Associação dos Trabalhadores do Porto
estavam filiados 2200 operários. Em Lisboa eram 3600 trabalhadores..
Uma das várias greves que se realizaram em 1872 pode ser confirmada AQUI.
Idêntica notícia publicada no Brasil sobre
greves em Portugal pode ser consultada AQUI.
Sobre a Associação Fraternidade
Operária aqui: https://run.unl.pt/bitstream/10362/17159/1/AtasICongressoHistoriaMovimentoOperarioMovimentosSociaisPortugal_vol1.pdf
[p. 122-123]
Mais referências importantes sobre a
Fraternidade Operária disponíveis aqui: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/15094/2/2481TM01P000076505.pdf
Vide também o artigo de Victor de Sá AQUI.
O artigo de Rui Manuel Brás também deve ser consultado AQUI.
A.A.B.M.
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