domingo, 14 de março de 2021

A IMPRENSA LIBERAL DO PORTO (BORBOLETA CONSTITUCIONAL E BORBOLETA DURIENSE) E JOÃO NOGUEIRA GANDRA

Periódico fundado e redigido por João Nogueira Gandra, surge na sequência do jornal Borboleta Constitucional, fundado em 12 de Maio de 1821 e que se publica até 31 de Dezembro de 1822 (295 números).

Seguiu-se entretanto a Borboleta dos Campos Constitucionais, que se publicou entre 14 de Maio e 25 de Agosto de 1821 (89 números), portanto houve uma alteração de nome neste período. Posteriormente publicou-se o Borboleta Duriense, entre 2 de Janeiro de 1823 e 30 de Junho de 1823 (144 números).

Por fim, já noutro contexto, mas ainda com o mesmo redactor, vamos ter A Borboleta, que se publicou entre 16 de Julho de 1826 e 5 de Março de 1828 (90 números). Foi neste jornal que pela primeira vez, no Porto, se apresentou uma ilustração xilogravada.



Sobre João Nogueira Gandra:

Nasceu na paróquia de Santo Ildefonso, na cidade do Porto, a 17 de Julho de 1788, e morreu a 5 de Dezembro de 1858. Frequentou, por ter realizado a matrícula na Faculdade de Matemática, na Universidade de Coimbra, em 15 de Outubro de 1806, mas não consta nada mais a partir daí, pelo que se conclui que não continuou os seus estudos. Consta que na sua mocidade pretendera seguir a profissão de medicina, porém contrariedades sobrevindas o impediram de concluir os estudos respetivos. Foi um defensor da ideias liberais na cidade do Porto, onde contribuiu para a divulgação dessas ideias através da publicação de diversos jornais.

Foi membro da Sociedade Patriótica Portuense (1822/1823) e da Sociedade Patriótica Instrutiva da Juventude Portuense (1823). Chegou a ser acusado de pertencer à Maçonaria, mas refutou sempre essa acusação.

Comendador da Ordem de Cristo, Cavaleiro da N. S. da Conceição, condecorado com a medalha n.º 2 da Campanha Peninsular. Foi em 1821 e 1822 redator principal do periódico Borboleta Constitucional, publicado no Porto; e depois em 1833 colaborador da Crónica Constitucional, do Artilheiro, e de outros jornais. Publicou ainda Diário do Porto. Porto: Gandra & Filhos, suplemento ao n.º 1 (16 de janeiro de 1835); n.º 1 (19 de janeiro de 1835) a n.º 128 (11 de julho de 1835).

Na sua tipografia foram impressos pelo menos 9 periódicos portuenses, a que se juntam mais 9 na Gandra & Filhos.

Sobre o início da sua actividade como tipógrafo, no Porto, deve consultar-se aqui, onde consta um requerimento para instalar uma oficina na referida cidade, apresentado em Março de 1821. Consultar AQUI.

Com João António Ribas, em 1828, que compõe a musica para "Il Giubilo Nazionale", tendo por base um texto de João Nogueira Gandra.

Devido ao apoio prestado à causa liberal, foi preso e condenado ao degredo, em 1829, durante o consulado miguelista, tendo sido ordenada a sua saída para Moçambique, segundo ofício do Ministro Assistente ao Despacho e Secretário de Estado da Guerra, Duque do Cadaval, D. Nuno Caetano Alves Pereira de Melo, para o então Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Conde de Basto, José António de Oliveira Leite de Barros.

Dedicou-se à tradução do libreto da ópera Ana Bolena, escrito por Felici Romani, com música de Caetano Donizetti, em 1837. 

Começou por ser 2.º bibliotecário da Biblioteca Pública do Porto e, em 24 de Maio de 1842, por Decreto, passou a 1.º Bibliotecário interino. 

Em 7 de dezembro de 1858, realizou-se o funeral, com responso, à noite, na Igreja do Terço para João Nogueira Gandra, com música oferecida pela orquestra nacional (i.e. italiana) do Teatro S. João, em reconhecimento dos inúmeros serviços prestados pelo sr. Gandra ao teatro, assistindo mais de 400 pessoas, sendo depois conduzido o cadáver ao Prado do Repouso, sendo as honras militares prestadas pela Infantaria n.º 5, porque o finado fora secretário do Governo Militar da província (jornal “O Porto e a Carta”, 9 dez.1858, p. 3 e retificação no dia 10, p. 3).

Conhecem-se ainda, publicados na sua tipografia:

- Hymno Patriotico que se cantou em 24 de Agosto e se ha de cantar na praça da Constiuição. Porto: Imprensa do Gandra,1821.

