terça-feira, 8 de janeiro de 2019

ELOGIO DO PROF. DOUTOR JOAQUIM ROMERO MAGALHÃES


Tendo sido publicado na página da Associação Portuguesa de História Económica e Social, o elogio proferido pelo Doutor Álvaro Garrido nas cerimónias fúnebres do Professor Doutor Joaquim Romero Magalhães, realizado na Capela de S. Miguel da Universidade de Coimbra, 26 de Dezembro de 2018 e que pode ser consultado/descarregado AQUI, toma-se a liberdade de o partilhar e divulgar junto dos seguidores deste espaço virtual.
A.A.B.M.
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Querem-se bem ponderadas as palavras que compõem este elogio, que não é só meu, mas de todos nós aqui presentes, Colegas, Amigos e Familiares de Joaquim Romero Magalhães.
Este é um elogio da FEUC, escola em que JRM sempre ensinou e que muito ajudou a construir, mas sobretudo da sua alma mater, a Universidade de Coimbra, que por vezes fustigava com o seu humor mordaz, mas que amava muito, bem o sabemos.
De uma certa forma, esta oração é um tributo da comunidade académica, em geral, a um dos grandes Professores que a Universidade portuguesa conheceu nas últimas décadas; uma homenagem a um dos melhores historiadores portugueses de sempre, não tenho dúvidas em afirmá-lo.
Para mim que ainda não tenho a sabedoria dos anciãos, é uma honra profundamente triste evocar aqui, neste dia e lugar, a perda de um Amigo e de um Mestre a quem devo tanto.

A Morte Chega Cedo, diz o poeta. Cedo demais, sempre.
Elogiar um Amigo muito querido, dizer das suas qualidades, expressar-lhe uma vez mais o nosso profundo afecto e admiração, parece um ofício redundante; um desafio daqueles que a vida nos traz, que o rito da despedida nos pede, e de cujo encargo me quero ocupar com a dignidade e a elevação que sempre nos exigiu JRM.
Fazê-lo em pleno Natal, festejando a natividade de um Redentor de cuja existência histórica e revelação o nosso Querido Amigo nunca se convenceu, parece ainda mais cruel, algo contraditório até. Mas talvez tudo isso nos faça compreender que a Vida apenas nos condena a sermos fortes. 

Neste particular momento, para estarmos mais próximos de JRM, devemos evitar dramatismos e olhar para diante, com saudades do futuro, como dizia Teixeira de Pascoaes.
A prosa dos dias belos, como a dos momentos tristes, quer-se limpa; habitada por boas palavras, rente ao sentido das coisas, dizendo-as na sua justa medida, criando com elas algo que nos anime a prosseguir o caminho. Era assim que JRM entendia essa relação difícil entre as palavras e as coisas, buscando simplificá-la pela prosa cristalina que, em tantos e tantos textos, nos ofereceu.

Todos sabemos e recordamos, já com Saudade e com um carinho sem limites, o talento quase literário de JRM, a sua ironia fina, a sua erudição histórica e a vasta cultura com que nos deliciava, a sua palavra claríssima e nunca excessiva.
Um Amigo, um Mestre, Professor de muitos de nós, também de mim, quando por ele fui deliciosamente orientado sem um único momento difícil ou de desencontro, tendo nascido aí, nessas longas horas de conversa do doutoramento, uma profunda Amizade que muito me lisonjeia e que de resto se estende aos colegas do grupo de História Económica e Social da FEUC e a todos quantos tiveram o privilégio de terem o Prof. Romero como orientador científico.
Recentemente, no seu Algarve, numa cerimónia de mão-cheia que o fez Feliz e que nos encheu de felicidade a todos, JRM confessou com excessiva modéstia que nunca pôde ser o escritor que gostaria de ter sido, talvez porque lhe faltasse talento para isso, ainda que fosse Filho de Pai... Modéstia dos grandes…, parece-me.

