CATÁLOGO/LIVRO: Um Século (Con)Deixas,
Liberdade e Bons Costumes. Colecção Aires B. Henriques | Museu da República e
Maçonaria
AUTOR: Aires B. Henriques;
TEXTOS de: Nuno Moita da Costa | Liliana Marques Pimentel | António Lopes
EDIÇÃO: C. M. de Condeixa, Casa dos
Arcos, POROS, Museu Villa Isaura;
Trata-se aqui do magnifico
Catálogo da Exposição “Um Século (Con)Deixas, Liberdade e Bons Costumes”, que
foi apresentada no passado 5 de Outubro em Condeixa, e que mostra um acervo notável
de peças, livros e documentos de interesse republicano e maçónico, todas pertença
de Aires B. Henriques e do seu Museu da República e da Maçonaria, situado na
Villa Isaura, Troviscais, Pedrogão Grande.
► “Uma palavra prévia
para os organizadores desta exposição: a Câmara Municipal de Condeixa, terra de
tradições de Liberdade, e o Museu Republica e Maçonaria, detentor de uma das
mais belas coleções dedicadas à Maçonaria e à República, na qual se incluem objetos
de raridade assinalável e de comprovado valor histórico e simbólico. Uma
exposição de objetos maçónicos é um ato de cultura por dois motivos principais:
em primeiro lugar por divulgar uma forma de pensamento filosófico e de atitude
cívica que remonta ao período iluminista do século XVIII; em segundo lugar
porque, recorrendo às ideias mestras da Maçonaria, representa um contributo
cívico importante. Soma-se a isto o esclarecimento dado a este assunto,
contribuindo para afastar ideias erradas e mitos, acidentais ou fabricados. Por
isso é, para todos os interessados por este tema, um motivo de satisfação e a
oportunidade de ver objetos que, por norma, estão em recato nas reuniões
maçónicas. Por outro lado, cumulativamente, compreender a Maçonaria significa
compreender alguns factos da História portuguesa, do relacionamento entre os
seus protagonistas ou da influência que a legislação, o ensino ou os costumes
tiveram nos tempos atuais.
Sobre a Maçonaria,
um documento com data de 1931 classifica esta de forma tão curiosa como exata,
referindo que é uma associação diversa de outras associações, que "não é
política porque o seu programa não visa a administração de um Estado; não é uma
organização partidária que vise os interesses de uns, nem pode aliar-se com
este ou aquele partido, com este ou aquele governo, pois de todos os partidos e
de todos os governos ela pode esperar ou receber auxílio; não é uma associação
revolucionária que deseja a revolução violenta, mas sim a revolução da ideia,
pela palavra pela escrita e pelo exempto”. Quer isto dizer que a tradição
maçónica determina que não se discuta política e religião no sentido
comparativo do termo. Mais, valorizando o confronto de ideias e a liberdade de
pensamento, apela à tolerância e à diferença, segundo um método que é o ritual
e um sistema que é o rito, colocando uma particular ênfase na disseminação
desses valeres e na formação de cidadãos livres, participativos no todo social
e conscientes dos seus direitos e deveres.
Ao reunir em
exposição um conjunto de objetos que são usados ritualmente, apresentados segundo
um conceito expositivo acessível, permite-se compreender a sua função e o seu
significado. A sua compreensão remete-nos para o papel do símbolo, recurso da
instrução maçónica, nele se encontrando condensados os valores morais da
Maçonaria ou, por outras palavras, a forma de linguagem usada por ela. Por isso
também não encontramos símbolos exclusivamente maçónicos, mas antes símbolos
com um significado maçónico. Ou seja, símbolos que foram usados pelas
corporações de pedreiros ou pela Igreja, que nesse contexto tinham um dado
significado, que no contexto maçónico têm um significado diferente ou
semelhante. Símbolos que representam uma forma de transmissão apenas acessível
aos iniciados e, entre estes, escalonada segundo o percurso maçónico de cada um.
Por tudo isto poderíamos também afirmar que o simbolismo é a alma da Maçonaria,
onde as lendas evocadas nos remetem para um imaginário com sugestões mais ou
menos claras de ordem moral e filosófica, e é a representação visível de ume
ideia que transcende aquele momento e aquele espaço.
Nem sempre as
decorações e objetos maçónicos tiveram o uso e a exuberância que hoje
conhecemos. Se uns remontam às primeiras práticas maçónicas modernas, outros
datam do século XIX ou ganharam sofisticação a partir de meados desse século,
tornando-se preciosos auxiliares do ritual. Os objetos agora apresentados são
também uma forma de afirmação pessoal e política de vincar um pensamento ou a
dedicação e identificação de ideias e valores. A maior ou menor decoração de um
avental, a virtuosidade do talhe no vidro de um copo ou a beleza decorativa de
um estandarte são formas de demonstrar uma atitude e uma paixão pele Ordem
maçónica.
Os símbolos associados a estes objetos representam uma forma de transmissão apenas acessível aos iniciados e, entre estes, escalonada segundo o percurso maçónico de cada um. Fazendo parte do património cultural da Maçonaria, os objetos aqui apresentados remetem-nos para diversos momentos do ritual ou do funcionamento administrativo das Lojas, falam-nos do papel da Maçonaria na História do país e do papel de cada maçom na vida da sua Loja. Por isso se torna difícil definir o que é a Maçonaria, onde se junta uma componente do sentir individual que é diferente de pessoa para pessoa, com uma dimensão espiritual e filosófica, com uma preocupação intelectual e social. Ao maçom, recém iniciado ou não, cabe então conduzir a sua vida no sentido de lhe conferir o equilibro da Razão e do coração, respeitar a diferença do outro e amar a Liberdade. Deve conhecer-se a si próprio, atribuir significado ao oculto e admitir que há conhecimentos que vão para além do imediato num caminho de permanente aperfeiçoamento. O recurso ao símbolo e aos objetos a ele associados é uma forma de "revelar uma realidade total, inacessível através dos restantes meios de conhecimento”, não esquecendo que eles conservam una raiz primordial de significado que fazem deles um elemento unificador e uma afirmação simultaneamente psicológica e intelectual com caráter distintivo”
Dr. Antonio Lopes, Ex-Director do Museu Maçónico Português e Director da revista "Grémio Lusitano", in Prefácio - sublinhados nossos.
J.M.M.
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