Norton de Matos: nota breve – Parte I
José Mendes Ribeiro Norton de Matos nasce em Ponte de Lima a 3 de Março de 1867. Filho de Tomás Mendes Norton (comerciante e cônsul da Inglaterra em Viana) e de Emília de Matos Prego e Sousa. Seu pai, Tomás Mendes Norton, teve como padrinho de baptismo Rodrigo da Fonseca Magalhães, o que de algum modo parece ter tido marcada influência para que a casa de Viana (a "casa amarela" do pai de Norton de Matos, que foi um refúgio, na época, para quem fugia da violência “cabralista” e da qual Norton de Matos nos conta curiosos acontecimentos) fosse o "baluarte da Regeneração naquela terra minhota" [Norton de Matos, in Memórias e Trabalhos da Minha Vida, Vol. I, 1944].
Seu avô paterno [José Mendes Ribeiro, 1802-1887] pertencia à "burguesia" de Viana do Castelo, foi perseguido pelas suas ideias liberais e, ao que se sabe, foi iniciado na maçonaria.
[de Ponte de Lima?; de Viana do Castelo? cf. Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, vol III, 1997. Como foi dito aqui anteriormente, em nota de comentário, é referido por Oliveira Marques a existência de uma loja do Oriente Passos Manuel, ou Maçonaria do Norte ou do Porto, no período 1834 e 1849. De outro modo, a importante entrada sobre Maçonaria na Enciclopédia das Enciclopédia, sob direcção de Fernandes Costa e ed. de Henrique Zeferino de Albuquerque, 1884 – e de que um dia falaremos mais em pormenor – regista que em 1843 alguma lojas da Maçonaria sob o malhete de Passos Manuel – de que há informação escassa - se encontravam "adormecidas", como seria o caso da Loja de Ponte de Lima. Há também informação sobre o assunto via Rita M. Norton de Matos, "A família Norton de Matos" (p. 20) e pelo próprio Norton de Matos, na obra que citamos ]
O seu avô materno Manuel José Matos Prego e Sousa, formado em Direito em Coimbra, era "fervoroso adepto das ideias liberais" [cf. Matos, 1944].
Norton de Matos faz os seus estudos no Colégio do Espírito Santo e, posteriormente, entra como interno para a Escola Académica (na Calçada do Duque), onde acaba os "preparatórios" no verão de 1884. Em seguida matricula-se no Curso de Matemática, na Universidade de Coimbra, que acaba em 1888. Refere o próprio Norton de Matos (ob.cit.) alguns estados de alma da Academia, bem certas peripécias passadas como estudante. Nomeadamente, será curioso salientar uma sua "chamada à lição" de Economia Política, que era cadeira obrigatória do Curso de Matemática, sob o tema "Produção de Riqueza", em que cita abundantemente Proudhon (que considera de grande influencia sobre ele) e Karl Marx. Diz-nos, sobre o episódio da "lição", e transcrevemos: "Mal sabe muita gente que foi esta talvez a primeira vez que se fez em Portugal uma conferencia marxista".
Depois do obter o bacharelato em Matemática, faz as cadeiras de Filosofia para poder ingressar no Curso de Estudos Militares Superiores, onde se matricula em Outubro de 1988. Acabado o curso em 1890, "faz o tirocínio de três anos nas três armas de infantaria, cavalaria e artilharia". Tendo escolhido Cavalaria, é colocado em Cavalaria 4 (em Belém), como alferes, de onde parte para a Índia (1898).
[a continuar]
J.M.M.
1 comentário:
"...será curioso salientar uma sua "chamada à lição" de Economia Política, que era cadeira obrigatória do Curso de Matemática, sob o tema "Produção de Riqueza", em que cita abundantemente Proudhon (que considera de grande influencia sobre ele) e Karl Marx". - Isto é algo que eu completamente desconhecia. Com efeito, Proudhon influenciou numerosos intelectuais portugueses da chamada "geração de setenta" do século XIX, principalmente Antero de Quental e Eça de Queirós, bem patente nas suas "farpas" compiladas no livro "Uma Campanha Alegre", o qual ele próprio prefaciou e aludiu à influência sobre si exercida pelo grande filósofo anarquista.
Mas, em relaçao a Norton de Mattos e ainda, além de Proudhon, Karl Marx, é para mim uma verdadeira surpresa que só vem comprovar que eu nada sei!
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