Não quero iludir a tristeza que todos sentimos, mas julgo que devemos encontrar na Vida e na Obra de JRM motivos de alegria e de exemplo que enformem uma vida académica em cujo quotidiano, mil vezes fragmentado e cada vez mais longe da leitura e da escrita, possamos achar novos significados e redescobrir o essencial.
JRM tinha um apurado sentido do que interessava e do que não interessava, deitando borda fora o acessório, o trivial e o efémero. Daí o seu gosto por memórias, opúsculos, história na primeira pessoa e aberta a múltiplas interpretações, sem andaimes nem artifícios teoréticos.
Quantas vezes o vi, no seu Gabinete de maravilhoso cheiro a verdadeiros livros, interromper uma conversa que entretanto seguira por trivialidades, buscando na estante um bom livro que nos recolocasse no caminho do essencial.
Livros de tudo ele tinha e tem (até uma bela colecção de policiais), fazendo jus à sua natureza de extraordinário bibliófilo, visitante regular de alfarrabistas, ainda que a visita a alguns deles, sobretudo do Porto, fosse também destinada a rever amigos da Invicta ou a fugir por horas da morna Coimbra...

Num breve excurso, vou valer-me de informações colhidas da lauda proferida pela Professora Maria Leonor Costa no doutoramento em honra de JRM realizado no Algarve, e do texto assinado pela Professora Maria Eugénia Mata e pelo Professor Nuno Valério no volume de Estudos em Homenagem publicado pela Almedina, em 2012, para sintetizar o percurso académico e cívico de JRM:

Joaquim Romero Magalhães nasceu em Loulé em 1942. 
Filho do Professor de liceu e escritor Joaquim Magalhães e de Célia Romero, Professora do Conservatório de Faro, progenitores que muito admirava.

Cursou o liceu em Faro e seguiu para Coimbra em 1959. No ano seguinte preteriu o Direito em favor da História, percurso comum a diversos historiadores de renome.
Nos tempos de estudante, em plena ditadura de Salazar e guerra nas colónias africanas, participou activamente no movimento associativo estudantil de Coimbra.
Ao reprimir a crise académica de 1961-62 por meio de forças policiais e comissões administrativas, a ditadura acabou por estimular dissidências e novas dinâmicas de compromisso entre o movimento estudantil e as oposições ao Estado Novo.
Membro da República do Prakistão, onde conviveu com outras notáveis figuras da vida democrática do país, o estudante Romero Magalhães foi presidente do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, em 1963, e presidente da Associação Académica de Coimbra, em 1964.

Defendeu a sua tese de licenciatura na FLUC em 1967, intitulada Para o Estudo do Algarve Económico durante o século XVI, publicada em 1970 pelas Edições Cosmos.
Em 1973, após um brevíssimo período como professor do ensino secundário e metodólogo, iniciou a sua carreira de docente na FEUC.
Tivera, entretanto, um longo interstício imposto pelo cumprimento do serviço militar em África, que realizou entre 1967 e 1970, assunto sobre o qual reivindicava um certo e compreensível direito ao silêncio.

Na FEUC, prestou provas de Doutoramento em 1984 ampliando o trabalho que iniciara na Faculdade de Letras. A Tese prosseguiu os estudos sobre o Algarve económico da Época Moderna; ampliou as leituras de Pierre Vilar, de Albert Silbert e do orientador Vitorino Magalhães Godinho e intitulou-se O Algarve Económico, 1600-1773. Viria a ser publicada na Editorial Estampa em 1988. Um marco da historiografia portuguesa.
Vitorino Magalhães Godinho, figura notável da cultura portuguesa, revolucionou a historiografia, enfrentou os poderes provincianos e o historicismo balofo promovido pelo Estado Novo e viu em Romero Magalhães o seu principal discípulo e herdeiro intelectual.

JRM fez provas de Agregação na FEUC em 1993, apresentando um notável relatório para uma cadeira de História da Europa, a sua oportuna paixão académica desse período.
Alcançou posição de Catedrático em 1994 e jubilou-se em 2012.

Exultante com o desfecho democrático da Revolução de 25 de Abril de 1974 e com a mudança de rumo que Portugal conheceu, JRM foi chamado a participar em decisões públicas de tremenda importância para a transformação da sociedade portuguesa e das instituições.

