«Contarás de Abril, aos
meus filhos, que os meus olhos ardidos, urbanos, ficaram cheios de um ofício de
dizer coisas singelas, humildes: como amor, liberdade. Contarás de Abril os
idos e os que voltaram, os que ficaram e ficam. Contarás de Abril pequenas
pilhas de palavras, armazenadas numa necessidade que inventei; e as nossas
almas ledas e limpas: e os braços que se estendem a outros abraços; e a
cordialidade de anotarmos um nome, um número, uma flor […]»
[Baptista-Bastos, Venham mais
25, in O Diário, 25 Abril 1990]
REVOLUÇÃO
Como
casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
como
puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como
a voz do mar
Interior de um povo
Como
página em branco
Onde o poema emerge
Como
arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
[Sophia de Mello Breyner Andresen, in O nome das coisas, 1977]
«Lá vai o português, diz o
mundo, quando diz, apontando umas criaturas carregadas de História que formigam
à margem da Europa.
Lá vai o português, lá
anda. Dobrado ao peso da História, carregando-a de facto, e que remédio –
índias, naufrágios, cruzes de padrão (as mais pesadas). Labuta a côdea do
sol-a-sol e já nem sabe se sonha ou se recorda. Mal nasce deixa de ser criança:
fica logo com oito séculos […]
Tem pele de árabe, dizem.
Olhos de cartógrafo, travo de especiarias. Em matéria de argúcias será judeu,
porém não tenaz: paciente apenas. Nos engenhos da fome, oriental. Há mesmo quem
lhe descubra qualquer coisa de grego, que é outra criatura de muitíssima
História.
Chega-se a perguntar: está
vivo? É claro que está: vivo e humilhado de tanto se devorar por dentro.
Observado de perto pode até notar-se que escoa um brilho de humor por sob a
casca, um riso cruel, de si para si, que lhe serve de distância para resistir e
que herdou dos mais heroicos, com Fernão Mendes à cabeça, seu avô de
tempestades. Isto porque, lá de quando em quando, abre muito em segredo a casca
empedernida e, então sim, vê-se-lhe uma cicatriz mordaz que é o tal humor.
Depois fecha-se outra vez no escuro, no olvidado.
Lá anda, é deixá-lo. […]»
[José Cardoso Pires, in E agora José, 1977]
2 comentários:
É só para saudar os Militares de Abril! Lembrar também, com fervor, tantos Portugueses (combatentes da liberdade), que lutaram contra o fascismo, nomeadamente aqueles que passaram pelas prisões do "Estado Novo".
Obrigado "Capitães de Abril", por terem derrubado o fascismo! Ditaduras jamais!
Valeu a pena!A Liberdade é uma referência universal, indicador incontornável, do grau politico e social de uma Nação.
Manuel Paula
"Morreu o Capitão de Abril Coronel Arnaldo Costeira"
"A vida é breve a Alma vasta"
Enorme Ser Humano!
Até sempre
Obrigado pela lição de vida!
Manuel Paula
Enviar um comentário