Mouzinho da Silveira denunciado como maçon e «libertino da
primeira ordem». Um curioso documento de 1823 sobre a Maçonaria em Portalegre –
via António Ventura Facebook.
No seguimento da nova perseguição aos pedreiros-livres em 1823,
o Corregedor da Comarca de Portalegre, António Joaquim de Gouveia Pinto
escreveu ao Intendente Geral da Polícia da Corte e Reino, dando-lhe conta das
diligências feitas acerca da actividade de elementos subversivos naquea cidade.
O documento é do maior interesse porque refere diversos suspeitos de maçonismo:
► «Participo a V. Exª que hoje mesmo acabo de tirar o sumário que a
Ordem dessa Intendência Geral da Polícia de 9 do passado, me mandou proceder, e
tendo nele pronunciado, entre outros, José Xavier Mouzinho da Silveira,
Administrador Geral da Alfândega dessa cidade, e natural de Castelo de Vide, e
desta Comarca, em que acabou por ser Provedor, e onde propagou a seita dos
Pedreiros Livres, que tinha plantado e promovido na Vila de Setúbal, quando ali
fora Juiz de Fora, e onde é constante que estabelecera duas lojas deles; sendo
um libertino da primeira ordem, e tão escandaloso, que nunca ouvia aqui Missa,
e poucas vezes a família, e um declarado inimigo da Religião e dos Tronos; e
bem assim o dito médico Manuel Joaquim Madeira, desta cidade, amigo inseparável
de Frei Francisco de Ave Maria, que há pouco mandei preso para essa
Intendência; da mesma seita de José Xavier Mouzinho da Silveira, seu cordial
amigo, e que por isso, desaparecendo desta cidade no dia 26 do passado, logo
que viu o seu amigo preso, dizem que está nessa cidade em casa do mesmo José
Xavier, onde já tem sido hóspede; e sendo a casa do referido médico, onde se
veio hospedar José Xavier e João da Silva Carvalho, irmão de José da Silva
Carvalho, quando no mês de Abril do ano passado vieram a esta Província
procurar adeptos para a mesma sociedade, ou fazer recrutamento de Pedreiros
Livres, como foi público; assim como também o Joaquim Larcher, por ter a mesma
nota de Pedreiro Livre, e da sociedade, e particular amizade do referido José
Xavier, o qual se acha na companhia de sua mãe e viúva Larcher, proprietária da
Fábrica de Lanifícios desta cidade, e que mora nessa cidade, em umas travessas
ou rua próxima onde tem armazém de panos; e, finalmente, o advogado João
Carrilho da Costa Gil, desta cidade, que com outro irmão do referido Larcher
fugiu para aí há coisa de 5 ou 6 dias, logo que soube que eu abrira o sumário,
indo sem passaporte para essa cidade, e pela mesma razão dos já referidos, e
ser, além de libertino, e sem moral ou Religião, em cuja casa se formava uma
sociedade de constitucionais exaltados para promoveram a Constituição e
espalharem notícias aterradoras para os realistas, a que chamavam corcundas.
Chegando a sua ousadia a pôr, depois da Aclamação de El-Rei Nosso Senhor, no
chapéu uma pena preta de galinha, em lugar do laço das cores azul e encarnado,
que puseram todos os bons portugueses; e sendo necessário que eles se segurem
aí, e se prendam antes que saibam que se prendem aqui os seus sócios, por isso
faço este a V. S. para esse fim. Se lhe parecer justo, como a mim; pois que o
próprio sumário o remeto a essa Intendência de hoje a oito dia sem falta, não
podendo ir primeiro, por ser necessário copiá-lo, e haver outras coisas
necessárias a fazer.
O médico Madeira, que deve estar em casa de José Xavier, pode
ser aí preso, e é de estatura alta, rosto redondo, e inclinado para o chão.
Joaquim Larcher é de estatura ordinária, cabelo louro grenho, branco, olhos
azuis, estrangeirado, pois seu pai era francês.
E o Dr. Carrilho é de estatura mui baixa e grossa, muito
direito, cabelo louro, branco, e rosto alguma coisa comprido, com algumas
bexigas; e fez-se célebre, pelo seu modo de andar muito teso; deve estar na
mesma casa de Larcher.
Deus Guarde a V. S. Portalegre, 7 de Julho de 1823»
"Mouzinho da Silveira denunciado como maçon e «libertino da
primeira ordem». Um curioso documento de 1823 sobre a Maçonaria em Portalegre" –
via António Ventura Facebook – com sublinhados nossos.
J.M.M.
Sem comentários:
Enviar um comentário