Portugal conheceu em 1976 uma nova Constituição política. Consolidara-se a Democracia.
Então com 34 anos, JRM deu um contributo decisivo ao país nesta fase da vida nacional, como deputado eleito pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte. Nessa condição, em março de 2016 recebeu o título de Deputado Honorário à Assembleia da República.

Além de deputado, Joaquim Romero Magalhães deu outros notáveis contributos para a causa pública.
Foi Secretário de Estado da Orientação Pedagógica entre 1976 e 1978 no Governo minoritário do Partido Socialista presidido por Mário Soares e cujo Ministro da Educação era Mário Sottomayor Cardia, personalidade que muito admirou.
As qualidades pessoais e académicas de JRM e a sua viva militância socialista fizeram-no ponderar as possibilidades de prosseguir a vida política. Optou, porém, por regressar plenamente à vida académica, mas teve ainda uma intervenção destacada na vida do Município de Coimbra, como Presidente da Assembleia Municipal, entre 1986 e 1998.

Joaquim Antero Romero Magalhães cedo descobriu, na sua adolescência, em Faro, os olhos finos com que observou a sociedade portuguesa, ontem como hoje marcada por vincadas desigualdades sociais e por assimetrias regionais persistentes.
O Algarve deve-lhe uma escala de observação e uma história atenta a essas desigualdades, bem como à geografia económica dos espaços, às estruturas sociais e de poder. Trouxe também um novo olhar relativamente ao papel de regiões periféricas na expansão marítima portuguesa. Outros haviam de seguir o mesmo caminho.

JRM sabia Geografia como poucos e nunca se esqueceu dela como saber aliado da História, mesmo quando muitos começaram a buscar no indefinido horizonte das “Ciências Sociais” um aparato teórico que amiúde resulta na des-historicização da própria História.

JRM tem uma vastíssima bibliografia publicada, que se traduz em análises históricas fecundas. Devemos salientar o volume terceiro da História de Portugal dirigida por José Mattoso, por si coordenado e por muitos considerado o mais equilibrado dos sete volumes desse grande empreendimento editorial.

Facilmente descobrimos na obra de JRM um apurado sentido didáctico e tão provocador como o foram alguns dos intelectuais portugueses republicanos que lia e admirava, e cujas memórias coleccionou.
Muitos dos seus trabalhos destinavam-se a incentivar discípulos e a rasgar novos horizontes. Era um Professor que fazia investigação e que nunca se quis ver na pele de um investigador que aulas não desse, ou que as achasse supérfluas para melhor escrever História.
Os largos milhares de páginas impressas que nos deixa – livros, capítulos de obras coletivas, ensaios e mais de uma centena de artigos – são o testemunho da sua fina prosa, reflectem a sua admirável erudição.
Era um notável historiador de frases curtas e escrita irónica. Conjugava rigor e qualidade literária, mesmo quando descrevia matos, gados ou sardinhas, ou quando interpretava paisagens económicas.

A análise histórica produzida por JRM, sempre preocupada em explicar narrativamente, nunca perdeu de vista as estruturas, as conjunturas, os complexos histórico-geográficos e outras categorias heurísticas difundidas pela Escola dos Annales. No entanto, essas influências nunca se mostraram contraditórias em relação a um estilo muito próprio de quem pensava e escrevia por cabeça própria. Dele nos fica um estilo inconfundível, assente na intuição explicativa do historiador, numa memória invejável e numa cultura imensa.
A história produzida por JRM evidencia um profundo conhecimento das instituições que regulam a vida social, política e económica das populações que estudou ou entreviu nas fontes. 
Alguns desses magníficos trabalhos dispersos, sobre temas tão relevantes para a História Moderna quanto os Concelhos, a Inquisição e a fiscalidade no império do Brasil, encontram-se reunidos no título genérico de Miunças, em quatro volumes publicados recentemente na Imprensa da Universidade, editor que muito prezava e a que destinou outros projectos, já em fase manuscrita.
Comuns a todos os espaços que estudou são os Concelhos, enquanto unidades de base da organização política do Reino, mas também de integração social e económica. Com Joaquim Romero Magalhães, o municipalismo tomou um novo alento e voltou a ser um tema importante para os historiadores da Época Moderna e mesmo da contemporaneidade.