- Hymno Constitucional cantado no Real Theatro do Porto em Julho de 1826. A Letra he de J.N.Gandra. A Musica he de A.J.Nunes. Porto

- Hymno Imperial-Constitucional da composição do Senhor D. Pedro, em 1822.(Porto): Imprensa do Gandra. 1826

- Hymno dedicado à Senhora Infanta D. Izabel Maria, pela música do Hymno Imperial do Senhor D. Pedro.. Porto:Imprensa do Gandra. 1826

- Hymno à vinda de S.A. o Serenissimo Senhor Infante D. Miguel, para reger estes Reinos (A musica he do Hymno Imperial-Constitucional do Sr. D. Pedro IV (sic).Porto: Imprensa do Gandra.1828.Com licença da Commissão de Censura.

- A APOTHEOSO DOS MARTIRES DA PATRIA. Elogio dramático para se representar no Real Theatro de S. João em 8 de Abril de 1837, por José de Sousa Bandeira. Porto. Imprensa de Gandra e Filhos. 1837. In-8º peq.º de 13 págs. B.

- O ASSEDIO DE CORINTHO. Tragedia Lirica, em 3 actos, em Musica de Joaquim Rossini, para se representar no Real Theatro de S. João na Cidade do Porto. Traducção de João Nogueira Gandra. Porto : Imprensa de Gandra e Filhos. 1837. In-8º peq. de 56 págs. B.

- HUM MEZ DE FERIAS. Drama em quatro actos, representado no R. Theatro de S. João na Cidade do Porto, na noite de 21 de Fevereiro de 1838. Porto. Na Typographia CommercialPortuense. 1838. In-8º de 141-I págs. B.

- MARIA STUART, tragedia lyrica em 4 actos. Musica do Mestre Caetano Donizetti; ‘para se representar do Real Theatro de S. João da Cidade do Porto. Porto : Typographia de Gandra & Filhos. 1842. In-8º peq. de 31 págs. B.

- SAPHO. Tragedia lyrica em três partes, ou actos. Musica do Mestre C. J. Pacini para se representar no R. Theatro de S. João na cidade do Porto. Porto : Typographia de Gandra & Filhos. 1845. In-8º peq. de 61 págs. B.

- A FAVORITA. Melodrama em 4 actos, Musica do Mestre Caetano Donizetti, para se representar no Real Theatro de S. João da Cidade do Porto. Porto : Typographia de Gandra & Filhos. 1843. In-8º peq. de 31 págs. B.

- O JURAMENTO. Melo-Drama em 3 actos; em musica de X. Mercadante. Para se representar no Real Theatro de S. João da Cidade do Porto. Porto : Typographia de Gandra & Filhos. 1846. In-8º peq. de 32 págs. B.

- ATILA. Opera séria em 1 prologo, e 3 actos. Musica do Mestre Verdi, para se representar no R. Theatro de S. João da Cidade do Porto. Porto : Typographia de Gandra & Filhos. 1849. In-8º peq. de 24 págs. B.

- CONRADO D’ALTAMURA. Drama lyrico em 3 actos, Musica do Maestro Frederico Ricci, para se representar no Real Theatro de S. João da Cidade do Porto. Porto. Typographia de J. N. Gandra & Filhos. 1851. In-8º peq. de 16 págs. B.

- LUIZA MILLER, Melodrama trágico em 3 actos, em musica do celebre compositor José Verdi, para se representar no Real Theatro de S. João da Cidade do Porto. Typographia de Gandra & Filhos. 1854. In-8º peq. de 23 págs. B.

- Soneto à primeira actriz contemporanea no theatro portuguez de declamação Emilia das Neves e Sousa, no dia do seu beneficio no R. T. de S. João do Porto em 25 de Março de 1851/ João Nogueira Gandra . - Porto: Typ. Gandra, 1851

- Sonetos ao Marechal de Saldanha recitados no Theatro de S. João do Porto, na occasião da sua despedida em 12 de Maio de 1851/ João Nogueira Gandra . - Porto: [s.n.], 1851

A gravura de João Nogueira Gandra pode ser obtida AQUI.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

- Susana Simões Moncóvio, O CENTRO ARTÍSTICO PORTUENSE (1880-1893). SOCIALIZAÇÃO DO ENSINO, DA HISTÓRIA E DA ARTE MODERNA NO PORTUGAL DE OITOCENTOS, FLUP, 2015.

- Agostinho Araújo, "Pequenas anotaçoes sobre a actividade do tipógrafo e jornalista Joao Nogueira Gandra (1788-1858)", Cadernos do noroeste, ISSN 0870-9874, Vol. 20, Nº 1-2, 2003, págs. 127-146.

Vide ainda: - “Boletim dos Amigos do Porto”, 2015, p. 129-145.

A.A.B.M.


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