LIVRO: O Nascimento do Jornalismo Português Livre. O jornalismo luso-brasileiro em Londres (1808-1822);
AUTOR: Luís Francisco Munaro
EDIÇÃO: Lema d´Origem, Março de 2022.
NOTA: Baseia-se esta edição (2.º
ed.) na muito importante tese de doutoramento em História (Universidade
Fluminense) de Luís Francisco Munaro. Apresenta um prefácio do professor
Guilherme Pereira das Neves.
LANÇAMENTO:
DIA:
6 de Junho 2022 (18,00 horas);
LOCAL: Casa da Cultura (Rua Pedro
Monteiro, Coimbra);
ORADORES: Prof.ª Isabel Nobre
Vargues | Prof.ª Adelaide Machado | Prof.º Vital Moreira | Prof.º Luís Reis
Torgal;
ORGANIZAÇÃO:
Lema d’Origem, Comissão Liberato, União das Freguesias de S. Martinho e Ribeira de Frades
► “… Este é um
trabalho sobre identidade, uma investigação sobre determinados indivíduos a
partir dos vestígios escritos daquilo que viveram, levando em conta que o
jornalismo constituiu uma parte fundamental da trama de suas vidas. Visto como
herói ou como vilão pela historiografia nacional, Hipólito da Costa inaugurou a produção periódica portuguesa livre
da censura. Ao longo de quatorze anos, nos quais viu a arquitetura do Reino
luso-brasileiro se retransformar radicalmente, manteve firme o propósito de
levar a cabo uma publicação para instruir o público brasileiro. Nada mais
ilustrativo, portanto, do que começar e terminar a narrativa com ele, chamado
por João Bernardo da Rocha Loureiro
de "patriarca" da imprensa portuguesa, ou por Joaquim de Freitas de
"Adão" da terra dos periódicos.
Tanto quanto seus colegas portugueses, Hipólito precisou reiventar-se e
reinventar a sua escrita para alcançar setores cada vez mais inquietos da população.
Entre 1808 e 1822, tempo em que durou o Correio Braziliense, os jornalistas
portugueses buscavam inserir a razão iluminista no mundo ibérico ainda
governado pelas tradições e pela política do Antigo Regime. Mesmo que
mergulhado nesse universo de etiquetas e devoção à Casa Monárquica, Hipólito se envolveu precocemente com a
República norte-americana, conheceu o modo de funcionamento dos jornais na
Filadélfia e, depois, em Londres, misturou-se aos negociantes que buscavam
interagir mais livremente com o mundo britânico. O Correio serve, assim,
como um veículo privilegiado para a compreensão da difícil transição do reino
que queria incorporar, da forma menos traumática possível, as Luzes de que
tanto falavam os philosophes.
Tarefa ingrata, como se perceberá.
Tarefa, ademais, impossível de ser com-preendida em sua real dimensão sem que
conheçamos mais profundamente a comunidade em que Hipólito estava inserido, seu círculo de interlocutores, sua
necessidade de rebater escritos que pregavam a subserviência do Brasil a
Portugal ou que panfletavam a causa republicana. Com a firme convicção de que
essa produção que estabeleceu as bases do jornalismo lusófono não pode ser
entendida isoladamente, buscamos estender a análise para o circuito de
interações que envolvia vários jornais publicados no exterior. Jornais tão diversos
como O
Português, O Espelho, O Campeão, O Investigador, O
Microscópio de Verdades, O Padre Amaro, Argus, Zurrague
e o efemero Navalha de Figaró, publicados no espaço que vai da invasão de
Napoleão na península ibérica até a proclamação da independencia brasileira.
Cada um desses periódicos possui uma identidade
que pode ser determinada a partir do conflito criado com os outros. Cada um
desses busca criar uma forma particular de se relacionar com o pensamento das
Luzes, tornando-o adequado às idiossincrasias intelectuais do reino
luso-brasileiro […]
Estes jornais publicados em Londres para
o público lusófono, ao serem consumidos, davam aos seus leitores a segurança de
estarem sendo lidos concomitantemente por vários indivíduos semelhantes a eles
e diferentes dos outros. Eles geravam a possibilidade de criar vínculos
imaginados, espaços de fraternidade e discussão intelectual até então
impossíveis em Portugal e Brasil. Portanto, criaram um canal de difusão de
ideias que ajudou a expandir as sociabilidades portuguesas e garantir alguma
variedade nas formas de imaginar o Reino luso-brasileiro. Sobretudo, entre
estes jornais, existe uma apreensão que gira em torno dos planos e projetos
relativos à sede do Reino luso-brasileiro. Se, na utopia mais cara à época, o
reino deveria abrigar os portugueses em ambos os lados do Atlântico, a demora
do rei no Brasil gerava um clima de desconforto e orfandade entre os
portugueses.
Para Hipólito da Costa, o Brasil também surgia como uma espécie de utopia, um projecto de governo ideal deslocado do tempo e espaço europeus, sugerindo a possibilidade de realização da história portuguesa em sua maior pureza […]
[Luís Francisco Munaro, in Introdução, pp. 17 e ss]
J.M.M.
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