As qualidades e o reconhecimento de historiador que JRM rapidamente alcançou, não o impediram de abraçar funções que dele exigiram decisão equilibrada, bom-senso e algum realismo. Era um reformista que acreditava nas instituições e que nunca as deixou tal como as recebera.

Entre 1985 e 1989 foi Presidente do Conselho Directivo da FEUC, cargo que voltou a exercer entre 1991 e 1993. Foi ainda Presidente do Conselho Científico da mesma Faculdade entre 1989 e 1991.
Devemos ainda salientar o seu papel na coordenação do primeiro gabinete de mobilidade de estudantes no âmbito do programa Erasmus, criado na FEUC em meados de oitenta, cujos horizontes e práticas abriram caminho a uma internacionalização pioneira da Faculdade.

A sua familiaridade com os temas do Brasil-colónia, a colaboração extensa que teve em obras dirigidas por historiadores de renome internacional, beneficiou claramente do papel e das redes que construiu na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, onde assumiu o cargo de Comissário Geral entre 1999 e 2002.
Esta entidade comemorativa, dependente da Presidência do Conselho de Ministros, reforçou claramente o sentido da sua missão durante o comissariado de Joaquim Romero Magalhães.
Coube-lhe dirigir o programa das comemorações do Descobrimento do Brasil, procurando o envolvimento conjunto dos dois países e de outros Estados, nomeadamente das ex-colónias portuguesas.
A tarefa não era fácil. Os projetos comemoracionistas dirigidos por JRM foram um êxito reconhecido por diversos interlocutores nacionais e estrangeiros. Evidência que confirma as qualidades diplomáticas e a reputação académica que construíra, nomeadamente no meio académico e intelectual brasileiro.

A notabilidade da acção de Joaquim Romero Magalhães foi igualmente reconhecida por organismos públicos brasileiros e pelo Estado português, através de um conjunto significativo de distinções honoríficas:
Foi Comendador da Ordem do Mérito Cultural do Brasil desde 1999.
Em 2000, recebeu o grau de Grande Oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul, o mais alto agraciamento do Estado brasileiro a cidadãos estrangeiros.
Obteve ainda a medalha de mérito da Fundação Joaquim Nabuco e foi distinguido como Grande Benemérito do Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro em 2001.
Em 2002, o Estado português reconheceu a dimensão da sua obra académica e cívica, concedendo-lhe a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, uma das ordens nacionais de maior prestígio.

No caminho trilhado como cidadão e historiador, JRM adiou muitas vezes a escrita de um livro, que acabou por ver a luz do dia no momento mais certo. Discorreu sobre a República em Vem aí a República, 1906-1910, dado à estampa em 2009 na Almedina. Sabemos do prazer que a escrita deste livro lhe deu.
O momento histórico da emergência das forças republicanas falava especialmente a Joaquim Romero Magalhães dadas as suas raízes familiares. O seu próprio modelo de cidadania, os valores republicanos que subscrevia, eram uma herança desse período intenso da vida nacional.
O conhecimento histórico e a afinidade cívica que JRM tinha sobre a I República e seus antecedentes, bem como a experiência que tivera na Comissão dos Descobrimentos, foram razões óbvias para a sua integração na Comissão de Projectos para a Comemoração do 1.º Centenário da República Portuguesa, em 2005, e na Comissão Consultiva das Comemorações do Centenário da República, entre 2009 e 2011.

Nunca deixando de ser Professor, a sua reputação de Historiador e de Docente universitário conquistaram um alcance internacional.
JRM leccionou em prestigiadas Universidades estrangeiras.
Foi professor convidado da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (1989 e 1999); da Universidade de São Paulo (1991 e 1997) e da Yale University (2003).

Queridos Colegas, Amigos e Familiares do Professor JRM:
Por todas as razões, e sobretudo pelos nossos sentimentos de enorme admiração e afecto por JRM, creio que devemos lembrar sempre, no nosso trabalho quotidiano, hoje fragmentado em mil tarefas que pouco reflectem a Universidade que ajudou a construir, a obra ímpar e a ética de um grande historiador.
Tal como a história, a Vida é contingente; ganha-se e perde-se. Rapidamente.

