terça-feira, 1 de janeiro de 2019

A REPÚBLICA – POR ANTERO DE QUENTAL



“ … Mas o que é a Republica? ou antes, como se apresenta ela hoje a este mundo velho e sem coragem, e de que modo pretende rejuvenescer e reconstruir as sociedades segundo o seu plano de justiça e de bem? Como há perto do cem anos, a Republica apresenta-se ainda hoje sendo a enérgica revindicação do eterno direito humano, proscrito ou desconhecido por governos opressores ou por instituições artificiosas: mas o instrumento dessa revindicação não é já hoje, como então foi, a luta e a paixão, mas a ciência, o pensamento. Falava então ás consciências indignadas: fala hoje aos espíritos esclarecidos. Então era um plano de campanha: hoje é um código de leis […]
A Republica é, no estado, liberdade; nas consciências, moralidade; na indústria, produção; no trabalho, segurança; na nação força e independência. Para todos, riqueza: para todos, igualdade; para todos, luz.

Que há de mais prático? e de mais praticamente imediato, necessário? Não é só a reorganização do estado nas instituições; é ainda a reorganização do individuo nos sentimentos, por que se a república assenta sobre o direito, o direito republicano esse assenta sobre a moral. Aos outros governos bastam-lhe súbditos: este (e é a sua maior gloria) precisa de homens. O cidadão deixa de ser uma abstração legal para se tornar enfim uma realidade humana. Só homens são dignos da Republica, e fora dela ninguém pode também chamar-se verdadeiramente homem.

Em nome pois da República apelamos não somente para os interesses do país, mas também para os seus sentimentos. Enganar-nos-emos acreditando que há nos portugueses de hoje a virilidade antiga, o caracter e a hombridade de seus avós? Mas que nobre e alta glória para o povo que fez o seu aparecimento na história abrindo à Europa o caminho de um novo mundo, concluir agora a sua missão apresentando às nações maravilhadas não já um novo continente, mas um novo mundo social, um nundo de justiça, a Republica! Como portugueses, queremos ainda espera-lo”

[A República, por Antero de Quental, in A REPUBLICA, Jornal da Democracia Portugueza, nº1, 11 de Maio de 1870]

J.M.M.

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