domingo, 25 de abril de 2021

QUE VIVA ABRIL! – 25 DE ABRIL SEMPRE!

 


«Contarás de Abril, aos meus filhos, que os meus olhos ardidos, urbanos, ficaram cheios de um ofício de dizer coisas singelas, humildes: como amor, liberdade. Contarás de Abril os idos e os que voltaram, os que ficaram e ficam. Contarás de Abril pequenas pilhas de palavras, armazenadas numa necessidade que inventei; e as nossas almas ledas e limpas: e os braços que se estendem a outros abraços; e a cordialidade de anotarmos um nome, um número, uma flor […]»

[Baptista-Bastos, Venham mais 25, in O Diário, 25 Abril 1990]












REVOLUÇÃO

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação

[Sophia de Mello Breyner Andresen, in O nome das coisas, 1977]

 

«Lá vai o português, diz o mundo, quando diz, apontando umas criaturas carregadas de História que formigam à margem da Europa.

Lá vai o português, lá anda. Dobrado ao peso da História, carregando-a de facto, e que remédio – índias, naufrágios, cruzes de padrão (as mais pesadas). Labuta a côdea do sol-a-sol e já nem sabe se sonha ou se recorda. Mal nasce deixa de ser criança: fica logo com oito séculos […]

Tem pele de árabe, dizem. Olhos de cartógrafo, travo de especiarias. Em matéria de argúcias será judeu, porém não tenaz: paciente apenas. Nos engenhos da fome, oriental. Há mesmo quem lhe descubra qualquer coisa de grego, que é outra criatura de muitíssima História.

Chega-se a perguntar: está vivo? É claro que está: vivo e humilhado de tanto se devorar por dentro. Observado de perto pode até notar-se que escoa um brilho de humor por sob a casca, um riso cruel, de si para si, que lhe serve de distância para resistir e que herdou dos mais heroicos, com Fernão Mendes à cabeça, seu avô de tempestades. Isto porque, lá de quando em quando, abre muito em segredo a casca empedernida e, então sim, vê-se-lhe uma cicatriz mordaz que é o tal humor. Depois fecha-se outra vez no escuro, no olvidado.

Lá anda, é deixá-lo. […]»

[José Cardoso Pires, in E agora José, 1977]

J.M.M. | A.A.B.M.

2 comentários:

Manuel Paula disse...

É só para saudar os Militares de Abril! Lembrar também, com fervor, tantos Portugueses (combatentes da liberdade), que lutaram contra o fascismo, nomeadamente aqueles que passaram pelas prisões do "Estado Novo".

Obrigado "Capitães de Abril", por terem derrubado o fascismo! Ditaduras jamais!
Valeu a pena!A Liberdade é uma referência universal, indicador incontornável, do grau politico e social de uma Nação.

Manuel Paula

Manuel Paula disse...

"Morreu o Capitão de Abril Coronel Arnaldo Costeira"

"A vida é breve a Alma vasta"

Enorme Ser Humano!

Até sempre

Obrigado pela lição de vida!
Manuel Paula