quarta-feira, 12 de setembro de 2007

FERNÃO BOTTO MACHADO: NOTA BREVE - PARTE III


Autodidacta, solicitador, participante na sublevação do 5 de Outubro de 1910

[tinha como missão, segundo os planos feitos pela "Comissão de Resistência da Maçonaria" (formada a partir de uma reunião no Grémio Lusitano a 14 de Junho de 1910, composta por José de Castro, Simões Raposo, Cordeiro Júnior, Francisco Grandella, Miguel Bombarda e Machado Santos) para “o grupo civil” revolucionário, "sublevar” Sacavém e Camarate e acabou “tomando posições contra o avanço das baterias de Santarém" – cf. A Revolução Portugueza Relatório de Machado Santos, Tip. Liberty, Lisboa, 1911, aliás ed. facsimilada da Arquimedes Livros, 2007]

deputado, diplomata e jornalista, Fernão Botto Machado teve (como se disse já) uma actividade social e política intensa.

No campo político, além do seu activo trabalho na Constituinte de 1911 (referido já), participa (como delegado) no Congresso do Partido Republicano (1895), apoia o GRES (como foi referido aqui), participa no Congresso Internacional do Livre Pensamento (Roma, 1904), integra a Comissão do II Centenário de António José da Silva (1905), participa nas Comemorações do Quinquagenário de Theofilo Braga (1906), no Congresso Nacional do Livre Pensamento (Lisboa, Abril de 1908), participa com moções no Congresso Maçónico de 1924, em Lisboa e no I Congresso Feminista e da Educação, também em 1924, em Santarém.

Botto Machado dirigiu e colaborou em inúmeros jornais. Já se falou, aqui, da sua participação no "O Mundo Legal e Judiciário". Mas colaborou n'A Folha do Povo (nº1, Agosto de 1881), na Vanguarda [o jornal de Gomes da Silva, A Vanguarda, surge em Lisboa. No período entre 1896-1903 é dirigido por Sebastião Magalhães Lima e depois por Botto Machado]. Colabora, ainda, n'O Mundo, A Humanidade [folha mensal cooperativista, da qual foi director. Ano I, nº1 (Maio 1907) ao nº3 (Julho 1907)], no Trabalho (Gouveia, nº 1, 3 de Março de 1899) e Solidariedade (Gouveia, nº 1 28 de Abril de 1907, direcção de Armando Rebelo). Escreve nos jornais A Batalha e O Germinal [do centro de Propaganda Livre de Setúbal, tendência anarquista. Propr. Martins dos Santos; Adm: José Gago da Silva. 1903-1913], no "Paiz", "O Debate", no "Século".

Na carreira diplomática, é indigitado Ministro na República na Argentina (1912), mas não tendo sido possível ocupar o cargo foi nomeado Cônsul Geral no Rio de Janeiro (1912). Aqui, dirimiu polémicas e desavenças presentes no Grémio Republicano Português do Rio de Janeiro [vidé a propósito, Carvalho Neves, No Brasil. As minha divergências com os Republicanos Portuguezes do Rio de Janeiro, Impr. Africana, de António Tibério de Carvalho, Lisboa, 1912]. Nomeado Ministro junto das repúblicas da América Central, Botto Machado chefia em 1913 a delegação portuguesa no Panamá, viaja em trabalho para a Venezuela (1915) onde permanece, regressando depois a Portugal. Parte para o Japão (1919) onde realiza um trabalho notável em prol do seu país [funda escolas, bibliotecas, apoia o comercio português], regressando com frequência a Portugal por motivos de saúde.

Pertenceu ao Grémio Lusitano (como aqui se disse), fez parte da Junta Federal do Livre Pensamento, da Associação Propagadora da Lei do Registo Civil, era membro do Congresso Permanente da Humanidade, da Sociedade Académica de História Internacional. Fazia parte da Sociedade Instrução e Beneficência "A Voz do Operário" [a quem doou por testamento a sua "riquíssima biblioteca"], pertenceu à Associação dos Jornalistas de Lisboa, à Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, à Associação do Foro Português, à Sociedade de Geografia, à Liga Naval. Foi agraciado com as comendas da Ordem de Cristo, Sol Nascente e Legião de Honra [cf. Gr. Enc. Port-Bras]. Está representado no Archivo Republicano [sucedâneo do Archivo Democrático] e no Álbum Republicano [de J. Ramos e Luís Derouet, 1908]. Em 1905 foi inaugurado um centro Republicano com o seu nome [na rua do Paraíso, nº1] que se manteve durante o Estado Novo.

Morre a 3 de Novembro de 1924, na Quinta do Encanto, e o seu funeral foi largamente participado por ex-presidentes da República, associações, partidos político e uma "multidão anónima", conforme nos é dito pelos jornais da época.

[a continuar]

J.M.M.

2 comentários:

pedro rodrigues disse...

Gostaria de confirmar se o Centro Escolar Republicano Fernão Botto MAchado foi inaugurado em 1905 0u 1906, dado que existem estas duas informações no Almanaque Republicano. A informação de 1906, diz que foi a 20 de Julho de 1906.

Pedro Rodrigues
933709070

Anónimo disse...

Caro Pedro

Tendo colocado as suas dúvidas, vamos ver se conseguimos encontrar soluções para elas.
Primeiro: a questão da bandeira. Algumas referências bibliográficas apontam nesse sentido, no entanto será talvez melhor consultar fontes na imprensa da época que o possam esclarecer (Consultar O Mundo ou A Luta e tentar descobrir se a informação se confirma). Porque, por vezes, algumas informações não são correctas porque as fontes que utilizamos contêm erros, com que todos já fomos confrontados. O problema maior reside muitas vezes em conseguir saber se o erro é involuntário ou pretende alterar os factos. Por isso é que é importante novas leituras sobre os mesmos factos para se encontrar algo que se aproxime da verdade.

Segundo ponto: a data da inauguração do Centro Botto Machado. Vou ter que consultar bibliografia e fontes para lhe responder com maior segurança, pode ter havido um lapso nosso que é necessário confirmar.

De qualquer forma o nosso agradecimento pelos seus comentários/dúvidas. Provavelmente hoje à noite ou amanhã à noite terá mais novidades.

A.A.B.M.