Não, não vamos despedir-nos hoje, nem nunca, de Joaquim Romero Magalhães porque o seu exemplo vai perdurar e será por nós seguido e evocado na FEUC, na UC, em numerosas universidades portuguesas espalhadas pelo mundo fora, em Portugal, no Brasil, em Espanha, em França, nos EUA.
Recebi entre ontem e hoje, nestes dias esquisitos em que praticamos muitas convenções, inúmeras mensagens de colegas de diversas universidades, em especial de Lisboa e do Porto, do Brasil e de Espanha. Encontram-se muitas mensagens publicadas nas redes sociais e noutros lugares de escrita e todas as invocações vão no mesmo sentido: era o Mestre, sabia tudo de História, gostávamos muito dele, grande sentido de humor, mesmo quando mal-humorado; quero estar convosco e juntar-me a essa e a outras homenagens, disseram muitos colegas.

Há um claro denominador comum nessas mensagens quentes: o que mais importa é salientar o que JRM nos deixou, agradecer a sua amizade e o saber com que tanto nos enriqueceu.
Não sendo possível nomear todas essas afectuosas invocações, quero destacar o voto de pesar e a sentida homenagem que a Associação Portuguesa de História Económica e Social prestou, no respectivo site, a JRM, através do seu Presidente, Luciano Amaral. Foi salientado aí o seu enorme contributo de JRM como sócio fundador dessa imensa rede de historiadores e economistas criada por Vitorino Magalhães Godinho em 1980 e de cuja primeira Direcção JRM fez parte.

Devemos ao Professor Joaquim Romero Magalhães um elogio à Vida que connosco viveu, ao seu papel inestimável na FEUC, na Universidade de Coimbra, na Universidade Portuguesa, na sociedade portuguesa em geral.
Na cerimónia do doutoramento honoris causa que teve lugar na Universidade do Algarve a 12 de Dezembro, JRM mostrou toda a sua vitalidade intelectual e o brilho invulgar do seu pensamento, apoiado numa vastíssima cultura e num fino recorte literário.
Leu-nos um texto lindíssimo, onde está quase tudo o que melhor o define. Ficámos todos encantados de o ouvir e será essa uma das melhores memórias que connosco guardaremos. Não para a arquivar, mas para fazermos uso dela, dando conta do seu exemplo aos mais novos.

Recentemente também, em Novembro de 2018, a Câmara Municipal de Loulé comemorou os 25 anos da revista Al Ulya anunciando a criação de um prémio de estudos algarvios com o nome de JRM. Sentiu essa honra com justificado orgulho.

Estes últimos reconhecimentos públicos, de grande significado não apenas sentimental, acabaram por religar as diversas escalas do trabalho historiográfico de JRM e da sua própria vida.
JRM era uma grande personalidade académica que alcançou um justíssimo reconhecimento público.
No plano cívico, era um homem interveniente e comprometido com o socialismo democrático e com a ética republicana; acreditava muito na construção europeia e nas suas instituições, inclusivamente na construção paulatina de uma Europa federal.
Acreditava no reformismo, na Razão e nas Instituições democráticas. Tinha uma personalidade emotiva, desassombrada e sempre comprometida com a causa pública. Vamos ter muitas, muitas saudades dele. 

Sabemos todos que gostava muito de Miguel Torga e de José Régio, de Eça e de Aquilino. Mas é do Cancioneiro de Pessoa que lhe quero deixar, em nome de todos nós aqui presentes e de inúmeros amigos que não puderam estar aqui, este Poema:

A morte chega cedo, 
Pois breve é toda a vida 
O instante é o arremedo 
De uma coisa perdida. 

O amor foi começado, 
O ideal não acabou, 
E quem tenha alcançado 
Não sabe o que alcançou. 

E tudo isto a morte 
Risca por não estar certo 
No caderno da sorte 
Que Deus deixou aberto. 

F. Pessoa, Cancioneiro


Muito obrigado.

Coimbra, 26 de Dezembro de 2018
Álvaro Garrido


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