No século XIX, alguns intelectuais portugueses entendiam a modernização, o progresso como uma necessidade de Regeneração para podermos alcançar o desenvolvimento económico e social que se registava em países como a Grã-Bretanha.
Herculano, nos seus Opúsculos, tomo I, Livraria Bertrand, 1983, p. 338, afirmava:
"O progresso material dos povos deve acompanhar e ser consequência da sua regeneração moral. É nos países da liberdade e das garantias que tem tido sempre lugar a iniciativa das reformas económicas que têm activado a prosperidade social. Caminhos de ferro, melhoramentos materiais, aperfeiçoamentos de toda a indústria, queremo-los e devemo-los exigir dos governos morais e justos, e não comprá-los aos adelos e charlatães políticos, à custa do sacrifício das nossas liberdades e direitos".
Este texto publicado originalmente no jornal O Português, 13-04-1853, nº 3, manifesta ainda hoje a sua actualidade, quando nos confrontamos com os discursos que os nossos políticos nos apresentam sobre o problema da modernização em Portugal.
Mais tarde, já nos finais do século XIX, Joaquim Pedro de Oliveira Martins afirmava sobre o problema das dificuldades económicas do país no jornal O Repórter (04-05-1888), num artigo intitulado "A política dos negócios":
"Enquanto nas cabeças de nossas avós e nossos pais havia o nevoeiro de quimeras jacobinas que acendiam a voz de José Estevão, a coragem de Passos Manuel e o estoicismo de Sá da Bandeira, a besta que vive no fundo de todos nós tinha um açaimo mais ou menos eficaz.
Varreu-se o nevoeiro, desafivelou-se a correia, e eis-nos aos pulos, a morder como cães danados por uma raiva, contra a qual ainda se não inventou Pasteur.
Este estado de crise, esperemos por Deus que seja passageiro. Quando tudo estiver mordido, babado, a escorrer sangue, é natural que, pela força das coisas, e pelas urgências da conservação da própria pele, assente a nu sobre os ossos, entremos no bom caminho".
Este juizo critico de Oliveira Martins é um pouco a esperança que move hoje a sociedade portuguesa. Atingidos pela descrença e pessimismo sobre o nosso futuro, parece que chegamos a um ponto sem retrocesso. Já não há os salvadores como no passado, as circunstâncias estão de tal forma complicadas que só nos resta entrar no bom caminho, mas acrescento como Alexandre Herculano, "à custa do sacrifício das nossas liberdades e direitos". Terá mesmo que ser assim????
AABM
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